Tuesday, January 31, 2006

Diário de Bordo

23 de Abril de 1881

Há semanas que não vemos vivalma. Os porões estão vazios e começámos a racionar os mantimentos. Apesar de o tempo ter amainado e o mar estar tranquilo, não temos tido sorte com a pesca. Ordenei que mantivessemos a nossa rota na direcção do vento afim de recuperarmos o tempo perdido.
- Nau à vista - gritou o vigia, do alto do cesto da gávea.
- Imediato, o meu binóculo.
- Aqui está meu capitão.
Uma embarcação de grande porte distinguia-se na linha do horizonte.
- É o "Arquisalsa" - disse eu - traz as velas a meia haste. Talvez o consigamos alcançar. Aproximemo-nos.
- Baixem a vela de mezena, a do mastro principal e soltem o lastro - vociferou o meu imediato.
- Timoneiro, rota de aproximação. Atenção ao vento. Prôa à corrente. Fechem todas as escotilhas.
Perante as instruções, a tripulação assumiu os seus postos e rapidamente aumentámos a nossa velocidade.
- 1º Oficial, sinalize-nos ao "Arquisalsa" e peça-lhes que nos aguardem!
- Sim meu capitão!
- Vigia, temos resposta? - questionei.
- Ainda não meu capitão, julgo que ainda não estamos suficientemente próximos.
- Desfraldem as velas secundárias e bordem o flanco. Imediato, calcule a nossa velocidade, não quero seguir a menos de 29 nós!
- Sim meu capitão!
Pouco depois comecei a aperceber-me que nos estávamos a conseguir aproximar. Restava sabes se o Arquisalsa tinha recebido a nossa mensagem...

Sunday, January 29, 2006

O perigo de sonhar


Tenho para mim que sonhar (a dormir ou acordado), no sentido mais lato da palavra, é uma das dádivas mais importantes do ser humano. Por um lado porque nos sonhos tudo é possível, por outro porque é neles que se revela todo o nosso ser sem as condicionantes do social e políticamente correcto. É neste mundo que temos total liberdade para sermos quem somos e para sermos quem queremos ser.
Todavia, é uma linha muito ténue a que separa a realidade do sonho, e se por vezes é muito fácil manter essa fronteira, o caso muda de figura quando confundimos o sonho com a realidade. Muitas vezes, o descontentamento com a realidade pode levar-nos a viver um sonho, situação que pode ser perigosa.
Já por várias vezes dei por mim a "apaixonar-me" por um sonho ao ponto de idealizar pessoas, objectos, situações, etc. , sem sequer ter um conhecimento superficial que seja desse(s) elemento(s). Se na maior parte das vezes me foi fácil reconhecer que se tratavam de um produto da minha imaginação, casos tenho em que deixei de tal modo que o sonho se imiscuisse na realidade que acabei por confundir uma coisa com outra.
Um pouco como Icaro, acreditei que poderia voar até ao Sol.

Acaso e Destino

São duas palavras com um profundo significado e um enorme sentido na minha vida. Sou apologista de que de facto o nosso Destino está traçado desde o momento em que nascemos. Entenda-se Destino aqui, não como o desenrolar da nossa vida, mas sim como os principais marcos que constituem a sua essência. Temos um ponto de partida, o nosso nascimento, e um ponto de chegada, a nossa morte. O que fazemos entre estes dois inevitáveis constitui a nossa vida. Obviamente, enquanto seres inteligentes que somos, cabe-nos a nós escolher o caminho que percorremos, por vezes condicionados por variáveis que não controlamos. Mas maioritariamente é nossa escolha, e consequentemente nossa inteira responsabilidade, optar perante as bifurcações que se nos apresentam.
De uma forma um pouco mais esotérica, actua o Acaso. Partindo do pressuposto de que o Destino já está definido, o Acaso actuará, de forma mais ou menos perceptível, no sentido de nos manter em direcção a esse Destino.
Já me aconteceram dezenas, centenas ou mesmo milhares de vezes, ocorrências extraordinárias, com probabilidades inacreditavelmente ínfimas, situações, compreensíveis no momento ou apenas mais tarde, para as quais não contribuí minimamente e que influenciaram de forma mais ou menos significativa a minha vida.
Posso dar como exemplo, uma rapariga que vi pela primeira vez há meses atrás. Vi-a unica e exclusivamente uma vez, que foi a suficiente para me deixar uma boa impressão a seu respeito, e depois disso nunca mais voltei a vê-la.
Agora, meses depois repito, os nossos caminhos voltaram a cruzar-se, e inexplicavelmente tenho-a encontrado algumas vezes nos locais mais inusitados e inesperados. Primeiro porque são locais que não frequento habitualmente (ou melhor dizendo, que frequento muito raramente) e em segundo porque invariavelmente tomei a decisão de ir a esses locais de forma quase impulsiva e em cima do momento, sempre por ir acompanhar outras pessoas, isto é, nem sequer lá vou por minha iniciativa.
Não procuro explicações para estes factos porque, como ficou patente atrás, tenho como ideologia a existência de forças superiores a nós (e chamem-lhes o que quiserem) que por vezes actuam de forma indirecta e influenciando a nossa vida. Felizmente no meu caso, todas essas influências têm sido positivas, senão no imediato num momento mais tarde.
De forma que, por vezes, acredito que nos podemos entregar nas mãos do acaso, cabendo-nos a "obrigação" de aproveitar da melhor maneira possível as oportunidades que nos surgem, evitando forçar demais acontecimentos que não ocorrem de forma natural e espontânea.

