Sunday, October 29, 2006

Esses dias

Debruçado sobre o parapeito do murete que separa a rua do rio, olho essa folha de plátano que vai deslizando na corrente. E em momentos penso na tranquilidade da sua vida, somente deixando-se viver, alimentada pela árvore onde vivia e cuja unica agitação que sofria era a do vento que a embalava à noite.
Penso no que observava do alto dos ramos, espreitando a rua cá embaixo, com os seus transeuntes. Imagino o que pensava sobre as conversas que ouvia das pessoas que se encostavam à àrvore, procurando descanso e sombra. Sonho os suspiros que deu por simplesmente só poder estar ali, assistindo a uma peça de teatro, não podendo nunca ser actriz. Lamento os segredos que quis contar e que sempre teve que conter por não ter voz. Choro os desejos que teve e que nunca satisfez. Compreendo a tristeza que sentiu e nunca pôde amenizar. Simpatizo com a monotonia da sua vida segura, que nunca a deixou voar e conhecer mundo, conhecer outras ruas, outras folhas.
Só me espanta por vezes sentir a vontade de ser como ela...de não ter quem a magoe, quem a entristeça, quem a faça sentir-se incómoda...quem a faça sentir-se infíma e irrisória...quem a faça sentir-se tão pouco importante e insignificante como um grão de areia no deserto...quem a faça sentir-se tão indiferenciada. É apenas mais uma folha na árvore.

Friday, August 18, 2006

A Montanha

Na réstia do movimento
esmorece a vontade
de continuar a alimentar o espirito
com palavras ocas e disfarçadas

A cada passo
da íngreme subida
resvala o corpo cansado
deitado na berma da estrada

Cobre-se o céu de espessas nuvens escuras
que lentamente se amontoam sobre as árvores
augurando uma tempestade fria e cinzenta
antecedida pela neblina cerrada

Fecham-se as portas e as janelas desta velha cabana
esperando que a madeira antiga e o telhado de colmo
sirvam de abrigo da borrasca que se adivinha
buscando a sensação de protecção e conforto
a que a intempérie inesperadamente obriga

A coberto de uma manta de lã
na companhia do fogo de lenha ardente
abraçado no frio da noite
trancam-se portas e janelas, espreitando lá para fora

Thursday, August 03, 2006

Notícias

É com muita felicidade que tenho visto que, algumas das pessoas que me visitam habitualmente, se tem perguntado sobre a minha ausência. É, como já tenho dito algumas vezes, muito bom sentir que notam a nossa ausência.
O facto é que neste ultimo mês, a minha vida tem sofrido mudanças radicais que me têm impedido, inclusivamente, de escrever...e ainda mais de postar! Mudanças a vários niveis, que me têm ocupado o pensamento e dado muito pouca liberdade à imaginação e ao sonho, à ponderação e à expressão.
Gostaria, no entanto, de vos dizer que espero em breve conseguir estabelecer uma nova "rotina" na minha vida, que me permita voltar a postar e, mais importante ainda, que me permita voltar a visitar-vos com a frequência que vocês tanto merecem.
Para todos aqueles que gostam de me ouvir e a quem eu tanto gosto de ouvir também, mando muitos beijinhos e abraços e muito em breve (assim o espero) voltaremos a falar!!! Aos que estão de férias desejo também um óptimo descanso e relaxamento...aos que não estão...olhem, aguentem como puderem!
Beijinhos e abraços

Friday, July 14, 2006

Esticar a corda

É das piores coisas que podem fazer-me...testar-me. Tirarem-me as medidas. Eu diria que é das coisas mais irritantes, que mais facilmente me tiram do sério. Sobretudo porque me considero uma pessoa séria e sincera.
E o que mais me desagrada neste tipo de situações é precisamente a minha reacção. Porque aí perco o meu bom senso e toda a minha diplomacia e escouceio. Sei-o, conheço-me, e a consequência destes actos sobre mim é invariavelmente a mesma; torno-me uma besta, brutal, fria, calculista e vingativa. E não pago na mesma moeda...pago a dobrar.
Porque sou um livro aberto, porque jogo limpo com toda a gente, não admito que ponham a minha integridade em causa, que mexam comigo como se fosse um joguete, que estiquem a corda para ver de que lado ela vai partir...porque ela parte sempre do lado mais fraco.
E porque sei que, virado do avesso, não sou flor que se cheire, detesto sentir isto. Porque sei qual vai ser a reacção. Porque sei qual vai ser o resultado.

Wednesday, July 12, 2006

A Planta ou a metáfora para o crescimento de uma flor

Ofereceram-me um vaso com uma semente lá dentro. Quando cheguei a casa, pu-lo em cima da mesa da cozinha. Peguei na cafeteira, enchi-a de água e café e coloquei-a ao lume. Em poucos minutos, verti-a numa chávena e sentei-me a olhar para ele.
Achei que precisava e deitei-lhe água. Rodei-o para que apanhasse sol. Agarrei no livro e pus-me a ler, olhando de quando em quando aquele recipiente de barro, esperando que algo acontecesse. Sorvi um pouco de café fumegante e continuei a ler.
Não me disseram que semente estava no vaso, por isso não sei o que vai nascer dali. Tem terra, tem água, tem sol...é apenas isto que vem recomendado na etiqueta aposta na face lateral. Nenhuma outra informação nos é dada. Nem sobre que planta é, nem que cuidados devemos ter, nada...absolutamente nada.
Espreito outra vez. Ainda não há alterações. O que é certo é que já há muito que não tinha plantas de que cuidar. Não me recordo já do tempo que levam a brotar, crescer e eventualmente dar fruto. Nem de quanto em quanto tempo se deve mudar a terra. Aliás, quanto a esta nem sei se precisa ou deva mudá-la.
Vaso novo...

Tuesday, July 04, 2006

Conclusões Invulgares #1

Ao aterrar, espreito pela janela e vejo este novo mundo. A opção que tomei de começar de novo e tentar mais uma vez faz parte da minha bagagem, forrada com os autocolantes das companhias aéres e marítimas em que viajei.
Este é um aeroporto novo para mim. Uma nova cidade, para uma nova tentativa de recomeço. Mesmo depois de tantos logros as expectativas continuam altas...como sempre. À semelhança do que fazemos a cada novo ano, tomam-se resoluções: para acabar com maus hábitos, vícios, arrumar questões, resolver problemas e prometemos a nós próprios que iremos esforçar-nos por sermos melhores seres humanos.
Inevitavelmente, esperamos que estes recomeços nos tragam a motivação e a inspiração para o fazer. Pelo meu lado, tento imaginar-me sem essas características menos boas e no regozijo que será, mais adiante, olhar o meu passado e ver como consegui tornar-me numa melhor pessoa. Porque me é mais fácil fazê-lo pelos outros ou pelas coisas do que por mim próprio. Porque me é mais fácil fazê-lo em troca de uma promessa de que algo bom irá acontecer. E agora, que mais uma vez acredito ter essa fonte de inspiração, vou tentar começar de novo.
O mais difícil vai ser não me esquecer.

Monday, July 03, 2006

Latitude 0º

Temperatura: 28ºC Humidade no ar: 95%
Céu limpo, sem nuvens, sem vento

Começam a cair em pingas finas. Vêm escorrendo lá de cima, abraçando-nos. São cada vez mais, e de um nada tornam-se um tudo, assim de repente.
É quando menos se espera que aparecem, muitas vezes apanhando-nos desprevenidos e alagam tudo. De um momento para outro mudam a paisagem, trazem-nos um mundo novo. Viçoso, pleno de vida, borbulhando aqui e ali...de todo o lado brotam coisas novas, renascem plantas antigas e como que todo aquele quadro se apresenta lavado e vestido de maneira diferente.
É o cheiro a terra molhada, e o ar mais fresco. É todo o pó que recolhe ao chão. É todo um verde que agora predomina.
São assim as chuvas na latitude 0º...

Tuesday, June 27, 2006

A quem possa interessar

Porque tenho a noção de que a dureza das minhas palavras poderá ter produzido em algumas das pessoas que me lêem, sobretudo as que me conhecem menos bem, uma ideia errónea quero esclarecer uma ou outra questão que levantei no meu post anterior.
Em primero lugar, quero pedir a todas quantas se possam ter sentido ofendidas com a afirmação de que não acredito em mulheres inocentes. Na verdade, eu ainda acredito que há muita gente boa no mundo...acredito mesmo. De tal modo, que a minha atitude em geral é a de depositar confiança nas pessoas até prova em contrário.
Em segundo, gostaria que entendessem que foi de facto um desabafo o que escrevi no post e que, como tal, ele reflecte o pensamento tido numa determinada situação mas, mais grave, um pensamento envolvido pelo calor do momento.
Em terceiro, gostaria de pedir desculpa à pessoa a quem este post se refere. Porque agora, de cabeça fria, vejo que talvez não existam motivos para tanto alarde da minha parte. Por outro, porque ninguém é totalmente inocente, pelo que me pergunto a mim próprio quem sou eu para atirar a primeira pedra...não quero com isto minimizar o que se passou, nem negar que eventualmente possam existir segundas intenções nas suas atitudes e comportamentos, mas por uma questão de coerência...será inocente até prova em contrário.

A Tua Sombra

Ainda sob o efeito inebriante do perfume da tua voz, peço-te que me deixes. Afasta-te por favor. Não vês o mal que me fazes? Serás assim tão insensível? Precisamente quando me estou a sentir bem vens com essas histórias de vir comigo...sabes bem que sou incapaz de te dizer que não...como não o diria a qualquer outra pessoa que mo pedisse.
Sinceramente, nem sei se o que me custa mais é estar sem ti ou estar contigo! Porque continuas a insistir nessa atitude dúbia e porque me custa tanto acreditar na tua inocência como na tua culpa. Porque pareces teimar em manter-me ali, no limbo, na expectativa. A verdade é que também não acredito em mulheres inocentes. E quanto mais o parecem mais sinto que devo duvidar.
Não te darás conta da crueldade a que me submetes? Conseguirei eu passar-te uma imagem de ser tão inexpugnável e inabalável? Caramba...a verdade é que me magoas, ainda que sem intenção, magoas-me. E por isso te peço que vás de uma vez...já percebi que não queres ficar...não como eu quero, e por isso o melhor é ires de uma vez. Não penses que o digo assim da boca para fora. Mas vai por favor.

Monday, June 26, 2006

Tela

E tu linda bailarina
que insistentemente
procuras acompanhar-me
em mais uma dança

Quem, sempre que convido
não encontro escusa ou recusa
Somente um olhar contido
trazendo um sorriso de criança

Fazes-me sentir experimentado
parecendo teres vontade de me conhecer
Não terás tu a coragem
de me perguntar o que quiseres saber?

Saberás quando me esgotarei
se continuares a drenar-me a minha afeição?
Saberei que, ainda que de forma desinteressada,
em ti sinto alguma intenção?

