Wednesday, March 16, 2011

One hour...

Ontem, vi um episódio de Anatomia de Grey no qual um paciente que se queixa de dores no peito é submetido a uma série de exames, nomeadamente RX e ECG, que indicam estar tudo normal. Durante uma TAC, entra em paragem cardíaca e é levado de urgência para o Bloco Operatório, pois tinha as artérias coronárias praticamente desfeitas. Morre. Tudo isto acontece no espaço de uma hora. Como, aliás, todos os casos neste episódio pretendiam retratar como a nossa vida pode mudar tão drásticamente no espaço de uma hora.
No final, dei por mim a consciencializar-me como de facto a vida é tão frágil e o futuro tão incerto. Não sabemos o que vai acontecer no próximo minuto, nem sequer se cá estaremos. Nâo é uma perspectiva mórbida nem deprimente; antes pelo contrário, demonstra-me quão disparatados são alguns medos e receios, hesitações em arriscar, pensando que poderei não saber , ou não ter força ou capacidade para lidar com o resultado, seja ele qual for...mas a verdade é que este receio existe. E não me sinto, neste momento, com coragem de fechar os olhos, atirar-me de cabeça e viver com o que vier.
Não quero conselhos, nem manifestações de apoio e muito menos que me incentivem a fazê-lo. Não espero sequer que me compreendam. Quero apenas que me escutem e que me aceitem.

"E isto vem na sequência do fascínio que começo a sentir (talvez melhor, a alimentar) por ti Catarina. Olho para ti e, muito sinceramente, vejo alguém forte, determinado e perseverante. A imagem de lutadora bem coerente com essa arte que tanto amas.
Bem sei que não és mais nem menos ser humano que qualquer outra pessoa, mas não posso deixar de me sentir nitidamente intrigado com a atitude tão defensiva que tens para com as pessoas. Talvez esta ideia esteja condicionada pela descrição que me foi feita de ti, mas não posso deixar de reparar como de facto é visivel e notória a distância que manténs entre ti e os restantes. Estou consciente que nunca estive contigo no teu circulo de amigos e que talvez aí sejas diferente. Percebo que profissionalmente tenhas que ter alguns cuidados com a tua postura e maneira de estar, o que até admiro. Mas pareces estar sempre à espera de que uma situação de luta esteja para surgir.
Foi, para mim, bastante óbvia a tua alteração de humores no sábado passado. Tão depressa parecias estar bem disposta como a seguir franzias a testa e te fechavas no teu mundo, Nem sequer olhaste nos olhos para as pessoas quando te despediste delas. Parecias estar arrependida por teres baixado a guarda, como se alguém te tivesse magoado ou ferido quando o fizeste.
Talvez seja por esta tua postura, real ou produto da minha imaginação, que eu tenha tanto receio de tentar aproximar-me de ti. Não te conheço, não sei a tua história, portanto não te posso compreender. Mas aceito que tenhas as tuas razões. Gostava de te conhecer melhor, de poder ver o teu outro lado, em circunstâncias diferentes...muito mesmo. Mas assim será dificil."

Catarina ou o sabor da maçã


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Tuesday, February 15, 2011

Não quero deixar de ser gente...

Pouco temos de facto a perder na vida...quando perdemos o respeito pelos outros...quando perdemos o respeito por nós próprios. Este é o primeiro passo para deixarmos de ser gente.

Ignorarmos quem está à nossa volta, pensarmos que temos direito a tudo e a fazer tudo, que não precisamos de nada nem de ninguém. Acharmos que somos auto-suficientes, independentes, unicos e exclusivos. Julgarmo-nos super-homens e super-mulheres, invencíveis e imbatíveis.

Orgulhosos, merecedores de tudo e devedores de nada. Acreditarmos que o mundo e todos à nossa volta têm apenas obrigações para connosco, sem direito a receber nada de nós, e que o simples facto de os deixarmos viver as suas vidas é a maior dádiva que lhes podemos proporcionar.

Pensarmos que temos todo o direito de ser inconscientes, inconsequentes e irresponsáveis...pois, quem são os outros para nos exigir o contrário? Recebermos sem obrigação de retribuir, esperar tudo sem oferecer nada. Desprezarmos a consideração que nos merecem, pelo simples facto de serem nossos amigos, de estarem sempre lá quando é mais preciso, sem reclamar nem fazer perguntas.

Incapazes de apreciar a raridade dos gestos mais simples, mais desinteressados, mais espontâneos. Tornarmo-nos frios, inacessíveis e insensíveis como rochas...calhaus, mas com olhos. Quando deixamos de ser humildes, indulgentes e..humanos. Quando permitimos que a nossa mesquinhez nos impeça de deixarmos de olhar para o nosso umbigo para olharmos para o dos outros. Quando temos a arrogância de achar que os outros não têm o direito de esperar o que quer que seja de nós.

Eu? Eu não quero deixar de ser gente...e tu??

Wednesday, December 29, 2010

Lembro-me...

Lembro-me de um tempo em que o conforto do meu abraço era precioso, em que era um pilar para uma vida, em que fui porto de abrigo onde se escondia da tempestade...lembro-me com uma saudade boa, pois sei que sou eu assim...reconheço-me aí e sê-lo traz-me felicidade...

Thursday, November 18, 2010

Uma história... (cont. 16)

A vida é como construir um castelo de cartas. Vamos encostando umas ás outras, amontoando-as umas em cima das outras, equilibrando-as todas. Ás vezes, basta um pequeno abanar da mesa, um fôlego de respiração mais forte, uma mão mais desajeitada ou um gesto mal intencionado de alguém que passa, para as deitar todas abaixo...e recomeçamos. Uma a seguir à outra, uma apoiando a outra, duas suportanto uma terceira. E se me pedires um conselho? Cola-lhes os cantos...e não queiras construir o castelo com uma carta só.