Saturday, January 28, 2006

O Meu Pomar 2

E tanto chorei sobre este terreno, que os rebentos voltaram a vingar. Começam agora a aparecer pequenos filamentos verdes por tudo quanto é lugar. À primeira vista todos aparentam ser diferentes.
Parecem-me vir aí árvores de fruto, flores, arbustos e erva. Começo a acreditar que afinal o solo não ficou estéril. Surge-me, no entanto, outra grande dificuldade: escolher as plantas vingadoras das ervas daninhas. Ainda que não seja do meu total desconhecimento, o tempo que estive sem conseguir cuidar do meu pomar, apagou da minha mente os parcos conhecimentos que tinha.
Costuma-se dizer que não há fome que não dê em fartura, e a tarefa que agora se ergue afigura-se árdua. Não só terei que adquirir e relembrar os ensinamentos esquecidos sobre jardinagem, como terei que cuidar das árvores de fruto e, distinguindo-as, carpir as ervas daninhas.
Infelizmente, estes conhecimentos só a vida nos dá, não os poderei aprender com ninguém. De qualquer modo, a perspectiva de ver de novo um frondoso pomar é de longe preferível ao deserto que aqui se instalou.
Enfim, mais uma prova a superar e uma lição a aprender: cuidado com aquilo que desejas.

Friday, January 27, 2006

Próxima paragem: Destino

São 23h45, seguimos neste momento a 257 km/h e sinto a velocidade aumentar. Os vidros estão completamente embaciados, mas também não há nada, que interesse ver, lá fora. Recosto-me e tento descansar. Agora trago-te aqui, bem no meio dos meus pensamentos, porque a memória é fraca e tenho medo de não conseguir recordar-te. É apenas um ponto de referência, porque estás séria...séria demais. E sei que não és assim.
Ouço o vento lá fora e sinto um arrepio na espinha. Dir-se-ia neve o que cai lá fora, se não fosse completamente negra. Tão negra como os teus olhos...fazem-me lembrar dois pedaços de carvão e da maneira como brilham, assemelham-se a dois diamantes. Olho para ti e lembro-me da nossa última viagem. Não paravas de perguntar se ainda faltava muito. Tinhas sono, estavas cansada, doíam-te as costas e estavas farta de estar fechada. Enfim, uma pequena birra. Fizeste-me rir, parecias uma miúda de dez anos com aquele ar ensonado, a voz entaramelada e o cabelo todo despenteado. Lembro-me que tinhas descalçado os sapatos e que tinhas enrolado uma manta nas pernas. Havia migalhas por todo o lado. E de cinco em cinco minutos resmungavas: "Ainda falta muito??".
O que me está a custar mais nesta viagem é, precisamente, fazê-la sem ti. Nem sequer consegues imaginar a saudade que sinto. Mas pode ser que falte pouco...o visor já indica uma velocidade de 379km/h...e continuo a senti-lo acelerar.

Thursday, January 26, 2006

Hoje foi noite de Lua Nova, mas para mim, no céu, brilhou a Lua Cheia.
Não sei o que há em ti que me fascina. Tens esse ar de mulher madura, determinada e decidida, mas nesses teus olhos cheios de meiguice eu vejo uma menina inocente e indefesa. No teu sorriso vejo que buscas a felicidade e na tua voz terna a insegurança de uma adolescente.
Sinto-te mais perto, sinto que te estás a aproximar. Sinto que me procuras e desejo que seja verdade!
De cada vez que te vejo, irradias alegria e intensidade e o calor da tua pele queima-me o rosto e seca-me as lágrimas. Acredito que há qualquer coisa entre nós, que não sei explicar, mas que gosto de sentir. E foi o acaso que nos pôs no caminho um do outro. Mas não quero deixar nas mãos do acaso o futuro do nosso destino. Sinto-me pronto, sinto-me preparado. Em breve irei ter contigo e só peço que me engane se estiver enganado.