Quando me olhas, falas ou ouves
esperas de mim a resposta
Tentas instigar-me ao impulso
sempre que me provocas

Cuidado...cuida-te, cuida-me
desta vez não quero sair magoado
ferido ou injuriado
Por isso me reservei

Sunday, June 25, 2006

Fruto prohibido

Y eres tu
un poder oscuro
la dueña de mis deseos más carnales
Ensejos animales
por una mujer de negro

Te oígo
hablando-me al oído
Palabras de hechizo
ruido de felino

La distancia se quiera corta
Quisiera encontrar la senda
que me lleva a ti
como una magia que nos ayuntará

Soy culpable de traición
a un amor intentado
por mil veces un sospiro
pero que no hay sido saciado

Jamás te he pedido a Diós
y te he encontrado
Ahora te quiero lasciva
y tu cuerpo desnudado

Thursday, June 22, 2006

Rinneadh taibhreamh dom, rinne mé brionglóid in éineacht le Máiréad

Sem sentido

Quanto fosse o que fizesse
O que trouxe e o que dissesse
Tudo ouvisse e onde estivesse
O que vestisse e o que contivesse

Nada arde no que se consome
Nem acordada nem quando dorme
Quando andasse ou quando corresse
Talvez parasse ou um dia desaparecesse

O que foi, o que é, o que será
Não sabe onde esteve, não sabe onde está
O que tem agora, o que mais desejará
Pelo dia fora, à noite chegará

Quem sabe, o que quis e o que não teve
Se sente o que diz e faz o que deve
Olha para trás e sente a saudade
Vira-se à frente e vive a ansiedade

E assim vai parando
Cega no caminho
o passo estacando
Embriagada, devagarinho

Ignorando lo sendero
lo guardando en el olvido
Nadie encontrando
Creendo que todo está perdido

Com o sol no horizonte

Wednesday, June 21, 2006

O Sirio

No escuro da noite, soa o troar do trovão
o relâmpago ilumina o céu
Vê-se a estrada escura que se estende ao horizonte
as sombras que nela se deitam
Ao longe distingue-se,
nitidamente,
a silhueta esparsa do profeta
movendo-se sob a chuva
Era eu naquele caminho
mas tu não me viste
Nem mesmo quando o clarão
incendiou o breu
Olhaste, com o cabelo a escorrer água
e os braços caídos e a roupa encharcada
e os dentes a ranger de frio
e os olhos tristes, lavados em lágrimas
E não acreditando
voltaste-te e foste embora,
continuando sob a tempestade,
cabisbaixa
Continuaste caminhando
na certeza de que não viras
o que esperavas
nessa tua expectativa

Tuesday, June 13, 2006

Só o tempo não pára...

Adormece a caneta deitada no caderno
a tinta descansa sobre a página em branco
A vida parou...
Vocês imobilizaram-se
Reteve-se o movimento
É um retrato
perdido no tempo
a preto e branco
A lágrima não corre
o sorriso não se esboça
da mente não escorre
nem da terra brota
um pensamento só
O olho não vislumbra
sinal de ti
E só o tempo não pára

Friday, May 19, 2006

Se um dia conseguires...

Serias capaz de olhar para mim e ler nos meus olhos a sinceridade do que te digo? Porque não falo pela boca, dos meus lábios não saem sons para te adoçar os ouvidos. Porque não é para ti que falo, nem por ti, mas é por nós que sonho.
Serias capaz de encostar a tua cabeça ao meu peito e escutar o que calo? Porque é aqui que aprisiono a fera brutal que somente soltarei quando me sussurrares o sentimento. Porque é aqui que represo a água das chuvas que inundaram o meu mundo.
Serias capaz de me dar a mão, fechar os olhos e sentir o meu ser? Porque é isso que desejo, é isso que aguardo pacientemente. Porque acredito que serás capaz, um dia que o queiras...porque sei o quanto és igual a mim e o que de diferente temos.
Serás um dia capaz de ler estas palavras e acreditar em mim?

Thursday, May 18, 2006

São...

São Anjos incandescentes que vejo cair do céu
São centauros e faunos que vejo correr à volta de Orion
São hiatos de tempo que vejo encolhidos nas tuas mãos
São efémeras luminescentes que vejo no manto escuro da noite
São Minotauros que vejo escondidos no labirinto dos teus jardins
São cometas fulgentes que vejo orbitar em torno da Lua
São os aneis de Jupiter que vejo adornar Io
São feixes de luz de todas as cores que vejo iluminar o espaço infinito
São harpas etéreas que ouço cantar aos meus ouvidos

Tuesday, May 16, 2006

What is your life path number?

Your Life Path Number is 8

Your purpose in life is to help others succeed

You are both a natural leader and a natural success. You are also a great judge of character.
You have a head for business and finance. You know how to make money.
A great visionary, you can see gold where other people see nothing.

In love, you are very generous - with gifts, time, and guidance.

You love to inspire people, but it can be frustrating when they don't understand your vision.
Great success comes easily for you. But so does great failure, as you are very reckless.
You are confident, and sometimes this confidence borders on arrogance.

Saturday, May 13, 2006

Homenagem aos Mamonas Assassinas e talvez a melhor musica dedicada a uma mulher que já ouvi

Uma Arlinda Mulher

(Dinho / Bento Hinoto)

Te encontrei toda remelenta e estronchada,
Num bar entregue às bebida.
Te cortei os cabelos do sovaco e as unhas do pé
Te chamei de querida
Te ensinei todos os auto-reverse da vida
E o movimento de translação que faz a terra girar
Te falei que o importante é competir,
Mas te mato de pancada se você não ganhar.

(Refrão)
Você foi agora a coisa mais importante
Que já me aconteceu neste momento, em toda a minha vida
Um paradoxo do pretérito imperfeito,
Complexo com a teoria da relatividade
Num momento crucial, um sábio soube saber
Que o sabiá sabia assobiar
E quem amafagafar os mafagafinhos bom amafagafigador será.

Te falei que os pediatra é o doutor responsável pela saúde dos pé
O "zoísta" cuida dos "zóio" e os oculista, Deus me livre, nunca vão mexer no meu
Pois pra mim você é uma besta mitológica com cabelo pixaim parecida com a Medusa
Eu disse isso pra rimar com a soma dos quadrados dos catetos é igual à porra da hipotenusa

(Repete Refrão)

Eu fundei a Associaçäo Internacional de Proteção às Borboletas doAfeganistão
Te provei por B mais C que a menina dos teus "zóio" não tem menstruação
Dar um prato de trigo pra dois tigres e ver os bichos brigando é legal que só
Pois nos "tira e põe", deixa ficar da vida serei sempre seu escravo-de-Jó

Tuesday, May 09, 2006

Estação: Limiar do Tempo

Oiço ao longe o comboio que se aproxima lentamente.
Vejo uma traça que esvoaça hipnotizada pela luz bruxuleante do candeeiro. O relógio da estação está parado. Do gabinete sai fardado o funcionário da Companhia dos Caminhos de Ferro, trazendo na mão a bandeira com que assinala partidas e chegadas.
Aproximam-se os paquetes com os carrinhos de bagagem prontos a carregar, as rodas chiando. Trocam meia dúzia de palavras sobre o que cada um vai fazer no final do turno, que está a chegar.
Um provável passageiro, senhor de porte altivo e fato de seda escuro, acende um cigarro enquanto faz uma pausa na leitura do jornal para observar a movimentação que se gerou. Solta uma baforada de fumo e displicentemente retoma a sua leitura.
Sentada no banco de madeira, encostado à parede, está uma senhora de aspecto discreto. Traz vestido um casaco de fino tecido, por cima de uma blusa branca. A saia xadrez cobre-lhe os joelhos. Uma écharpe na cabeça compõe o traje e protege-a do fresco da noite. A mala que está junto a si indicia que é uma passageira.
À chegada do comboio, o cavalheiro do fato de seda dobra rápida e habilidosamente o jornal, perfeitamente vincado, enfiando-o debaixo do braço. A senhora levanta-se do banco e, enquanto um dos paquetes se apressa a carregar-lhe a mala, aproxima-se da linha. Aparenta um misto de nervosismo e ansiedade, não se conseguindo perceber se se deve a uma tristeza pela partida ou à expectativa da viagem.
O fumo espesso expelido pela locomotiva encobre o céu e o cheiro a lenha queimada embrenha-se no ar. O comboio vai abrandando a sua marcha até se imobilizar à minha frente.
O cavalheiro do fato e a senhora do casaco de fino tecido embarcam, cada um em sua porta. Um senhor de cabelos brancos e bigode aparado encaminha-os aos respectivos lugares. Os paquetes carregam a bagagem no vagão lá do fundo.
Uma a uma, vou espreitando as janelas do comboio, olhando para o seu interior. Não encontro. Olho para o bilhete que tenho na mão...olho para o relógio cujos ponteiros se detiveram numa lânguida pausa e que dela não sairam. Tenho breves instantes para decidir se embarco...

Monday, May 08, 2006

Porque me apetece!

Deixo-me levar na correnteza dessa maré, fruto de um mar, filha de um oceano.
Esqueço a modéstia. Quero acreditar que sei aquilo que apenas presumo. Quero ignorar as incógnitas a quem responderam as certezas. Quero saber verdadeiras as ideias imaginadas que cultivo num sonho. Ilibo-me da culpa de chamar sensibilidade à vontade que seja verdade o que não quero acreditar que não é realidade.
Porque tu assim não permites. Porque gostaria que apenas o tempo fosse razão. Porque me olhas em procura. Porque me apertas. Porque me passas os dedos na mão. Porque as tuas palavras inocentes me ecoam e me fazem cócegas, mantendo-me acordado.
Porque quero confiar no instinto que me grita.

Sunday, May 07, 2006

Absinto

Inebriante...bebo-te copo a copo de um trago. Deixo-te macerar na boca e saboreio-te. Vicias-me. Dominas-me a razão. Sei que me fazes mal, mas continuo a beber-te. Não te consigo largar.
Alteras-me o espírito e alegras-me...desinibes-me, relativizas-me, fazes-me esquecer. Descontraio-me, e verto mais um copo...bebo-te de um trago. Um atrás do outro...vou-te bebendo até ao fim da noite.
E no dia seguinte...a ressaca. O regresso à realidade. O acordar com as certezas e o esquecer as incógnitas...

Friday, May 05, 2006

Desafio Aceite!

Respondendo à minha "amiga" Oxigénio, aqui vai!