"Viver não custa. O que custa é saber viver..."

Monday, November 01, 2010

Uma história... (cont. 15)

Há alturas na nossa vida em que sentimos que algo mais, além de nós, tem a capacidade de conduzir a nossa vida, para trás ou para a frente. São momentos em que nos vemos confrontados com alguma espécie de existência paralela, como se estivessemos no meio do mar, dentro de água, e sentissemos a força da corrente que nos puxa ou empurra.
Se entendermos que muitas vezes essa corrente tem bastante mais força do que nós, e que debatermo-nos contra ela só nos fará cansar e desgastar (desnecessariamente), é provável que cheguemos à conclusão de que nem sempre tudo depende de nós e que se estamos a ir contra a corrente é bem possível que estejamos a agir contra nós mesmos. Vivemos para nos tornarmos melhores enquanto seres humanos, para crescermos e aprendermos, e se a vida é para isso mesmo temos que compreender que tudo o que acontece à nossa volta nos conduz nesse sentido.
Tudo acontece por alguma razão e com um objectivo determinado, mesmo que não tenhamos consciência disso ou que não compreendamos essa razão. Nada é puramente casual, coincidente ou despropositado. Os acontecimentos são como as formigas numa colónia...cada uma tem uma função bem definida, com um objectivo bem determinado, e todas em conjunto interagem contribuindo para o bem comum.
Tudo na vida tem um propósito...

Sunday, October 31, 2010

Uma história... (cont. 14)

Por aquela altura, Nahn e Ahmad já se falavam com regularidade. Naquela noite de Setembro, como em outras anteriores, Ahmad percebia pela conversa que estava a ter com Nahn, quão triste ela se sentia. Não que desabafasse explicitamente, com detalhes e pormenores, mas era visivel a melancolia que sentia. Ahmad não sonhava sequer com o que motivava o estado de espirito de Nahn, nem sabia da sua vida...apenas sentia a tristeza em Nahn e tinha com ela uma empatia inexplicável.
A conversa foi-se desenrolando e o interesse de ambos aumentava a cada palavra. Ahmad sentia apenas uma enorme vontade de animar Nahn, de a fazer ficar feliz, e Nahn parecia estar a alimentar-se dessa força que Ahmad lhe transmitia, como se precisasse que alguém lhe mostrasse um raio de esperança. Nahn era um pequeno barco prestes a naufragar e Ahmad parecia-lhe o porto de abrigo que a poderia salvar...
Ao saber que Nahn não havia sido convidada para a celebração da vindima, e acreditando que uma festa era o que ela precisava para desanuviar a cabeça, Ahmad não esperou e convidou-a para ir consigo. Nahn não se fez rogada e logo aceitou o convite, enchendo-se de esperanças de que uma noite entre amigos e repleta de diversão fosse a resposta ás suas preces. Nahn estava entusiasmada, Ahmad estava feliz e tudo parecia convergir para um momento unico.
Mal sabia Ahmad, a importância deste momento e como iria ser marcante e decisivo na sua vida...e, quem sabe, na de Nahn também.

Monday, October 25, 2010

Uma história... (cont. 13)

Só a voz de Amoni os acordou do seu transe. Ressoando por três vezes, fez estremecer as paredes e deixou Nahn e Ahmad embaraçados. Amoni tratou logo de os apresentar, algo que pareceu completamente descabido e desnecessário...naqueles minutos em que o tempo parou enquanto se olhavam, ambos leram as suas histórias nos olhos um do outro.
Nem um nem outro sabiam explicar muito bem o que tinha acontecido...apenas sentiram que algo de diferente havia no mundo...algo de muito especial os havia ligado naquele momento, e não ficaria por ali. Como se de repente todas as rodas de uma engrenagem gigante tivessem sido postas em movimento.
Amoni conhecia Nahn há já alguns anos, mas nunca lhe passara pela cabeça proporcionar que ambos se conhecessem, não só porque na sua ideia nunca se lembrou mas também porque Nahn não estava sozinha. Mas a vida tem formas misteriosas de se desenrolar e tudo se sucedeu da forma mais espontânea e inesperada possível.
Apesar de se terem conhecido e de se cruzarem ocasionalmente, os seus encontros nunca passaram de momentos casuais e efémeros. Todavia, a ligação que os uniu a partir daquele instante determinou que a pouco e pouco se fossem conhecendo e a curiosidade de se conhecerem ainda melhor fosse aumentando.
Por ocasião da festa das colheitas, todos andavam atarefados com os preparativos e um acontecimento especial viria a ter lugar para celebrar uma vindima em particular. Amoni ficou encarregue de organizar o evento e, entre muitos outros, também Ahmad foi convidado.
Nos ultimos tempos, Nahn estava a atravessar uma fase menos boa da sua vida, sentindo-se triste e, invariavelmente, sem saber porquê. Andava desanimada e desalentada, sentia-se desmotivada com o trabalho e não tinha sequer vontade de sair de casa. Sentia-se só e a unica vontade que tinha era de isolar-se. Somente esperava que os dias se passassem, uns a seguir aos outros.
Mas a vida tem a incessante capacidade de nos supreender...e é quando menos acreditamos nisso, precisamente quando menos esperamos, que a magia surge e nos maravilha, como a uma criança diante de uma joaninha pela primeira vez.