Wednesday, January 25, 2006

Voltarei

Estou de partida, vou de viagem. Sou esperado longe daqui. Não sei quando vou voltar, apenas sei que me vou demorar algum tempo. Tenho coisas importantes para fazer, que não posso delegar. É uma posição de responsabilidade, esta que assumi, pois tenho a meu cargo algumas existências e poucos bens.
Parto em breve, pois o tempo urge e sou necessário lá, há decisões importantes a tomar. Está frio...muito frio. Dir-se-ia que o calor do sol não chega aqui. Imagino como estará lá. É melhor agasalhar-me, não quero adoecer, já me bastam as mazelas que fiz ontem. Sei também que é escuro lá, que só temos luz uma vez a cada três anos. Há questões a resolver, lá. Depois de entrar e sentar-me vou adormecer...quero adormecer. Se a fizer acordado, a viagem vai custar-me muito mais. Olhando pela janela não temos paisagem, apenas uma escuridão imensa. Não me interessa ficar acordado. Tenho outros assuntos a pôr em dia durante a viagem, e por isso prefiro dormir.
Só vou abrir os olhos quando passarmos pelos planaltos de "geysers" que cospem fogo fátuo pelos seus lábios de gelo. Esse sim é um espectáculo bonito de se ver, olhar o seu reflexo nas nuvens negras de chuva ácida que pairam no ar. Se tiver sorte, alguma se incendiará e iluminará a noite. Veremos o que acontece.
Agora tenho de ir. Já estão a chamar pelo meu nome.

Tuesday, January 24, 2006

Azul

Fue una mañana que yo te encontré
Cuando la brisa besaba tu dulce piel
Tus ojos tristes que al ver adore
La noche que yo te ame, eh..

Azul, cuando el silencio por fin te bese
Azul, sentí muy dentro nacer este amor
Azul, hoy miro al cielo y en ti puedo ver
La estrella que siempre soñé

Coro: Azul, y es que este amor es azul como el mar
Azul, como de tu mirada nació mi ilusión
Azul como una lagrima cuando hay perdón
Tan puro y tan azul que me han vuelto el corazón

Es que este amor es azul como el mar
Azul, como el azul del cielo nació entre los dos
Azul, como el lucero de nuestra pasión
Un manantial azul ... que me llena de amor

Como el milagro que tanto espere
Eres la niña que siempre busque
Azul, es tu inocencia que quiero entender
Tu príncipe azul yo seré

Azul, es mi locura si estoy junto a ti
Azul, rayo de luna serás para mi
Azul, con la lluvia pintada de azul
Por siempre serás solo tu

Coro (5)


Christian Castro

Quero isso todos os dias!!

Deitado na cama, olhei pela janela
sete vezes tentei contar as estrelas no céu
mas ainda estou incandeado pelo teu sorriso
Hoje brilhaste mais que o sol
Estavas mais bonita que a lua
e o teu olhar radiante marcou-me o dia
Não quero esquecer a alegria que trazias no rosto
Hoje quero sonhar com essa felicidade
Talvez assim te consiga agarrar outra vez
e viver esse instante novamente
Relembraste-me porque tenho estado a lutar
e ainda que sem intenção, deste-me uma nova esperança
Senti-te feliz e só posso ansiar saber porquê...

Monday, January 23, 2006

O Coleccionador de Estrelas

Sopra aquele vento fresco de final de Verão. As ruas estão desertas, despidas de gente. Aqui e ali rolam jornais velhos, folhas secas e poeira. Caem as primeiras chuvas, enlameando as estradas e passeios e desbotando a tinta das casas.
Não me preocupa que me molhem. Não quero saber, não estou preocupado com isso. Continuo de porta em porta, espreitando pelas fechaduras, pelas janelas e pelas frestas das paredes. Pulo cercas, deambulando pelo meio dos quintais, incógnito, aspirando o fumo das chaminés como que procurando um odor diferente. Como cão de caça, vou farejando cantos e recantos, becos e vielas, passeios e sarjetas. Aqui e ali perco o rasto e só alguns metros à frente o consigo retomar.
Confundem-se os odores da cidade com os perfumes das pessoas e o roncar dos carros e das fábricas com os murmúrios e lamentos dos poucos transeuntes que ainda vagueiam por aqui, arrastando-se pelas avenidas cinzentas e nebulosas da insalubre metrópole. O movimento entorpecido das pernas faz arrastar o corpo num deslizar melancólico e triste, disfarçado pela bruma envolvente que abraça os ossos chocalhantes como um saco de berlindes.
E, no entanto, sigo compulsivamente, determinado e decidido no encalço dessa misteriosa essência etérea de aromas doces e tímidos, que se esconde por detrás de uma frágil valentia, que se dissipa com um sopro de vida.

Sunday, January 22, 2006

tempo...