Se eu fosse um mês: Julho, sem dúvida...o pino do Verão!!
Se eu fosse um dia da semana: Sábado
Se eu fosse uma hora do dia: 19h00 no Verão e 15:00 no Inverno. Nas outras seria o dia inteiro
Se eu fosse um planeta ou astro: Terra...cheia de vida!!!!
Se eu fosse uma direcção: Para a frente, obliqua para cima!!
Se eu fosse um móvel: Chaise longue
Se eu fosse um líquido: Vodka puro
Se eu fosse um pecado: A Lúxuria
Se eu fosse uma pedra: Se(i)xo...eheheheh...tinha que ter uma graçola
Se eu fosse uma árvore: Coqueiro! Para deixar cair os côcos em cima de gente parva LOOOL
Se eu fosse uma fruta: Melão...ai coração de Melão! LOOOOOL
Se eu fosse uma flor: Orquídea...(sim, tem mto a ver com o filme!)
Se eu fosse um clima: Tropical (desculpa as semelhanças Oxi)
Se eu fosse um instrumento musical: Trompete
Se eu fosse um elemento: Fogo alternado com Terra
Se eu fosse uma cor: Cor de Laranja
Se eu fosse um bicho: Porco-espinho...debaixo daqueles picos todos há...
Se eu fosse um som: Queria ser uma gargalhada constante!!!
Se eu fosse uma música: Hoje- Azul, em versão merengue do Christian Castro
Se eu fosse um estilo musical: Cheio de ritmo!!
Se eu fosse um sentimento: Euforia
Se eu fosse um livro: Quem comeu o meu queijo?
Se eu fosse uma comida: Chilli cheio de piri-piri
Se eu fosse um lugar: Praia
Se eu fosse um sabor: Limão
Se eu fosse um cheiro: L'Eau par Kenzo
Se eu fosse uma palavra: Amizade
Se eu fosse um verbo: Divertir
Se eu fosse um objecto: Confessionário
Se eu fosse uma parte do corpo: Braço
Se eu fosse uma expressão facial: Riso aberto e franco
Se eu fosse um personagem de desenho animado: Tazmanian Devil
Se eu fosse um filme: From dusk till dawn (adoro o Tarantino)
Se eu fosse uma forma: Elipse
Se eu fosse um número: 35 (o meu número no 1º e 2º ano...o unico número que nunca esqueci)
Se eu fosse uma estação: Rossio
Se eu fosse uma frase: Minds are like parachutes...they only function when they're open

Já agora aproveito e lanço o desafio a todos quanto vivem aqui no meu espacinho!!!

The Joshua Tree

Mormon pioneers are said to have named this species "Joshua" Tree because it mimicked the Old Testament prophet Joshua waving them, with upraised arms, on toward the promised land.

Agora gostaria que me dessem as vossas opiniões sobre os U2 terem dado o nome desta planta aquele que considero o seu segundo melhor álbum (depois de Rattle and Hum)...


Já agora:

rat·tle1 ( P ) Pronunciation Key (rtl)v. rat·tled, rat·tling, rat·tles v. intr.
To make or emit a quick succession of short percussive sounds.
To move with such sounds: A train rattled along the track.
To talk rapidly and at length, usually without much thought: rattled on about this and that.

hum ( P ) Pronunciation Key (hm)v. hummed, hum·ming, hums v. intr.
To emit a continuous low droning sound like that of the speech sound (m) when prolonged.
To emit the continuous droning sound of a bee on the wing; buzz.
To give forth a low continuous drone blended of many sounds: The avenue hummed with traffic.

Rattle and Hum foi provavelmente uma homenagem a todas as mulheres do mundo...rsrsrsrsrs

Bitchoman Salseiro!

Respondento ao desafio da minha amiga Zeni!!




Ora digam lá se não era assim que me imaginavam...

Thursday, May 04, 2006

No fio da navalha

Será possível que depois de tantas vezes teres jogado, sem nunca teres ganho, continues a apostar os teus sentimentos nessa lotaria de emoções? E que inconsequentemente continues a apostar no mesmo número?
Não terás tu respeito ao teu amor-próprio? Ao teu bem-estar? Será o prémio assim tão aliciante que estejas constantemente disposto a apostar o pouco que podes realmente dizer que é teu?
Talvez não devesses jogar tanto à sorte...não quando colocas tanto em risco. Algo que te custou tanto a conquistar e dispões-te assim a lançá-lo ao alto esperando que caia do lado certo. Ou és muito destemido ou muito tolo. Ou um pouco das duas.
Acarinhas assim tanto esse prémio que te coloques uma vez mais em cima do fio?
Se me dissesses que tens um plano científicamente infalível para contornares as estatísticas e os factos da sorte e do acaso, ainda te apoiaria! Mas sou incapaz de ver-te caminhar à beira do precipício e não te impedir de continuar.
Os amigos devem apoiar-nos incondicionalmente, mas eu sou incapaz de o fazer; não neste caso em que vejo como certa a fatalidade das consequências das opções que tomas. Abre os olhos, já to disse. Não sejas tolo. Uma coisa é sonhar com coisas inconsequentes outra é arriscares-te desta maneira e expôres o teus pontos mais vulneráveis à ignobilidade do destino. Que ainda por cima agora se afigura claro e óbvio.
Por favor, afasta-te da beira enquanto é tempo.

Wednesday, May 03, 2006

A previsibilidade é a maior inimiga da desilusão...
Espera o inesperado e nunca serás desiludido!

O Jogo

Há de facto pessoas deliciosamente viciantes (obrigado pela expressão Dra. D.).
Só assim se explica que mesmo contra a nossa vontade mais racional, fria e calculista estejamos sempre a cair no mesmo erro.
Em tempos, não muito idos, lembro-me que pediste a alguém que parasse com os jogos. E agora voltas a fazê-lo. Como teu amigo que sou, peço-lhe também que pare com isso. Para te ser sincero não percebo se o faz de forma consciente e manipuladora ou inocente e ingénua. Quero acreditar nesta última hipótese.
Por isso a ti peço-te, porque não concebo que o faças propositadamente, que tenhas um pouco mais de sensibilidade e tacto e que vejas que essa tua maneira de ser tão amistosa e descontraída pode muito facilmente ser mal interpretada (pelo menos por ele). Não te peço que te tornes fria e distante, mas que tenhas em atenção o facto de que o podes induzir em erro.
E a ti peço-te que abras os olhos de uma vez por todas, que cresças e que deixes de ser tão crédulo, tão sonhador e até mesmo infantil. Torna, de quando em vez, à Terra ou corres o risco, ao interpretares à tua conveniência esses sinais, como lhes chamas, tão desprovidos de significado como uma cebola, de te induzires em erro e uma após outra andares às cabeçadas às paredes. Dar uma pode ser sinal de inteligência; dar duas pode ser distracção; dar três já é burrice.
Por isso peço aos dois que abram bem esses olhinhos, porque já têm idade para ter juizo. Tu para veres as consequências dos teus actos sem intenção e tu para veres a insignificância dos actos dela.
Cresçam e apareçam!!

Tuesday, May 02, 2006

A beleza dos sentimentos, tal como a beleza da arte, está em conseguir partilhá-los com quem os compreenda.

Equador

Seria uma sorte a chuva que agora caísse, surgida num repente, caída em bátega, corrida numa enxurrada. Dois felinos pretos vagueando, o pêlo pingando, escorrendo, seus focinhos esconjurando pragas e ofensas. No rugido espressam o sentimento e a vontade da alma sob as garras arranhada e agraciada.
Simples, não é? A simplicidade animal na irracionalidade instintiva de responder momentâneamente aos apelos mais obscuros da humana natureza, esquecendo milhares de anos de evolução intelectual e social, dando total liberdade a que o corpo reaja como bem lhe apetecer e soltando as palavras do marasmo cercado a que se obrigam por força da chamada educação.
E neste calor húmido, suado, abafado, a dificuldade em respirar um ar tão pobre em oxigénio, vítima da temperatura e da ínfima réstia de amena brisa acariciada por um mar distante.
Simples, não é? Nem tanto assim. Fosse nossa a vontade, de um vento soprado com a veleidade de inibir grilhetas morais e permitir leviandades e levezas de consciência que nos deixassem ter comportamentos, que se entendem reprováveis, sem o peso esmagador do remorso, da culpa, do respeito.
Simples, não é?

Thursday, April 27, 2006

Olha...

Anda cá, quero mostrar-te. Queres ver? Cabe aqui nas palmas das minhas mãos e abri-las-ei para ti...se o quiseres.
Sim, eu sei. Mas ainda assim gostava que soubesses o que tenho. É pequeno, mas é o meu maior tesouro. Sabes? Hoje em dia é ás coisas mais simples que dou valor. Mesmo aquelas que quem as faz ou diz não lhes atribui grande importância. Como aquela lágrima que te escorreu pela face.
Calma. Não penses que acredito que tenha mudado alguma coisa. Não é isso. É apenas o facto de sentir que me começas a entender que me deixa feliz. E sobretudo que te consegui fazer a ti feliz. A mim, por momentos, fizeste-me feliz, hoje. Porque não o esperava. Sinceramente que não. Não esperava nada de volta e muito menos hoje. Fica descansada. Não estou com ideias. Apenas gostei que o tivesses feito. E ainda que o tenhas feito apenas por uma questão de educação, para mim tem um valor inestimável.
Acho que agora começas a compreender o que te estou a dizer. Não é tanto o conteúdo...mas sim o teres feito. Não estou a ler o que fizeste. Estou somente a apreciar o facto de o teres feito e de eu não o esperar. Obrigado

Wednesday, April 26, 2006

Desejos # 1

Esfumar-me na imaterialidade de um ideal
misturar-me no ar que respiro
e embrenhar-me na viagem do pensamento
Percorrer as distâncias
e ao chegar poder ver o que me é invisível
poder ouvir o que me é inaudível
e sentir o que não me é palpável
Saber quanto durará a lembrança
onde viverá o sentimento
com quem se partilhará o feito
Guardo nos bolsos os segundos
contados até ver a luz
que se quer acesa neste momento de ignorância

Tuesday, April 25, 2006

Querida D.

Não sei que dor é esta que me trazes, forçando todos os meus limites. Vergas toda a minha vontade pela raiz. Achei que estava pronto e vejo assim que talvez fosse melhor evitar-te. Tive o desejo de alcançar-te como nunca me senti levado a fazê-lo por ninguém. Toquei-te, sentiste, mas nada mais que isso. Dizes que te surpreendi, levei-te ás lágrimas querendo poupar-te a isso.
Apenas quis mostrar-te. O quê? Não sei. Talvez quem sou, na realidade. Quem se calhar nunca pensaste que sou. Que te ouvi quando me falaste. Que te entendi quando conversámos. Que sinto saber o que procuras. Talvez não saiba. Talvez sigamos por caminhos paralelos que nunca se irão encontrar, apesar de correrem lado a lado.
Desde que me contaste, soube o quanto era importante para ti...tal como se fosse meu. Quis que o soubesses. Não foi puro egoismo. Quis também oferecer-te algo que pudesses recordar. Algo que tivesse um significado profundo para ti. Algo que nunca te deixasse esquecer este dia.
Mas, confesso, queria ser eu a fazê-lo para que soubesses o quanto te conheço. E fiquei contente por te ter alcançado.
E agora, neste final de noite, não sei que dor é essa que me trazes. Sei racionalmente que o melhor seria a tua ausência, mas também sei...

Monday, April 24, 2006

“A todos os navios no mar e portos de abrigo em terra
Para a minha família e para todos os meus amigos e desconhecidos
Isto é uma mensagem e uma oração
A mensagem é que as minhas viagens me ensinaram uma grande verdade
Já tinha aquilo que todos procuram e que poucos encontram
Aquela pessoa em todo o mundo que nasci para amar para sempre
Uma pessoa como eu, da zona de Outer Banks,
do misterioso Atlântico azul
Uma pessoa rica em tesouros singelos que se fez aquilo que é
Um porto onde estou sempre em casa
Não há vento ou problema, nem mesmo uma pequena morte,
capaz de destruir esta fortaleza
A oração é pedir que toda a gente encontre um amor assim
e através dele seja curado
Se a minha oração for ouvida, toda a culpa e todos os remorsos serão apagados e toda a raiva será extinguida
Por favor Deus
Ámen”

in "As palavras que nunca te direi"

Friday, April 21, 2006

Acho que cheguei lá!

