Sunday, July 08, 2007

A Casa

Essa menina vivia numa casa antiga, daquelas grandes com muitos quartos, salas e outras divisões. Uma casa enorme, de estilo senhorial, rodeada de frondosos jardins, com arbustos labirinticos e fontes que jorravam água dia e noite.
As paredes altas sustentavam tectos de gesso decorados com frescos idílicos, anjos sentados em nuvens e olhar indefinido, como que vivendo num eterno sonho. O chão de madeira maciça, mantinha-se sólido, bonito e imponente.
Costumava passar as tardes a percorrer os corredores, abrindo as portas e espreitando aqui e ali, com a esperança de a cada vez desvendar um novo segredo. Vivia um pouco as histórias de mistério que o seu avô lhe havia contado, sobre passagens secretas, portas invisiveis e estantes de biblioteca móveis que davam acesso a outros mundos.
Entre as inumeras portas que existiam naquela casa, havia uma em particular que desde sempre tinha sido proibido abrir. A menina não sabia bem porquê, mas tinha qualquer coisa a ver com um perigo oculto. Desde sempre lhe haviam dito para não abrir aquela porta antiquissima, talvez a mais antiga da casa, sem lhe darem uma explicação concreta mas sempre aludindo às consequências nefastas que adviriam do incumprimento daquela ordem, a qual a menina sempre se comprometeu a cumprir.
Por várias vezes tinha questionado o que existia por detrás dela, mas o assunto sempre havia sido desviado com grande subtileza e facilmente substituído por outras histórias de fantasia e alegria.
E até hoje, sem saber muito bem porquê, nunca essa porta foi aberta e continua incognito o que ela guarda...

Thursday, July 05, 2007

Conversa de Café

Há uns dias cruzei-me com uma amiga que conheci está a fazer um ano. Como tinhamos algum tempo livre, acabámos por ir tomar um café numa esplanada.
O dia estava esplendoroso, com um sol magnífico e uma temperatura amena. Esse calorzinho de princípio de manhã, com cheiro a feno e flores, acompanhou o desfiar da conversa que se desenrolou ao lado de uma bica escaldada (a minha) e uma água tónica (a dela).
Abordámos os assuntos mais diversos e, sem um fio condutor muito claro, falámos de carreiras, dos sitios onde estamos a trabalhar, das ultimas novidades dos amigos...enfim, a conversa normal de duas pessoas que não têm tido oportunidade de se manterem actualizadas.
Acabámos, como não podia deixar de ser, por falar também de namorados(as), tema que veio à baila quando lhe perguntei pelo dela, o felizardo meu amigo que em tempos a tinha conseguido conquistar.
Contou-me, então, que as coisas não andavam muito bem entre os dois. Ao que parece, ele padecia de algumas inseguranças (infundadas, diga-se) que tornavam a sua companhia um risco sério para o divertimento. Não o fazia por mal, mas o facto é que, ao fim e ao cabo, o calhau com olhos fazia tanta questão de ser especial para a namorada que os momentos que lhe proporcionava se tornavam momentos de grande tensão, tal era o desejo de perfeição. Um pouco mais grave era a tendência para amuar, quer fosse por as coisas não correrem como ele havia previsto, quer fosse por surgir um(a) amigo(a) inesperado (dele ou dela tanto fazia), quer fosse por qualquer outro motivo.
Uma outra questão prendia-se com o tempo e atenção que ele lhe exigia e, ainda que pudesse ter alguma razão porque tinham poucos momentos a sós (demos-lhe o benefício da duvida...?!?!?), o que é certo é que o caramelo muitas vezes se tornava incompreensivo com o estado de espírito da minha amiga. Ou seja, basicamente o "pobre coitado" nem sempre discernia que as pessoas não estão constantemente para aí viradas. Sobretudo, pessoas como essa minha amiga cuja atenção é constantemente sugada por outras pessoas que fazem parte da vida dela.
Resumindo, o bronco tinha acessos de egoísmo e algum egocentrismo ao ponto de coisas que preparava com o intuito de a resgatar da rotina diária de repente se terem que transformar em motivo para atenções redobradas por parte da namorada.
Quando nos despedimos disse-lhe para ter calma (ele até nem é mau rapaz...só um bocado troll) e ao dobrar a esquina marquei uma lembrança no telemóvel para combinar um café com ele e abrir-lhe os olhos.