Queria ser dono de um relógio
Jogar o tempo a meu bel-prazer
Mitigar as horas longas que afastam esses dias
e prolongar os minutos que os preenchem

Saturday, January 21, 2006

Hoje

Fazes-me sentir bem. Fazes-me acreditar. Fazes-me sonhar. Tenho vontade de jogar tudo para o alto e atirar-me de cabeça. Respirar fundo, mergulhar no mar onde vives e nadar. Ganhar asas, levantar voo e planar. Pousar em terra e percorrer milhares de kilómetros sem parar.
Quero-te e hoje sinto que consigo. Sinto que me esperas. Iludo-me e fantasio na esperança que seja realidade. Por ti quero ser um homem melhor. Para ti quero ser um homem melhor. Fecho os olhos e vejo quem és. Sei o que quero e sinto-me capaz de o conseguir. Quero fazer-te feliz...mais feliz. E ainda mais feliz.
Quero dar-te a mão e acompanhar-te. Quero andar ao teu lado e devorar essa estrada. Deslizar acima da terra até onde só assim se chega. Soerguer-te dos teus pés, estalar os dedos e estamos lá. Onde? Tenta adivinhar.
E à noite, com a cabeça deitada no teu colo, fazes-me festas no cabelo e conto-te tudo. Tudo o que quiseres saber. No fim seguro-te para que não te vás embora...e tu ficas

Friday, January 20, 2006

Estás aí?

Se te contasse não acreditavas. Cada novo lugar a que vou é uma possibilidade de te encontrar. Cada carro que vejo procuro que seja o teu.
Vê se me entendes. Não gosto de coisas forçadas. Gosto de naturalidade e espontaneidade. Adoro encontrar-te ao sábado porque sei que vais lá estar. Mas adoraria mil vezes mais encontrar-te na rua, por simples acaso. Talvez porque, simplesmente, por me veres aqui ou ali ficasses a conhecer um outro lado da minha vida que não aquele a que te habituaste. E assim também eu ficaria a conhecer um lado teu que ainda ignoro.
Gostaria de apanhar-te desprevenida no teu quotidiano. Ver-te num cenário diferente, com roupa diferente, num ambiente diferente, com pessoas diferentes. Nem uma nem outra são a tua essência, mas fazem parte dela. No fundo quero saber como és, quem és. O que fazes, como andas na rua, que montras vês, onde gostas de passear, onde trabalhas.
Gostaria de ter a sorte de te apanhar num furo com cinco minutos para bebermos um café. Seriam cinco minutos que, tenho a certeza, mais tarde se desmultiplicariam em horas e, quem sabe, em dias.
Gostaria de ver como te comportas no meio de pessoas que não conheces, num ambiente que não te é familiar. Será que manténs a mesma postura? Será que assobias enquanto andas? Ou simplesmente, como imagino, baixas os olhos para não teres que enfrentar o desconhecido?

Thursday, January 19, 2006

Tu Amor Me Hace Bien

Te quiero así deliciosa insospechada
Porque creo en tu palabra
Porque yo siento que aún te necesito
Porque me alteras las ganas
Te quiero así estruendosa y delicada
Entre alegría y nostalgia
Porque me gusta tenerte vida mía
Y no quiero que te vayas
Porque el amor cuando es verdad sale del alma
Nos aturde los sentidos
Y de pronto descubrimos que la piel
Se enciende en llamas

Bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Ay, tu amor me controla
Me endulza, me encanta
Pero bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Ay tu amor me controla
Me vence, me amarra

Mira que me hace bien, que me hace bien
Te quiero así tan precisa equivocada
Con tus detalles que matan
Porque tenerte a mi lado me hace fuerte
Si eres mi reina y mi espada
Te quiero así cuando ríes cuando callas
Porque al caer me levantas
Porque mi voz y mi espíritu se agitan
Cuando dices que me amas
Porque tu amor como es verdad me vuelve el alma
Me despierta los sentidos
Y de pronto descubrí que aquí en mi piel
Se encienden llamas

Bien, ay tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Tu amor me controla
Me endulza, me encanta
Pero bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Tu amor me controla
Me vence, me amarra

Ay como te quiero
Ay com te adoro
Ay Lolita linda
Tu eres my tesoro

Marc Anthony

O Jantar

Esta noite tive amigos cá em casa. Cozinhei para eles. Senti a tua falta, a cada momento. Enquanto arrumei as compras e a casa, enquanto preparei a comida, enquanto jantámos, depois ao café. Senti a falta de um carinho teu em cada momento. Eles divertiram-se, eu diverti-me. Mas senti a tua falta.
Gostei de vê-los enquanto trocavam mimos, palavras amigas, sussurros cúmplices. Não tenho inveja deles, apenas gostava de te ter aqui comigo. E enquanto aqui estiveram foi o bocado que menos me custou. O pior de tudo foi quando se foram embora e o silêncio regressou a esta casa. Aí sim, senti mesmo a falta que me fazes.
Depois de arrumar a cozinha, podíamos ter-nos sentado no sofá ou deitado na cama e conversado um pouco. Sim, acho que é isso mesmo. Tenho saudades de conversar na cama. É talvez dos locais mais sossegados e propícios, entre outras coisas, a uma boa conversa. Porque despimos a roupa do dia-a-dia e entregamo-nos unica e exclusivamente ao conforto e ao relaxamento.
Acabo por sentir saudades de ter alguém a quem contar e de quem ouvir o seu dia. Tenho saudades de dar e receber um beijo de boa noite. Tenho saudades de revolver estes lençois contigo.
Foi por tudo isto e muito mais que senti a tua falta esta noite.