18/04/2006

E agora, enquanto vou mastigando a noite, vou também mordendo os pensamentos e roendo a falta que alguém me faz.
Sinto que já atravessei a inóspita estepe e já não estou isolado. Tenho-me a mim como companhia e, ainda que insuficiente, por enquanto basta-me. Encontrei-me comigo por aqui...Não é mau de todo. Acho que reaprendi e reencontrei o prazer de ser meu companheiro. Por vezes sinto necessidade daquele abraço, daquela cumplicidade e intimidade, mas isso já não me provoca sofrimento.
Por esta altura sou capaz de dar valor às vantagens do meu estar só e sentir que ainda o posso aproveitar por mais uns tempos. Sinto a tua falta, mas já não me deixas saudade. Nada mudou e tudo está diferente. Não estou melhor nem pior. Acho que me adaptei. Também aqui encontrei coisas boas. Disponibilidade, liberdade (de tempo, de escolha...), a atenção de pessoas que, de outro modo, não ma poderiam dar.
E por isso vou mastigando a noite, como algo saboroso e que deve ser apreciado com calma, tempo e prazer.

Thursday, April 20, 2006

Do you got a match? Well I do...

Um barco de madeira e o mar
Uma tarde de chuva e uma lareira
O sol e a lua
Férias e uma aventura no deserto
Laranja e azul
Um livro e uma rede
Gelado de baunilha e chocolate quente
Papel branco e uma caneta
Tranquilidade e uma vela de cheiro
Banho e uma cama acabada de fazer
Um passeio na praia e um pullover de lã
Eu...e tu!

Monday, April 17, 2006

Inside Out

Desta vez estou descalço. E não são pedras nem plantas espinhosas que piso. É terra. Macia, castanha escura e levemente húmida. Não de orvalho, pois não está fria. Cheira a clorofila, a verde, a fresco.
No meio de fetos e abetos com quase três metros de altura erguem-se árvores a vinte metros. Maciças, com casca grossa e firme. Não, hoje não há pássaros nem outros animais. Apenas silêncio. Nem vento, nem nuvens...apenas uma bruma leve...como que um fuminho.
Cheira-me a laranjas. Acabadas de descascar. E que ao serem descascadas aspergiram o seu sumo sobre tudo em redor. Não está frio. Não está calor. Diria que o ar aqui à volta está à exacta temperatura do meu corpo.
Ao andar não se ouve o restolhar da terra debaixo dos meus pés nem os galhos a partir-se sob o meu peso. Peso? Não ando...como que deslizo sobre a terra. Olho para baixo. É dela que exala esta neblina transparente.
E ao aspirar este ar, sinto que o meu organismo se limpa de todas as impurezas. Com o silêncio o meu raciocinio apura-se. A minha visão está mais nítida e sou capaz de sentir o andar das formigas debaixo da terra.
Ali ao lado vejo um regato de água límpida. Vejo-o, mas não ouço a água a correr. Estranho. Por mais que me esforce não consigo ouvir nada. Aliás nem ouço os meus pés que agora arrasto no chão tentando fazer barulho.
Quando falo, apenas ouço um conjunto de sons disformes. Se assobio, ouço gritos. Calo-me. Então começo a ouvir. A ouvir nitidamente uma voz que vem de dentro de mim. Não do peito, nem da alma, nem do coração. Deixem-se os poetas desses disparates.
É uma voz que vem da minha mente, do meu intimo sim, mas não da emoção. Da razão.
Sei quem és. Falo contigo todos os dias. Em todos os momentos é contigo que troco opiniões, discuto pontos de vista e converso sobre tudo e mais alguma coisa. Quase sempre é contigo que me confesso. Conheces-me tão bem como eu a ti. Ainda bem que aqui estás. Gosto de falar contigo.

Monday, April 10, 2006

O que estás a fazer?

Sopra essa névoazinha que me nubla o olhar. Diz-me lá, de que ris tu? Porque te aproximas tanto? És tu ou é ela? Ou nenhuma das duas?
Assim, sem que me desse conta, aproximaste-te. Acho estranha a maneira como o fizeste...bem, estranha não será o melhor termo. Se bem que neste momento as minhas faculdades andem muito erróneas...Além de que ninguém é bom juiz em causa própria.
Sabes porque te pergunto isto? Porque já vi essas atitudes e enlevos em outros tempos, em outras pessoas. Gosto...para ser sincero gosto. Fazes-me sentir bem. Porque, na verdade, neste momento já não procuro nada. Resolvi viver um dia de cada vez (na medida do possível) e aguardar serenamente o desenrolar da vida. Aquela sensação, aquele desejo de busca acalmou. Não sinto essa compulsividade impulsiva, e quase obsessiva, de ir atrás. Não, agora vou eu à frente.
Vejo-te comentar certas situações, coincidências ou observações e pergunto para mim próprio: "Que estás a fazer?". Não, não entendo bem o que estás a fazer. Mas na verdade já não entendo nada do que ninguém faz. E pergunto novamente: "Que estás a fazer?". Vais chegando assim, perguntando e metendo conversa. A medo, procuras apoio e cumplicidade nela. E ela alinha. Faz perguntas também. E sorri e conversa. Mas ela não comenta nem faz observações...como tu fazes. E cada vez que olhas para mim pergunto para mim próprio: "O que estás a fazer?".
Aqui há dias, de cada vez que me mexia, sentia que me observavas com receio que me fosse embora. Hoje, cada vez que me mexia, sentia que me observavas para ver o que estava a fazer...e às vezes tenho vontade de te perguntar: "O que estás a fazer?".
Esse teu sorriso, o teu olhar, o teu interesse em saberes coisas. Eh...pois... quem quer saber pergunta. E perguntar não faz mal. E comentar, toda a gente comenta. Na verdade, deixas-me curioso. Não é muito vulgar fazer-se o que tu fazes. Talvez noutros tempos, noutras idades. Não sei se é uma atitude defensiva ou uma estratégia ofensiva. Para ofensiva é um pouco desajustada...desajeitada. Para defensiva é ilógica...mais valia manteres-te no teu canto.
Sabes que mais? Deixa rolar, logo se vê...as coisas são o que são e deitares-te a adivinhar não te leva a lado nenhum.
Mas gostava de saber: O que estás a fazer?

Thursday, April 06, 2006

Se um dia...

Talvez eu até gostasse que me encontrasses...aqui. Assim, que fortuitamente me descobrisses. Que por um acaso aqui viesses dar. Não que te fizesse diferença, mas quem sabe se até gostarias do que descobrisses.
Conhecerias este pequeno mundo que criei onde, da mesma maneira que o fazes pela pintura, venho viver e reviver o que sou. Eventualmente até o que quero ser, ou desejaria ser. Tudo o que está aqui é puro e verdadeiro, nisso podes acreditar. Não aumentei nem diminui o que fiz. Apenas descrevi e descrevo o que vejo, o que ouço, o que sinto, o que sonho, o que desejo. Enfim, seria a mim que ficarias a conhecer.
Mas terias que me descobrir acidentalmente. Não me peças para te convidar. Não que não o queira, nada disso. Mas porque não quero que penses que tenho alguma intenção ao fazê-lo. É verdade...gosto que me tentem descobrir...mas por iniciativa própria e não por convite.
Não convido...nunca convidei ninguém a entrar neste espaço tão meu. Baixar assim a ponte levadiça, abrir a portada de ferro e escancarar a porta? Não consigo. Não me perguntes porquê...responder-te seria fazer precisamente o que mais me custa. Mas se aqui vieres dar no caminho da tua própria viagem e chamares por mim, poderás entrar à vontade. Faz da minha a tua casa. Escolhe os cantos e recantos, salas, salinhas e salões, quartos, sótãos e arrecadações que quiseres visitar. Podes abrir malas, arcas e baús, ler livros, escritos e pergaminhos, abrir garrafas, frascos e caixas, espreitar debaixo, em cima e atrás dos móveis.
Podes fazer o que te apetecer. Só não me faças perguntas...

Tuesday, April 04, 2006

Desta vez não

Falas-me com ternura. Sei que procuras algo quando olhas nos olhos. Sei que queres sentir calor quando dás as mãos. Percebo que procuras conforto e segurança num abraço. Mas desta vez não me vou deixar levar pela candura e carinho do teu trato. Não me vou enganar e julgar que sou diferente. Sou-o, mas não para ti. Para ti sim...mas não assim.
Sei o que buscas, mas não acreditas em mim...e por não acreditares, eu também não vou acreditar. Sei que és assim, simplesmente assim, e não comigo. Antes de encontrares o que procuras, e sobretudo o que sei que tanto queres, tens muitas outras coisas a resolver e terás que te encontrar. Porque a verdade é que neste momento estás completamente perdida, não sabes quem és nem como chegar onde queres.
Ninguém te poderá mostrar o caminho. Terás que ser tu a encontrá-lo. Todas essas questões que tens todos as temos, mas as respostas são diferentes para cada um de nós. E por isso a tua resposta é diferente da minha, a minha da dela, a dela da dele...
Não percas tempo com futilidades e coisas inúteis. Não percas tempo com o que te faz infeliz. Não percas tempo a procurar nos sitios errados. Não queiras que as respostas incorrectas sejam correctas. Esquece isso. Não penses, não analises, não remoas.
As respostas estão em ti e quanto menos força fizeres, mais facilmente elas virão até ti.

Friday, March 31, 2006

Gostava de ser uma vela...para que pudesse acender-me e iluminar o teu caminho.

Pensamentos

Já é tarde. É uma da manhã. Está tudo sossegado, os meus vizinhos estão em silêncio. Também os cães lá fora, nos quintais das vivendas, estão calados. Esta noite não se ouvem as sirenes das ambulâncias. Está tudo calmo.
Apaguei a televisão...já estava cansado de a ouvir. Disseram-me que a lua estava linda, mas a verdade é que nem reparei. Devia vir a pensar noutra coisa qualquer. Como agora, em que a única coisa que ouço é o zumbido das lâmpadas nos candeeiros lá fora, o tic-tac do despertador e um ou outro carro lá embaixo.
Podia estar à janela, mas já conheço a vista de cor. À minha esquerda o mar estende-se até ao Cabo. À minha frente germinam as moradias unifamiliares. À minha direita vejo as luzes dos automóveis que passam na autoestrada e ao fundo as encostas da serra. Tudo pontilhado pela luz laranja da iluminação pública.
Sim, está tudo sossegado...e à falta de distracção e de sono (provocada por uma bica tomada às sete e meia da tarde...ou não!) começo a pensar.
É um defeito que tenho. Não consigo que a minha mente descanse. Nem por um minuto consigo abstrair-me de pensar em alguma coisa, de ter ideias a girar na minha cabeça. E vou de umas para outras, correndo ligeiro, até me esquecer do caminho de volta. E então não tenho outro remédio senão continuar.
Se chego a alguma conclusão, não vale de nada porque não me recordo como cheguei a ela. Se não chego a conclusão nenhuma não posso voltar atrás, retomar o raciocínio e escolher outro caminho. Talvez por isso goste tanto de escrever. Assim que me esqueço do caminho que estava a seguir, só tenho que reler o que está para trás. E, assim como assim, mesmo que amanhã me esqueça que pensei nisto ou naquilo, ficou tudo registado.
Muitas vezes também penso para me distrair ou para me desviar de determinado assunto que me desagrada. E então forço uma derivação, uma divergência, e começo a divagar por um tema diferente. Com isto acabei por desenvolver muitas teorias, filosofias e pensamentos avulsos sobre as pessoas e o Mundo (leia-se Universo). Porque sendo estes os meus temas preferidos de reflexão, a verdade é que as pessoas me fascinam.
Perco horas em cada dia a compilar mentalmente análises, observações, ideias, sugestões, motivações, intenções e outros elementos acabados em "ões" sobre as pessoas. O que fazem, porque o fazem, o que escondem, o que pretendem na realidade, o que querem, o que esperam, com que sonham, o que desejam, do que têm medo, o que as assusta, o que as alegra, entristece, preocupa ou descansa.

