Sunday, October 29, 2006

Esses dias

Debruçado sobre o parapeito do murete que separa a rua do rio, olho essa folha de plátano que vai deslizando na corrente. E em momentos penso na tranquilidade da sua vida, somente deixando-se viver, alimentada pela árvore onde vivia e cuja unica agitação que sofria era a do vento que a embalava à noite.
Penso no que observava do alto dos ramos, espreitando a rua cá embaixo, com os seus transeuntes. Imagino o que pensava sobre as conversas que ouvia das pessoas que se encostavam à àrvore, procurando descanso e sombra. Sonho os suspiros que deu por simplesmente só poder estar ali, assistindo a uma peça de teatro, não podendo nunca ser actriz. Lamento os segredos que quis contar e que sempre teve que conter por não ter voz. Choro os desejos que teve e que nunca satisfez. Compreendo a tristeza que sentiu e nunca pôde amenizar. Simpatizo com a monotonia da sua vida segura, que nunca a deixou voar e conhecer mundo, conhecer outras ruas, outras folhas.
Só me espanta por vezes sentir a vontade de ser como ela...de não ter quem a magoe, quem a entristeça, quem a faça sentir-se incómoda...quem a faça sentir-se infíma e irrisória...quem a faça sentir-se tão pouco importante e insignificante como um grão de areia no deserto...quem a faça sentir-se tão indiferenciada. É apenas mais uma folha na árvore.