Wednesday, January 18, 2006

O passeio

Obrigado pela imagem G. És um doce, como sempre



- Sabes, nunca fui grande fã de andar a pé...
- Desculpa se te forcei a fazer algo que não querias.
- ...mas estou a adorar fazê-lo contigo!
- Há quem ande por necessidade, há quem ande para fazer exercício, há quem ande para se distrair. Eu gosto de andar porque me faz sentir que a vida abranda e que tenho tempo para apreciar as mais pequeninas coisas.
- Nunca tinha visto isso dessa maneira!
- Além de que, a pé, ninguém te chateia por andares devagar, nem te buzinam porque resolveste parar para apreciar a vista...
- De facto, eu bem precisava de andar e nem me tinha apercebido.
- Sim...porque a nossa vida é passada a correr, há muita coisa que não nos apercebemos.
- E nós vamos sempre fazer isto?
- O quê?
- Abrandarmos a nossa vida para continuarmos a apreciar as coisas simples...
- Sim, eu espero que sim.
- Sabes, gostava de ter um cão...não me importa muito de que raça...mas gostava de ter um.
- Eu também...mas sei de que raça queria o meu!
- Qual?
- Um basset hound, um beagle ou um salsicha.
- E achas que vamos ter?
- Não sei...mas pelo menos gostávamos...já é meio caminho.
- Vamos até ali a baixo. Apetece-me por os pés na areia.
- Não tens frio?
- Mesmo com frio, adoro enterrar os pés descalços na areia.
- E estas pegadas? Quem as terá deixado?
- Talvez aquelas duas raparigas que vão lá à frente...
- O que é isto?
- Não sei...hum...estranho...nunca vi nada que se parecesse com isto...
- Mostra-me.
- Não...!
- Vá lá, deixa-me ver.
- Só se me apanhares.
- Anda cá, não me apetece correr.
- Apanha-me se conseguires.
- A ti apanho-te de certeza...já te apanhei uma vez...
- Tenta outra vez.
- Que te disse? Eu sabia que te apanhava.
- Abraça-me. Tenho frio.
- Só se me deres um beijo.
- Não! Rouba-me o beijo.
- Se me roubares o abraço.
- Anda, vamos continuar a andar...
- Não quero que este dia acabe.
- Eu também não...

Tuesday, January 17, 2006

Minha Linda Sofia

Não quero que penses que desisti de ti. Apenas me consciencializei de que nem tudo está sob o nosso controlo. Não vale de nada forçar as coisas. Por vezes temos que, simplesmente, deixar-nos levar na corrente, porque quanto mais nos debatemos maior é a probabilidade de nos afogarmos. Recordo uma lição que aprendi há uns anos, numa praia. Apesar de ser um local de divertimento e descanso, o mar nessa praia é muito dado a formar colunas de corrente, perpendiculares à costa, que puxam os banhistas para longe. Os infortunados que se debateram e tentaram regressar de imediato, perderam a vida. O segredo, ensinou-me o nadador-salvador, está em deixarmo-nos levar nessa coluna até que a corrente deixe de puxar. Então, devemos afastar-nos dessa zona e regressar à praia.
E é isso que estou a fazer neste momento...deixo de debater-me para que depois possa desviar-me dessa corrente que me afasta de ti. E nessa altura poderei nadar em segurança, de regresso
à tua praia.
Espero, entretanto, que não esmoreças e não desistas. Dá-me uma oportunidade. Se depois disso, eu não fôr o que esperavas, podes ir-te embora, mas dá-me ao menos uma chance de chegar à tua praia. Até lá, não esquecerei esses teus olhos que me estremecem, mas que me fazem querer cada vez mais estar junto a ti.

La Ultima Noche

"Quiero terminar
Con toda la esperanza que quedó
Hoy voy arrancar
Lo que se ha quedado en este corazón

Siento-te olvidar
La ultima mirada que me dió
Puedo hogar por fin
El ultimo recuerdo de su voz

Porque llorado tanto, tanto, tanto
Que no siento
Mis lágrimas queimando-me
Ai queimando-me en el cuerpo

Ai de mi que esta maldita luna
Pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
Que voy a sofrir por este amor

Quiero despertar
Mirando las estrellas otra vez
Hoy van a brillar
Los cielos que me han visto padecer

Creo que soñar
Lo beso que me ha dado por amor
Pueden alcançar
Para curar mi pobre corazón

Voy a quedar-me solo, solo
Solo, solo y vivo
Dejando que se pierda
Poco a poco en el olvido

Ai de mi, que esta maldita luna
Pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
Que voy a sofrir por este amor

Voy a quedar-me solo, solo
Solo...y vivo
Dejando que se pierda
Poco a poco en el olvido

Para matar-me pronto, pronto
Para olvidar-me todo, todo
Para quedar-me solo, solo
...y vivo

Ai de mi, que esta maldita luna
pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
que voy a sofrir por este amor

Ai de mi, que esta maldita luna
pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
que voy a sofrir por esse amor

Ai de mi, que esta maldita luna
uuuuhhhhhhhhhuuuuu
Ai de mi es la ultima noche..."