Wednesday, March 29, 2006

Pelo menos uma vez...

Alguma vez te deitaste na erva, fechaste os olhos e aspiraste o aroma de uma manhã? Alguma vez foste capaz de esquecer o mundo, tudo o que te atormenta e ouvir os pássaros? Alguma vez ignoraste o relógio, apreciaste o compasso lento da natureza e te deixaste ali ficar? Alguma vez sentiste a brisa morna do inicio do dia, com cheiro a pão quente e flores a despertar? Alguma vez sentiste o prazer do vento a despentear-te, da chuva a abraçar-te ou do sol a beijar-te? Alguma vez te deixaste ir de costas na corrente do mar, com os ouvidos abafados pela água e olhaste o céu? Alguma vez conseguiste ver todas as constelações no céu, uma estrela cadente e sentir que tens companhia lá?
Não?? Então ainda não viveste...

Monday, March 27, 2006

23h38m

Fugazes momentos em que perpassas diante dos meus olhos, iludindo a realidade. Continuo, de tempo a tempo, a ver um novo episódio, uma nova cena desse filme. Apagam-se as luzes, baixo as pálpebras para abrir os olhos e desenvolve-se a acção. Os mesmos protagonistas, o mesmo enredo, em cenários diferentes.
Afinal não morreu o desejo, não morreu a esperança, não morreu o sonho. Tentei afogá-lo numa chávena de chá e cobri-lo com as folhas da infusão. Apago esses momentos, assumo-me como realizador do filme e determino quais as cenas a cortar. Uma, duas, três...tantas quantas as que insistem em se projectar diante dos meus olhos. E por cada uma que corto, mais uma me nasce dos recônditos do meu subconsciente.
Crêem-se em crenças e filosofias antigas e procuro mudar o elenco. Mas este filme parece ter sido feito para ti.

Tundra

Vou galgando esses montes e planícies, o mar como destino. Os pés feridos pelas pedras que amortecem o andar e os tornozelos arranhados pelas silvas e cardos que me aconchegam as pernas. Estou morto de sede e fome. Cada passo ressoa-me em todo o corpo como uma pancada seca que me amassa os músculos.
Arrasto as botas rôtas e com as solas desfeitas pelo meio da serra. Sinto no ar o cheiro salgado da maresia, imiscuído com o aroma forte das urzes e dos dentes-de-leão. O cajado, nobre companheiro com a ponta gasta e o cerne rachado, geme a cada solicitação de apoio.
Os ossos ressentem-se com o frio e a humidade, e a barba crescente alberga os poléns e o pó que se esfuma da terra que piso. O cabelo despenteado pelo vento cortante, arrepia-se com o frio da nortada. Aperto o casaco, tentando proteger-me da chuva miudinha que começa a cair. A unica carícia que tenho sentido na face nestes ultimos tempos.
Aqui e ali vejo pequenas casinhas com as suas chaminés fumegantes, respirando o fogo crepitante que aquece os sertões onde fervem as sopas. Ninguém me convida a entrar. Preferem ignorar-me. Prefiro ignorá-los também. A sensação de que o faço por escolha própria disfarça-me o toque áspero da indiferença.
Não lhes interessa a minha jornada...têm que se preocupar com a deles. Aperto o chapéu contra a cabeça, agarro as abas do casaco e olho em frente. Ainda me falta um bom bocado...

Thursday, March 16, 2006

Decisões dificeis

Partida indesejada
Necessária, mas inesperada
Falhei, eu sei
Mas foi com boa intenção que errei
Depois de cometido
tentei que esse sofrimento fosse diminuido
Se se assemelhasse a realidade à imaginação
teria tomado outra posição
Queria ter esse poder ansiado
para emendar o que fiz no passado
Mas não o posso fazer
resta-me apenas com as consequencias viver
E até ao fim da vida desejar
que o mal que te fiz não te venha a prejudicar
E que na tua consciência inocente
algum dia compreendas este acto dependente
Não consegui dar-te um carinho tão merecido
E, por isso, do que fiz estou arrependido

Monday, March 13, 2006

Uma nova companhia



Olá a todos! Hoje vim aqui para vos apresentar a minha nova amiga! Chama-se Pipa, tem três meses e está comigo desde ontem! Fui buscá-la a Sesimbra a uma das inúmeras Associações que acolhem animais com as mais tristes proveniências!

Aproveito para vos pedir que divulguem!! http://www.bianca.pmnetbusiness.com/

Bjnhos e Abraços

Thursday, March 09, 2006

Ontem à noite...

Decidi vestir a minha camisa vermelha. É talvez a que acho a minha melhor camisa e, como tal, tem estado no roupeiro guardada para as ocasiões especiais...mas o que é certo é que ontem me dei conta que há meses que estou à espera de uma ocasião especial para a vestir. E por um motivo ou outro nenhuma ocasião tem sido suficientemente especial para a vestir...ou então na altura acho que outra cor me ficaria melhor. Enfim, acabei por lembrar-me de uma história semelhante que já ouvi por duas vezes, em que alguém também guarda uma peça de roupa para uma ocasião especial e por infortúnio do destino acaba por morrer sem nunca ter essa ocasião especial. Acredito que a história seja fictícia, mas mais do que plausível, a verdade é que se olharmos bem para nós próprios veremos quantas vezes deixamos de usar aquela peça de roupa, aquele perfume, aquele relógio, ou pior ainda deixamos de dizer ou fazer as coisas por acharmos que não era o momento oportuno, que não era um momento especial. Por mim falo quando digo que ontem me apercebi de quantas coisas tenho deixado de fazer, quantas oportunidades tenho perdido por achar que não é o momento certo...
Pois bem, ontem à noite achei que hoje (porque ontem já não ia sair) era um dia suficientemente especial para vestir a minha camisa vermelha. Porque simplesmente eu assim o decidi. Porque tenho visto que apesar de nem sempre as coisas correrem pelo melhor, tenho que de facto sentir-me feliz por ter uma familia que me adora, ter amigos de verdade, e todas aquelas coisinhas simples que fazem o nosso dia a dia. Sim, ainda sinto falta de algo...mas hoje é um dia especial simplesmente porque EU quero!

Wednesday, March 08, 2006

Porque hoje é o vosso dia...

Minhas lindas!Amigas (e até às inimigas!), conhecidas, por conhecer, altas, baixas, gordas, magras, bonitas e feias....a todas vocês eu quero desejar um feliz dia da mulher. Porque, o que é muito verdade é que, apesar de todas as barbaridades que dizemos e fazemos (na brincadeira...ou não!) , não podemos passar sem vocês. Por muito que nos queixemos, são as mulheres que nos aturam, que gostam de nós, que nos acarinham...e que, para alguns, ao fim do dia têm aquele cafunézinho para nos fazer esquecer o que quer que tenha corrido mal! E para os outros, às vezes só a vossa atenção já vale ouro...

E quanto às que fazem parte do meu leque de conhecimentos, amizades, pré e pós namoros (algumas...) um obrigado muito especial por fazerem parte da minha vida!

Mas deixo aqui um PARABÉNS muito especial para as três mulheres mais extraordinárias da minha vida: a minha Mãe, a minha Avó e a minha Irmã!!!!

Monday, March 06, 2006

Fraco espírito

Fraco espírito que perante o que tanto deseja se assemelha a um animal assustado diante das luzes de um comboio prestes a atropelá-lo. Fraco espírito que tendo aquilo por que tanto anseia comete o mesmo erro e sofre o medo de tomar o que lhe é concedido. Fraco espírito o que treme ante a possibilidade da derrota esquecendo a da vitória. Fraco espírito para o qual o receio da rejeição se sobrepõe ao prazer da aceitação. Fraco espírito que tanto acredita na coragem e na valentia e que vacila no momento decisivo. Fraco espírito que teme mais arrepender-se do que fez do que arriscar no que deve fazer. Fraco espírito que chora uma batalha que não travou...

Thursday, March 02, 2006

Fiapos de luz esbatida que se revela nua na tua alma, a maciez de um mel vertido em lágrima numa porção de vinho.
Aquece-me a chama lenta de um côto de vela dançando no meu olhar, vislumbrando numa parede um manto branco a coberto da noite.
Aqui, deitado, de olhos postos no céu, ergo-me dos lençois que me embalam, transformando-se em tecidos mágicos que me embrulham e, assim levitando, vou seguindo no meio das estrelas tocando-as uma a uma com a ponta dos dedos. Acredito poder tomar-lhes um pouco do brilho e do calor. Acredito conseguir roubar-lhes um pouco do aroma doce que transpiram e perfumar-me com ele.
E então, banho-me nesse lago prata de luz gelada que incendeia o breu e inspira os corações mais meigos, despertando-lhes instintos selvagens. Purificar a alma e o ser, libertar o espírito e a mente e descansar o corpo. Sem pedir demais, os mágicos tecidos que me embrulham tornam-se agora majestosas vestes simples, de gosto cuidado e discreto, envolvendo-me a pele num abraço de cetim, separando-me do ar que me circunda.
É uma gota que me escorre, limpando-me a face e matando-me a sede ao tocar-me nos lábios. Sinto-lhe o gosto salgado do mar de onde veio e o tom amargo do sedimento que transporta no seu seio. Vem carregada de lembranças e recordações. E uma outra escorre, descendo pela outra face, com sabor salgado a desejos e sonhos.
Desperto...não saí daqui sem sequer cá ter estado.

Só não consigo desistir...

Moagem fina destes dias
Pacientemente vou moendo o grão a pó
Misturas transigentes para lhe tentar realçar a essência
Vou experimentando gramagens diferentes

Dou o melhor de mim
e recorro a ensinamentos alheios
Aquecendo a água sem a deixar ferver
sobre fogo de lenha

Engasgo-me com as primeiras tentativas
Tento resguardar-me dos erros
E muitas vezes me vejo obrigado
a voltar ao inicio

Revolto-me, exalto-me, reajo
queimando tanto quanto o fogo que me aquece
chiando e borbulhando irracional
pronto a desistir

E logo lhe sinto o aroma
agarro o moinho e reduzo mais uns grãos a pó
Sinto que o melhor que posso ter está perto
Remisturo os sentimentos

Um grão debaixo da lingua
Vou-lhe tomando o gosto
aguardando que o seu sabor
me desperte os sentidos

Como o vento...

"Dejemos que los sueños se apoderen del deseo...
Dejemos que lo cierto sea lo que imaginámos..."
Heroes del Silêncio

Faço promessas a mim mesmo que não vou cumprir. Sinto o calor do sol que me arrefece pela tua ausência e tomo resoluções, determinadas no momento, que se esfumam num pensamento...no teu pensamento.
Basta sonhar-te para que me esqueça a mim próprio e deixo levar-me pelo desejo. São escassos momentos de lucidez, uma clareira na floresta em que me embrenhei. Busco paz, sossego e tranquilidade e contraditóriamente só as encontro quando me invades os pensamentos.
Apenas um relance da tua esfinge e tudo o mais é esquecido, deixo de ter deveres e obrigações e tu és tudo. O som da tua voz derrete o mais duro dos ressentimentos e a tua doçura muda o rumo das minhas vontades. Mas queria entender-te, ler o que te vai na alma, compreender-te e saber o que procuras. Gostaria de saber porque não consigo simplesmente deixar-te ir. Porque não consigo cumprir as promessas que me fiz...porque consigo manter-me no caminho quando quero mudá-lo.

Friday, February 24, 2006

Virás?

E enquanto espero por ti, vivo na esperança de que virás, de que te levarei e trarei comigo. Dir-me-ás que sim, que queres vir comigo. Nada de especial tenho para te dar, mas simplesmente adoro estar contigo...como há dois dias atrás estivemos tanto tempo juntos.
E adorei o que fizemos. Algo tão simples, tão irrisório, mas tão carregado de significado porque para ti representa uma nova etapa na tua vida e para mim um prazer enorme estar a participar dela.
Mas não consigo ainda compreender-te. Dás com uma mão e tiras com a outra...fico confuso. Apenas certo do que quero. Até agora ainda não me disseste que não virias e isso dá-me esperança de que venhas a aceitar...algo tão simples, tão comum, mas tão importante para mim.
Faz-me feliz...diz-me que vens...tenta a tua felicidade também!!

Wednesday, February 22, 2006

No fim desta tarde!

Não sei se conseguirás alguma vez sonhar
de que tamanho me tornaste
quando na penumbra do dia
me fizeste ouvir a tua voz para me chamar

E mesmo sentindo-te cansada
deixaste as horas voar
e um pouco a medo deixaste-me entrar
abriste-me as portas da tua casa tão sonhada

Eu quis saber de ti
e em momentos perdeste o receio
deste-te a conhecer
e gostei do que te senti

Eu vivo-te
percebo-te na duvida
como que avaliando o que espreita
escutando alerta quem se aproxima

Não tenhas receio, acredita, confia
Estou aqui de alma limpa
Vem comigo, dá-me a mão
Experimenta-me

Dou-te o tempo que precisares
Dou-te o espaço que quiseres
Seguiremos ao nosso tempo
Daremos os passos que temos a dar

Monday, February 20, 2006

Querias saber o que era...

Não é medo de ficar
é a dor de estar só
É a saudade de perguntar se podemos ir
É a recordação de um abraço
É o chegar a casa e afogar-me no silêncio
É ver os filmes sozinho
É não ter com quem discutir o que vai ser o jantar
É ser pequeno demais para aquela cama
São as minhas roupas sozinhas nas gavetas
É o passar o dia isolado naquele escritório
É rir e chorar sem companhia
É uma escova de dentes sem par
É uma almofada que não se usa
É o sentar-me sempre no sofá pequeno
É ser sempre eu a escolher o canal da televisão
É ouvir sempre a mesma rádio
É fazer sempre o mesmo caminho e o mesmo tempo
É sonhar constantemente para adormecer
É vontade de chorar duas lágrimas em vez de uma
É acordar todos os dias à mesma janela
É uma colher, um garfo, uma faca
É não ir de férias...porque enfim...sozinho não tem graça
É lembrar os telefonemas a meio do dia "Como é logo?"
É escrever isto por não ter a quem o dizer
É o querer que me adormeça nos braços enquanto lhe acaricio a cabeça
É ter vontade de comer uma sobremesa a meias
É andar no carro sem ninguém
É não andar em mais lado nenhum por não ter ninguém
Bem, acho que percebes a ideia...

Sunday, February 19, 2006

Quem és?

Tanta coisa escrita a pensar em ti
Sem saber o teu nome
sem nunca te ter conhecido
Sentimentos que há muito vivem aqui
buscando quem com eles se identifique
quem os quiser receber
Esperando agitados e ansiosos pela tua chegada
vivem do sonho e do desejo
Alimentam a esperança de te encontrar
Que compreendas, assim, porque nasceram
porque latejam ainda em mim
Ainda que não tivessem o teu nome
é a ti que os quero dar

Saturday, February 18, 2006

Não a esqueceremos!

Expirou num momento
No seu ultimo sopro de vida
Lembrança, doçura, sentimento
Fica agora entre nós

Acarinhou a vida com Amor
Alegria, Altruismo e Felicidade
Findou-a com sacrifício e dor
nos ultimos instantes da sua jovem idade

Plena de sentimentos puros
Sempre com uma palavra amiga para dar
Mesmo nos momentos mais duros
Revelava meiguice no olhar

Vai agora...
Deixemo-la partir
Recordemo-la com saudade
Lembremo-la dia a dia

à minha tia Nanda 15/08/1950 - 18/02/2006

Thursday, February 16, 2006

Filosofia de Vida

Fechados que estamos nestas arenas, presos ao sentimento de revolta e desgosto, amargurados pela tristeza, deixamos de acreditar no futuro.
Enclausuramo-nos em conchas que supostamente nos protegerão dos perigos e injúrias do exterior, mas que mais não fazem do que limitar-nos a uma existência sem vida, sem fogo, sem paixão.
Não sou eu, não sou assim e por isso me custa tanto entender os que preferem cobrir os olhos com as mãos, tentando assim não sentir, receando a euforia de viver e o risco de morrer, agarrando-se ás suas memórias numa vã tentativa de reaver o passado e preconizando, deste modo, uma falsa segurança proporcionada pela irreal forma de viver que escolheram. No fundo, preferem permanecer em território conhecido, ainda que virtual pois o passado é o que era, num meio que lhes é familiar, tal como uma fotografia imobilizada no tempo e que, por definição, não se alterará - nem para melhor nem, certamente e mais importante, para pior.
Eu optei por um outro caminho. O caminho da incerteza, do desconhecido, do risco. E é essa ignorância do futuro que catalisa a adrenalina no meu organismo e me faz sentir vivo. É a constante sensação de que por muito bem que esteja hoje, amanhã poderei estar melhor. Porque, ao invés dos outros, eu não escolhi a fotografia...se hoje não estou mal, amanhã pelo menos não vou estar pior...vou estar igual - pensam eles.
Por isso não estagno, não me resigno, não me conformo. Enquanto os elementos que compõem o meu cenário não estiverem no sítio certo, é tempo de ir à luta, de batalhar, de trabalhar por aquilo que quero, onde quero e quando quero.
Idealista, sonhador, irrealista...chamem-me o que quiserem...Minha vida é realizar os sonhos que idealizei.

Tuesday, February 14, 2006

O Lago

Um pequeno botão branco reluz no céu iluminando as águas por sobre as quais caminho agora. Pé ante pé, vou deslizando na sua superfície espelhada, reflexo de um lago tranquilo, no silêncio da noite.
Ouço os grilos que enchem a noite com o seu canto sereno e ritmado marcando o tempo em que entram as cigarras e o mocho. Estás por perto, sei que sim. Vou chapinhando nas tuas margens, arrastando as pernas lentamente, sem pressa de chegar a lado nenhum.
É aqui no sossego desta noite que quero ficar, contigo a olhar para mim, assim envergonhada e nervosa, sem saberes muito bem o que dizer e com tanta vontade de falar.
É aqui na tua companhia e na nossa solidão que quero ficar. Quero dizer-te coisas que nunca disse a mais ninguém, quero que me oiças atentamente, e que depois me fales de ti.
É aqui no silêncio da nossa cumplicidade que quero viver. Estou confuso, sei que estou. Ou receoso de confiar nestes olhos que me enganaram uma vez. Já não posso confiar na minha razão, toldada que está pelo desejo.
É aqui no calor do teu abraço que quero dormir e finalmente descansar. Esquecer todos os meus receios e acreditar em ti. Quero aliviar o peso que trago nos ombros e sentir que cheguei a casa, que é a ti que pertenço, que é contigo que vou ficar.
E hoje senti isto novamente, quando vi esse botão brilhar no teu olhar.

Monday, February 13, 2006

Quantos de vocês...

Já olharam bem, com olhos de ver para a vossa vida? Quantos de vocês já se sentiram realmente felizes por terem aquelas pequeninas coisas que lhe dão sentido? Coisa simples...não falo de uma boa casa ou um bom carro, de um bom emprego ou de um bom ordenado. Falo de coisas pequenas, às vezes tão insignificantes que parecem triviais e nem lhes damos importância. De coisas tão simples que só lhes damos valor quando lhes sentimos a falta. De coisas tão importantes, que apesar de nem darmos por ela, não conseguimos viver sem elas.
Não esperem por perdê-las para as apreciarem. Valorizem-nas tanto quanto elas merecem e tanto quanto precisam delas!
Ás vezes é um abraço, um beijo, uma palavra amiga...qualquer coisa...o que sentirem que vos faz felizes! Façam-no, porque a vida é de facto demasiado curta para ser desperdiçada e sobretudo o nosso tempo é demasiado valioso para ser perdido!

Bjnhos e abraços a todos quanto lêem este espacinho e a todos aqueles a quem este post consiga chegar!

Friday, February 10, 2006

Busílis Basilar

Vivo vidas que não são minhas, em mundos a que não pertenço. Choro lágrimas aquecidas por este fogo, alimentado pelo vento que sopra sobre a terra, aguardando a chegada de um quinto elemento.
Caminhando ansiosamente no limbo entre a realidade e o sonho, agradável forma de preencher as lacunas do meu mundo com histórias imaginárias, seres de ficção e relações solidárias, tristezas reais e companhias solitárias.
Lado a lado, acompanham-me almas que padecem e se compadecem com a minha natureza inintelígivel para os inexperientes desta caminhada, que sós ou relacionadas se sentem tão incompletas como eu. Descrentes e desacreditadas, acreditamo-nos umas às outras numa fé fatal, fatídica e fadada de que o nosso fado não é este, mas caminho fundamental.
Sinto-me cansado das longitudes que já toquei e das latitudes em que andei, vinte e quatro vezes trezentos e sessenta e cinco menos hoje. Estou extenuado pelas securas, agruras e amarguras que me castigaram e fustigaram a couraça que enverguei, de todas as vezes em que caí e depois me levantei, empurrado e esmagado neste caos sem ordem nem lei, desta estátua ambulante que não era e me tornei.
Gostaria de me sentar, pegar numa escova e pentear as ideias, que ficassem alinhadas como as avenidas de uma cidade moderna, organizadas e orientadas a sul, para que apanhassem o sol de nascente a poente, deitadas à brisa dormente de um final de tarde de verão, com cheiro a mar e limonada fresca, depois de um banho perfumado a caminho de uma festa, com roupa lavada e o cabelo cortado.