Diego Torres

Sunday, January 15, 2006

O meu pomar

Há pouco mais de trinta anos, foi-me dado um terreno para que o cultivasse e dele tratasse. Cuidei dele com o carinho que só um pai pode ter para com um filho. Todos os dias o regava, inspeccionava e carpia as ervas daninhas. Em tempos tive um belo pomar, com todos os tipos de árvores de fruto. Dediquei-lhe toda a minha vida.
Mas com o passar do tempo, e sem que me apercebesse, as árvores foram morrendo uma a uma. A falta de chuva dos últimos anos encarregou-se de o secar. O solo tornou-se árido e estéril, e os pequenos rebentos que tentaram ainda vingar, morreram queimados pela geada do último Inverno.
Olho agora, com profunda dor, este manto de terra amarelecida e inóspita e deixo de acreditar que algum dia volte a conseguir fazer crescer seja que planta fôr, neste pedaço de mundo esquecido. Olho agora exausto este deserto e dou-me por vencido. Não conseguirei jamais recuperar a fertilidade destes campos. Aqui, nada mais nascerá.

Friday, January 13, 2006

O Nosso Carro

Vinha agora no carro para casa, quando me dei conta que há muito tempo não tenho companhia nele. Senti de repente uma enorme tristeza, porque num momento que se repete todas as noites, numa pequena viagem de onze kilómetros, me senti tão sozinho.
Tenho saudades de vir ao volante e dar a mão a alguém. Tenho saudades daquelas conversas de final de dia em que se conta um ao outro como correu. Tenho saudades de à noite, no regresso a casa, falar baixinho dentro do carro porque estamos ali mesmo ao lado da outra pessoa. O rádio está ligado mas, sinceramente, nenhum de nós vem a ouvi-lo. Vimos apenas a fazer festas um ao outro, como que massajando mutuamente a nossa necessidade de afectos.
Dei-me conta, entretanto, que há muito tempo que não faço uma viagem com alguém especial. Daquelas viagens em que saímos de lá já ao fim da tarde e temos ainda duzentos ou trezentos kilómetros pela frente. Significa que ainda apanhamos o entardecer, o pôr-do-sol e o anoitecer. Mas acima de tudo significa que temos duas ou três horas para estarmos apenas um com o outro. Talvez nem seja preciso falar. Apenas gozamos a nossa companhia e de tempos a tempos murmuramos algo que nos lembrámos repentinamente.
Tenho saudades que mexam no rádio do carro, mudando o volume ou a estação, que abram o porta-luvas para trocar de CD. Ou que simplesmente regulem a temperatura. Que me dêem uma bolacha ou um gole de água. Básicamente, tenho saudades de alguém que faça do meu carro, o nosso carro.
E somente a uma pessoa permitimos que o faça...

Thursday, January 12, 2006

Esta noite

Sabes, hoje não me apetecia nada escrever. Preferia sentir. Está frio, e por isso mesmo e muito mais, queria que estivesses aqui comigo.
Apetece-me abraçar-te e deixar-te adormecer no meu peito. E enquanto fechavas os olhos e começavas a respirar mais devagar, eu aconchegava-te mais a mim e encostaria a minha cara na tua testa. Parece que estou a ver-te aqui sossegadinha, com os olhos cerrados...completamente tranquila por saberes que estou aqui. Sim, podes ficar descansada, não vou a lado nenhum.
Passava-te a mão pelo rosto e afastava-te o cabelo. Ao tocar-te no nariz, fazia-te comichão e esfregava-lo com a mão, franzindo a testa e os lábios...como fazem os miúdos pequenos. Mas não acordavas. E achando piada, eu pegava numa madeixa dos teus cabelos e fazia-te cócegas e tu voltavas a esfregar o nariz. Sem maldade, voltava a fazê-lo, mas aí resmungavas e eu, apertando-te, beijava-te na fonte, murmurava-te ao ouvido e, dormindo, sorrias-me...apenas porque sabias que eu estava ali.
E antes de voltares ao teu sono, abraçavas-me como se tivesses medo que eu fugisse. E eu abraçava-te para teres a certeza que não o faria. Seria capaz de ficar acordado toda a noite, só para te ver dormir aqui comigo.

Wednesday, January 11, 2006

Onde foste?