Tuesday, February 07, 2006

Porque sim!



Chateia-me ter que mostrar um sorriso quando não me apetece sorrir. Chateia-me ter que me mostrar bem disposto quando tudo o que quero é estar sozinho. Porque toda a gente me vê sempre alegre não tenho direito a estar chateado, triste, irritado ou simplesmente cansado.
Porque detesto que me perguntem o que tenho. Porque detesto que me perguntem o que se passa. Porque detesto que me digam que não estou bem. Porque detesto ser obrigado a estar feliz e com um sorriso nos lábios 24 horas por dia.
Porque não quero que saibam. Porque ninguém tem nada a ver com isso. Porque só quero falar quando me apetecer. Porque sou diplomata e quero estar sempre bem com toda a gente. Porque quero que pensem em mim como aquele rapaz que está sempre bem disposto. Porque quero que pensem que a qualquer momento se podem apoiar em mim. Porque quero que julguem que sou sólido como uma rocha e que estou sempre disponível. Porque quero ser sempre eu a ajudar os outros.
Porque hoje estou de facto cansado. Porque hoje sinto que também eu merecia. Porque achei que era a minha vez. Porque peço tão pouco e sinto que dou tanto. Porque não quero nada em troca. Porque quero que todos estejam bem. Porque quero que sejamos felizes.
Porque faltaste hoje?
Obrigado pela imagem G.

Monday, February 06, 2006

Porque será?

E agora, no meio de todo este alvoroço, consigo manter-me tranquilo. Estou a estranhar conseguir dominar a ansiedade e a agitação, e sentir-me seguro. Terá sido pela sinceridade? Não sei, não faço ideia. Apesar de continuar a fantasiar e a construir sonhos, é apenas algo que quero sem deixar que isso me entusiasme em demasia. Fico feliz quando penso nisso, quando penso em ti. Fico feliz quando penso no que pode acontecer, quando sonho com o que gostava que acontecesse...mas sinto-me calmo ainda assim. Custa-me esperar, mas já não me doi. Custa-me a distância, mas já não me fere. Contigo, apenas tenho coisas boas...

Friday, February 03, 2006

Receita

Não há fórmulas para a felicidade, mas aqui vai uma modesta recomendação.
Confiem na sorte, deixem o acaso fazer o seu trabalho e escutem o vosso coração. Ajam de acordo com vós próprios. Escutar opiniões é bom, mas em certos casos é preferível fazerem aquilo que acham certo e não o que os outros acham!
E depois, é só aproveitar as oportunidades que surgem, sem medo!! Confiem, pq o q é pra ser será mesmo!!!!!


P.S. : desculpem os pq e os q...estive a mandar umas sms!!

Thursday, February 02, 2006

Aromas e Cheiros

É engraçado ver como os aromas e os cheiros são capazes de despertar em nós determinadas recordações. Há pouco entrei no carro e senti um aroma que há muito não sentia...e um aroma bem característico. Fez-me lembrar duas pessoas a quem eu e os meus pais muito devemos: a Edite e a Tété. Duas primas da minha mãe que nos acolheram durante dois anos na sua casa, em 1975, quando chegámos a Portugal, apenas com a roupa que trazíamos no corpo e uma pequena mala com os pertences de um bébé nascido havia 28 dias.
Nunca esquecerei estas duas pessoas, não só pelo que fizeram por nós, mas pela ternura com que me tratavam. Desde darem-me de comer, a vestirem-me, brincarem comigo e inclusivamente fazerem-me diabruras (de uma das quais tenho hoje uma fotografia), trataram-me quase tão bem, porque igual é impossível, como a minha mãe.
Há uns meses atrás, estive com a minha mãe precisamente na rua onde morámos nessa altura, uma paralela à Av. da Igreja, em Alvalade, e é curioso como, apesar da minha idade, ainda me lembrava perfeitamente onde era a casa. Também a minha mãe adorou, não só o passeio, como o relembrar desses tempos em que no meio de preocupações e desespero, houve sempre lugar para tanto amor e carinho. O meu pai, apesar de não estar presente, certamente também se lembraria da rua, das lojas, dos vizinhos, do quarto onde tanto se esforçou a estudar para proporcionar à nossa familia (irmã incluida, que viria a nascer dois anos mais tarde) a melhor qualidade de vida que pudesse. Nem sabem eles o quanto lhes estou agradecido por tudo o que fizeram e têm feito, tanto por mim como pela minha irmã.
Foi bom por momentos recordar essas histórias que se passaram há 28 anos e que nunca esqueci e jamais esquecerei. Obrigado mãe, obrigado pai...e em especial (neste post) muito obrigado a ti Edite e a ti Tété por tão desinteressadamente nos terem ajudado quando mais precisámos!!!

Um beijo grande do Nicas (batatinha...miudinha...douradinha, acabada de fritar!)

Wednesday, February 01, 2006

Caminhos

Afinal não foi em ti que encontrei o que tanto procuro. Mas por sorte, acredito que o Acaso me pôs no caminho certo. Simplesmente não era para ser, talvez. Ou então era para ser como está a ser. Se calhar, se as coisas se tivessem passado de forma diferente, não teria seguido este caminho, nem tu o teu, nem ninguém o seu. E se era assim que as coisas tinham que ser, pois bem, ainda bem que foram porque estou a adorar percorrer um novo caminho. Um caminho que sinto meu por natureza, e não porque quero que seja o meu. Espero que desta acerte.

Tuesday, January 31, 2006

Diário de Bordo

23 de Abril de 1881

Há semanas que não vemos vivalma. Os porões estão vazios e começámos a racionar os mantimentos. Apesar de o tempo ter amainado e o mar estar tranquilo, não temos tido sorte com a pesca. Ordenei que mantivessemos a nossa rota na direcção do vento afim de recuperarmos o tempo perdido.
- Nau à vista - gritou o vigia, do alto do cesto da gávea.
- Imediato, o meu binóculo.
- Aqui está meu capitão.
Uma embarcação de grande porte distinguia-se na linha do horizonte.
- É o "Arquisalsa" - disse eu - traz as velas a meia haste. Talvez o consigamos alcançar. Aproximemo-nos.
- Baixem a vela de mezena, a do mastro principal e soltem o lastro - vociferou o meu imediato.
- Timoneiro, rota de aproximação. Atenção ao vento. Prôa à corrente. Fechem todas as escotilhas.
Perante as instruções, a tripulação assumiu os seus postos e rapidamente aumentámos a nossa velocidade.
- 1º Oficial, sinalize-nos ao "Arquisalsa" e peça-lhes que nos aguardem!
- Sim meu capitão!
- Vigia, temos resposta? - questionei.
- Ainda não meu capitão, julgo que ainda não estamos suficientemente próximos.
- Desfraldem as velas secundárias e bordem o flanco. Imediato, calcule a nossa velocidade, não quero seguir a menos de 29 nós!
- Sim meu capitão!
Pouco depois comecei a aperceber-me que nos estávamos a conseguir aproximar. Restava sabes se o Arquisalsa tinha recebido a nossa mensagem...

Sunday, January 29, 2006

O perigo de sonhar


Tenho para mim que sonhar (a dormir ou acordado), no sentido mais lato da palavra, é uma das dádivas mais importantes do ser humano. Por um lado porque nos sonhos tudo é possível, por outro porque é neles que se revela todo o nosso ser sem as condicionantes do social e políticamente correcto. É neste mundo que temos total liberdade para sermos quem somos e para sermos quem queremos ser.
Todavia, é uma linha muito ténue a que separa a realidade do sonho, e se por vezes é muito fácil manter essa fronteira, o caso muda de figura quando confundimos o sonho com a realidade. Muitas vezes, o descontentamento com a realidade pode levar-nos a viver um sonho, situação que pode ser perigosa.
Já por várias vezes dei por mim a "apaixonar-me" por um sonho ao ponto de idealizar pessoas, objectos, situações, etc. , sem sequer ter um conhecimento superficial que seja desse(s) elemento(s). Se na maior parte das vezes me foi fácil reconhecer que se tratavam de um produto da minha imaginação, casos tenho em que deixei de tal modo que o sonho se imiscuisse na realidade que acabei por confundir uma coisa com outra.
Um pouco como Icaro, acreditei que poderia voar até ao Sol.

Acaso e Destino

São duas palavras com um profundo significado e um enorme sentido na minha vida. Sou apologista de que de facto o nosso Destino está traçado desde o momento em que nascemos. Entenda-se Destino aqui, não como o desenrolar da nossa vida, mas sim como os principais marcos que constituem a sua essência. Temos um ponto de partida, o nosso nascimento, e um ponto de chegada, a nossa morte. O que fazemos entre estes dois inevitáveis constitui a nossa vida. Obviamente, enquanto seres inteligentes que somos, cabe-nos a nós escolher o caminho que percorremos, por vezes condicionados por variáveis que não controlamos. Mas maioritariamente é nossa escolha, e consequentemente nossa inteira responsabilidade, optar perante as bifurcações que se nos apresentam.
De uma forma um pouco mais esotérica, actua o Acaso. Partindo do pressuposto de que o Destino já está definido, o Acaso actuará, de forma mais ou menos perceptível, no sentido de nos manter em direcção a esse Destino.
Já me aconteceram dezenas, centenas ou mesmo milhares de vezes, ocorrências extraordinárias, com probabilidades inacreditavelmente ínfimas, situações, compreensíveis no momento ou apenas mais tarde, para as quais não contribuí minimamente e que influenciaram de forma mais ou menos significativa a minha vida.
Posso dar como exemplo, uma rapariga que vi pela primeira vez há meses atrás. Vi-a unica e exclusivamente uma vez, que foi a suficiente para me deixar uma boa impressão a seu respeito, e depois disso nunca mais voltei a vê-la.
Agora, meses depois repito, os nossos caminhos voltaram a cruzar-se, e inexplicavelmente tenho-a encontrado algumas vezes nos locais mais inusitados e inesperados. Primeiro porque são locais que não frequento habitualmente (ou melhor dizendo, que frequento muito raramente) e em segundo porque invariavelmente tomei a decisão de ir a esses locais de forma quase impulsiva e em cima do momento, sempre por ir acompanhar outras pessoas, isto é, nem sequer lá vou por minha iniciativa.
Não procuro explicações para estes factos porque, como ficou patente atrás, tenho como ideologia a existência de forças superiores a nós (e chamem-lhes o que quiserem) que por vezes actuam de forma indirecta e influenciando a nossa vida. Felizmente no meu caso, todas essas influências têm sido positivas, senão no imediato num momento mais tarde.
De forma que, por vezes, acredito que nos podemos entregar nas mãos do acaso, cabendo-nos a "obrigação" de aproveitar da melhor maneira possível as oportunidades que nos surgem, evitando forçar demais acontecimentos que não ocorrem de forma natural e espontânea.