Ainda agora estavas aqui, mas afastaste-te silenciosamente. Foste embora...deitaste-te mais cedo que eu e agora sinto-me cansado. Enquanto estás comigo sinto-me cheio de força e energia. Esgotas-me, consomes-me e depois simplesmente desapareces.
Sei que voltarás. Voltas sempre. Sem aviso...apareces quando menos espero; mas presumo que seja por isso que tens o nome que tens. Soa-me a efémero, a intenso. Talvez por isso me esgotes desta maneira. Uma estrela com o dobro do brilho, brilha metade do tempo. Acho que é precisamente esse o efeito que tens em mim. O pouco tempo que estás comigo fazes-me experimentar uma tal intensidade de vida e de sentimentos e de emoções que me sugas toda a energia. E depois, quando te vais, simplesmente sinto-me apagar.
Fazemos um belo par, tu e eu. Se ao menos conseguíssemos passar mais tempo juntos...mas por definição isso parece-me impossível. Além de, ao aumentar o tempo de exposição, diminuires de intensidade o teu efeito sobre mim, terias que mudar de nome. Bem, e na realidade deixarias de ser tu. E não queremos isso. Até porque, a mim, apareces-me com grande regularidade e apesar de te desejar sempre, a verdade é que nunca me dás tempo para sentir saudades tuas.
Por outro lado, não sei quanto tempo de vida me restaria se passasses mais tempo comigo. Se assim já é o que é, se aparecesses mais vezes provavelmente matar-me-ias em três tempos. E para quem disse que está cansado, já estou a falar demais. Até breve!

Tuesday, January 10, 2006

Certo ou Errado?

Quis-me parecer que me tocaste à campaínha. Logo para teu azar, ou nosso azar, ou teu azar e minha sorte, estava a ter uma conversa interessantíssima sobre yogurts com alguém a quem não poderia simplesmente pedir que me desse um minuto para ir ver quem estava à porta.
Não penses que não te vi. Felizmente a minha visão periférica é óptima e, mesmo sem tirar os olhos da minha interlocutora, vi perfeitamente quando espreitaste pela janela. Mas devo dizer que fiquei muito contente quando, ao regressares, fizeste questão de me cumprimentar, ainda que com um aceno e não com dois beijinhos como eu gosto.
Hum...o que eu gostava de saber o que ia na tua cabeça naquele momento. É que por momentos ainda fiquei com a sensação (também pode ter sido apenas um desejo meu) de que te sentiste ameaçada. Pareceu-me nítidamente que quiseste ver com quem estava eu a falar. E para nossa sorte, deixa-me que te diga que a acho bem bonita e simpática, além de nos darmos muito bem. Mas não te preocupes, no sábado falamos "and we'll take it from there".

P.S.: para a próxima não toques à campaínha. Abre a porta e entra simplesmente.

Monday, January 09, 2006

Lobo do Mar

Amainou a tempestade. Sopra agora uma leve brisa que empurra a chuva miudinha, fazendo-a cair obliquamente ao convés. Por entre as nuvens esparsas, vislumbram-se algumas estrelas e a lua ilumina o breu.
Puxando de um cigarro, apoia o pé no corrimão e observa o horizonte. Dá uma baforada longa e demorada e reconhece a sua insignificância perante o clima. É das poucas coisas que ainda não acreditamos controlar. A velha barcaça, apesar da provecta idade, suportou os balanços e torções a que o mar a sujeitou esta noite.
Neste momento não se navega. Avalia-se o impacto da borrasca e define-se uma nova rota. Aproveitando a acalmia da noite, o velho lobo do mar estuda as cartas e os mapas, diários de bordo e apontamentos de expedições anteriores. Nas palmas das mãos e nas linhas do rosto estão traçadas algumas histórias. Reflectem bons e maus momentos de uma vida dedicada ao mar.
Decidido o novo destino e traçado o caminho, ordena que se ponham os motores em marcha e manda: "Meia força à proa..."

Sunday, January 08, 2006

A Última Vez

Cansei-me de estar à porta à tua espera. Se um dia quiseres entrar, sabes onde é a campaínha. Se cá estiver talvez ta abra.
Não é por mal, apenas me doi demais ver o vento indiferente, ou tímido, (qual delas a pior) deitar por terra todos os castelos que construi. Passei toda a minha vida a pôr pedra sobre pedra, erigindo estes monumentos ao sonho e repetidamente os vi serem derrubados. Agora chega.
Este defendê-lo-ei com as forças que me restam, que de tão poucas e fracas, não me permitem que fique aqui de plantão. Vou para dentro, resguardar o que é meu e que me custou tanto a conseguir. Um dia talvez volte aqui, a aguardar a tua chegada...talvez.
Por agora preciso descansar.

Friday, January 06, 2006

Eras tu que brilhavas esta noite no céu?

Sorrindo para mim estava a lua...que confundi com o teu rosto. Sonhei por momentos que eras tu que vi radiante por me ver. Com esse véu negro que trazes sobre a face, descendo-te pelos ombros.
E ao fechar os olhos, nesse instante, estavas à minha frente. Fixámo-nos, e tranquilamente dirigi-me à tua boca e recolhi a carícia mais doce dos teus lábios. Senti o prazer de provar o teu sabor. Apertei a candura dos teus braços num nó que não quero desatar...nunca!
Encostei o meu corpo ao teu num abraço sem tempo. Uma fotografia que não se desvanece. Não fui embora, não te afastaste. Apenas ficámos os dois, unidos por um beijo sem fim, trocando desejos que se querem comuns. Num olhar só juntámos as tuas e as minhas vontades e com elas construímos um mundo. Um mundo novo só nosso, onde só nós entramos, onde só nós permanecemos. E onde eu sou tu e tu és eu...

Thursday, January 05, 2006

Coisas Simples

Terá regressado a chuva a este canteiro? Pois vejo que as flores reflorescem, vejo as abelhas que zumbem rodopiando de volta delas. Inspiro e sinto o cheiro de terra molhada e relva cortada de fresco. Passo as mãos neste jardim e sinto a carícia húmida do orvalho que esta noite aqui se aninhou para dormir.
Calo-me e escuto atentamente a azáfama das formigas, para a frente e para trás, carregando alimento. Ouço o leve roçar dos fios de seda com que aquela aranha ali tece a sua teia.
Chilreiam os pássaros que atarefadamente perseguem moscas e insectos para encherem o bico da sua prole. Repentinamente passam dois cães disputando uma corrida de estafetas, passando de boca em boca um imaginário naco suculento de carne substituído por um osso despido.
Vês aquele gato que vai mandreando sob o calor soalheiro deste sol matinal? Costuma andar por aqui todos os dias.
E eu, que nunca tinha observado este pequeno mundo, hoje fi-lo porque ouvi uma música. Porque além disso fiz algo tão simples mas que me deu tanto prazer. Um dia digo-te qual era a música...

Wednesday, January 04, 2006

Será?

Agarrei palavras passadas e ouvi-as. De repente fizeram sentido. Relembrei-as e mostraram-me a coerência das tuas atitudes. Não poderei esquecê-las porque o esforço que exigirás será grande. Terei que guardá-las bem à mão, para que cada vez que me sinta esmorecer, que me sinta desistir eu possa lembrar o propósito deste esforço.
Testa-me até aos limites, para que tenhamos a certeza de que somos merecedores um do outro.

Tuesday, January 03, 2006

Por um instante que fosse...

Gostaria de ver novamente os teus olhos, para ler-te o pensamento. Intrometer-me nos teus sonhos e fazer parte de ti. Gostaria de uma vez mais dar-te a mão, levar-te até lá e abraçar-te. Encostar a minha cabeça à tua e falar-te ao ouvido. Baixinho, para que só tu ouvisses. E aí contar-te-ia. Contar-te-ia uma história. A minha história. A tua história. A nossa história.
E misturaria os meus dedos com os teus para que me sentisses e te pudesse sentir. Inspiraria profundamente e absorveria o teu perfume para que nunca mais o esquecesse. Fecharia os olhos e sonharia que estávamos apenas os dois. Descobriria o teu sentimento.
E então brotariam do meu desejo as palavras com que escreveria uma história. A minha, a tua, a nossa história. E eu não as conteria nem as sufocaria. Deixá-las-ia viver com vida própria para que traduzissem com verdade tudo aquilo que emana de ti. Descreveriam um quadro, uma fotografia, uma paisagem. Uma montanha, uma praia, uma planície. O que tu quisesses. Desde que fosse a tua essência, desde que pintasse o teu íntimo, desde que mostrasse a tua inocência.

O Pescador

E eis agora que, com a cabeça mergulhada nas mãos, surge o arrependimento. De não o ter feito quando pude, mas quando achei que não devia.
Já me sinto só na imensidão deste mar; os peixes já não são companhia. O único ruído que se ouve é o som monótono e repetitivo do motor. Antes, as estrelas era minhas amigas e a lua minha confidente. Agora não passam de momentos de luz encobertos pelas nuvens que deslizam no manto obscuro da noite.
Ouço o silêncio e dou-me conta da ausência do mundo. Apercebo-me de que estou realmente sozinho. Não tenho sequer alguém a quem contar as minhas mágoas. Somente me acompanha o chapinhar da água de encontro ao casco envelhecido e descascado da traineira.
Faço deslizar uma vez mais as redes pela borda fora e deixo as bóias a flutuar. Regresso a casa. Amanhã virei ver se tive melhor sorte...

Monday, January 02, 2006

Letras que falam de mim...

Pouco a pouco
vou escrevendo na palma das tuas mãos
uma pequena história
Palavra por palavra
vou-te falando
de sentimentos, experiências e sonhos
Em cada frase
desvendo-me para ti
dizendo-te o que fui, o que sou, o que serei
Olhando-te nos olhos
procuro descobrir em ti
o teu próprio ser
E em todos os desejos que tenho
és participante essencial
a natureza do meu querer