Saturday, January 28, 2006

O Meu Pomar 2

E tanto chorei sobre este terreno, que os rebentos voltaram a vingar. Começam agora a aparecer pequenos filamentos verdes por tudo quanto é lugar. À primeira vista todos aparentam ser diferentes.
Parecem-me vir aí árvores de fruto, flores, arbustos e erva. Começo a acreditar que afinal o solo não ficou estéril. Surge-me, no entanto, outra grande dificuldade: escolher as plantas vingadoras das ervas daninhas. Ainda que não seja do meu total desconhecimento, o tempo que estive sem conseguir cuidar do meu pomar, apagou da minha mente os parcos conhecimentos que tinha.
Costuma-se dizer que não há fome que não dê em fartura, e a tarefa que agora se ergue afigura-se árdua. Não só terei que adquirir e relembrar os ensinamentos esquecidos sobre jardinagem, como terei que cuidar das árvores de fruto e, distinguindo-as, carpir as ervas daninhas.
Infelizmente, estes conhecimentos só a vida nos dá, não os poderei aprender com ninguém. De qualquer modo, a perspectiva de ver de novo um frondoso pomar é de longe preferível ao deserto que aqui se instalou.
Enfim, mais uma prova a superar e uma lição a aprender: cuidado com aquilo que desejas.

Friday, January 27, 2006

Próxima paragem: Destino

São 23h45, seguimos neste momento a 257 km/h e sinto a velocidade aumentar. Os vidros estão completamente embaciados, mas também não há nada, que interesse ver, lá fora. Recosto-me e tento descansar. Agora trago-te aqui, bem no meio dos meus pensamentos, porque a memória é fraca e tenho medo de não conseguir recordar-te. É apenas um ponto de referência, porque estás séria...séria demais. E sei que não és assim.
Ouço o vento lá fora e sinto um arrepio na espinha. Dir-se-ia neve o que cai lá fora, se não fosse completamente negra. Tão negra como os teus olhos...fazem-me lembrar dois pedaços de carvão e da maneira como brilham, assemelham-se a dois diamantes. Olho para ti e lembro-me da nossa última viagem. Não paravas de perguntar se ainda faltava muito. Tinhas sono, estavas cansada, doíam-te as costas e estavas farta de estar fechada. Enfim, uma pequena birra. Fizeste-me rir, parecias uma miúda de dez anos com aquele ar ensonado, a voz entaramelada e o cabelo todo despenteado. Lembro-me que tinhas descalçado os sapatos e que tinhas enrolado uma manta nas pernas. Havia migalhas por todo o lado. E de cinco em cinco minutos resmungavas: "Ainda falta muito??".
O que me está a custar mais nesta viagem é, precisamente, fazê-la sem ti. Nem sequer consegues imaginar a saudade que sinto. Mas pode ser que falte pouco...o visor já indica uma velocidade de 379km/h...e continuo a senti-lo acelerar.

Thursday, January 26, 2006

Hoje foi noite de Lua Nova, mas para mim, no céu, brilhou a Lua Cheia.
Não sei o que há em ti que me fascina. Tens esse ar de mulher madura, determinada e decidida, mas nesses teus olhos cheios de meiguice eu vejo uma menina inocente e indefesa. No teu sorriso vejo que buscas a felicidade e na tua voz terna a insegurança de uma adolescente.
Sinto-te mais perto, sinto que te estás a aproximar. Sinto que me procuras e desejo que seja verdade!
De cada vez que te vejo, irradias alegria e intensidade e o calor da tua pele queima-me o rosto e seca-me as lágrimas. Acredito que há qualquer coisa entre nós, que não sei explicar, mas que gosto de sentir. E foi o acaso que nos pôs no caminho um do outro. Mas não quero deixar nas mãos do acaso o futuro do nosso destino. Sinto-me pronto, sinto-me preparado. Em breve irei ter contigo e só peço que me engane se estiver enganado.

Wednesday, January 25, 2006

Voltarei

Estou de partida, vou de viagem. Sou esperado longe daqui. Não sei quando vou voltar, apenas sei que me vou demorar algum tempo. Tenho coisas importantes para fazer, que não posso delegar. É uma posição de responsabilidade, esta que assumi, pois tenho a meu cargo algumas existências e poucos bens.
Parto em breve, pois o tempo urge e sou necessário lá, há decisões importantes a tomar. Está frio...muito frio. Dir-se-ia que o calor do sol não chega aqui. Imagino como estará lá. É melhor agasalhar-me, não quero adoecer, já me bastam as mazelas que fiz ontem. Sei também que é escuro lá, que só temos luz uma vez a cada três anos. Há questões a resolver, lá. Depois de entrar e sentar-me vou adormecer...quero adormecer. Se a fizer acordado, a viagem vai custar-me muito mais. Olhando pela janela não temos paisagem, apenas uma escuridão imensa. Não me interessa ficar acordado. Tenho outros assuntos a pôr em dia durante a viagem, e por isso prefiro dormir.
Só vou abrir os olhos quando passarmos pelos planaltos de "geysers" que cospem fogo fátuo pelos seus lábios de gelo. Esse sim é um espectáculo bonito de se ver, olhar o seu reflexo nas nuvens negras de chuva ácida que pairam no ar. Se tiver sorte, alguma se incendiará e iluminará a noite. Veremos o que acontece.
Agora tenho de ir. Já estão a chamar pelo meu nome.

Tuesday, January 24, 2006

Azul

Fue una mañana que yo te encontré
Cuando la brisa besaba tu dulce piel
Tus ojos tristes que al ver adore
La noche que yo te ame, eh..

Azul, cuando el silencio por fin te bese
Azul, sentí muy dentro nacer este amor
Azul, hoy miro al cielo y en ti puedo ver
La estrella que siempre soñé

Coro: Azul, y es que este amor es azul como el mar
Azul, como de tu mirada nació mi ilusión
Azul como una lagrima cuando hay perdón
Tan puro y tan azul que me han vuelto el corazón

Es que este amor es azul como el mar
Azul, como el azul del cielo nació entre los dos
Azul, como el lucero de nuestra pasión
Un manantial azul ... que me llena de amor

Como el milagro que tanto espere
Eres la niña que siempre busque
Azul, es tu inocencia que quiero entender
Tu príncipe azul yo seré

Azul, es mi locura si estoy junto a ti
Azul, rayo de luna serás para mi
Azul, con la lluvia pintada de azul
Por siempre serás solo tu

Coro (5)


Christian Castro

Quero isso todos os dias!!

Deitado na cama, olhei pela janela
sete vezes tentei contar as estrelas no céu
mas ainda estou incandeado pelo teu sorriso
Hoje brilhaste mais que o sol
Estavas mais bonita que a lua
e o teu olhar radiante marcou-me o dia
Não quero esquecer a alegria que trazias no rosto
Hoje quero sonhar com essa felicidade
Talvez assim te consiga agarrar outra vez
e viver esse instante novamente
Relembraste-me porque tenho estado a lutar
e ainda que sem intenção, deste-me uma nova esperança
Senti-te feliz e só posso ansiar saber porquê...

Monday, January 23, 2006

O Coleccionador de Estrelas

Sopra aquele vento fresco de final de Verão. As ruas estão desertas, despidas de gente. Aqui e ali rolam jornais velhos, folhas secas e poeira. Caem as primeiras chuvas, enlameando as estradas e passeios e desbotando a tinta das casas.
Não me preocupa que me molhem. Não quero saber, não estou preocupado com isso. Continuo de porta em porta, espreitando pelas fechaduras, pelas janelas e pelas frestas das paredes. Pulo cercas, deambulando pelo meio dos quintais, incógnito, aspirando o fumo das chaminés como que procurando um odor diferente. Como cão de caça, vou farejando cantos e recantos, becos e vielas, passeios e sarjetas. Aqui e ali perco o rasto e só alguns metros à frente o consigo retomar.
Confundem-se os odores da cidade com os perfumes das pessoas e o roncar dos carros e das fábricas com os murmúrios e lamentos dos poucos transeuntes que ainda vagueiam por aqui, arrastando-se pelas avenidas cinzentas e nebulosas da insalubre metrópole. O movimento entorpecido das pernas faz arrastar o corpo num deslizar melancólico e triste, disfarçado pela bruma envolvente que abraça os ossos chocalhantes como um saco de berlindes.
E, no entanto, sigo compulsivamente, determinado e decidido no encalço dessa misteriosa essência etérea de aromas doces e tímidos, que se esconde por detrás de uma frágil valentia, que se dissipa com um sopro de vida.

Sunday, January 22, 2006

tempo...

Queria ser dono de um relógio
Jogar o tempo a meu bel-prazer
Mitigar as horas longas que afastam esses dias
e prolongar os minutos que os preenchem

Saturday, January 21, 2006

Hoje

Fazes-me sentir bem. Fazes-me acreditar. Fazes-me sonhar. Tenho vontade de jogar tudo para o alto e atirar-me de cabeça. Respirar fundo, mergulhar no mar onde vives e nadar. Ganhar asas, levantar voo e planar. Pousar em terra e percorrer milhares de kilómetros sem parar.
Quero-te e hoje sinto que consigo. Sinto que me esperas. Iludo-me e fantasio na esperança que seja realidade. Por ti quero ser um homem melhor. Para ti quero ser um homem melhor. Fecho os olhos e vejo quem és. Sei o que quero e sinto-me capaz de o conseguir. Quero fazer-te feliz...mais feliz. E ainda mais feliz.
Quero dar-te a mão e acompanhar-te. Quero andar ao teu lado e devorar essa estrada. Deslizar acima da terra até onde só assim se chega. Soerguer-te dos teus pés, estalar os dedos e estamos lá. Onde? Tenta adivinhar.
E à noite, com a cabeça deitada no teu colo, fazes-me festas no cabelo e conto-te tudo. Tudo o que quiseres saber. No fim seguro-te para que não te vás embora...e tu ficas

Friday, January 20, 2006

Estás aí?

Se te contasse não acreditavas. Cada novo lugar a que vou é uma possibilidade de te encontrar. Cada carro que vejo procuro que seja o teu.
Vê se me entendes. Não gosto de coisas forçadas. Gosto de naturalidade e espontaneidade. Adoro encontrar-te ao sábado porque sei que vais lá estar. Mas adoraria mil vezes mais encontrar-te na rua, por simples acaso. Talvez porque, simplesmente, por me veres aqui ou ali ficasses a conhecer um outro lado da minha vida que não aquele a que te habituaste. E assim também eu ficaria a conhecer um lado teu que ainda ignoro.
Gostaria de apanhar-te desprevenida no teu quotidiano. Ver-te num cenário diferente, com roupa diferente, num ambiente diferente, com pessoas diferentes. Nem uma nem outra são a tua essência, mas fazem parte dela. No fundo quero saber como és, quem és. O que fazes, como andas na rua, que montras vês, onde gostas de passear, onde trabalhas.
Gostaria de ter a sorte de te apanhar num furo com cinco minutos para bebermos um café. Seriam cinco minutos que, tenho a certeza, mais tarde se desmultiplicariam em horas e, quem sabe, em dias.
Gostaria de ver como te comportas no meio de pessoas que não conheces, num ambiente que não te é familiar. Será que manténs a mesma postura? Será que assobias enquanto andas? Ou simplesmente, como imagino, baixas os olhos para não teres que enfrentar o desconhecido?

Thursday, January 19, 2006

Tu Amor Me Hace Bien

Te quiero así deliciosa insospechada
Porque creo en tu palabra
Porque yo siento que aún te necesito
Porque me alteras las ganas
Te quiero así estruendosa y delicada
Entre alegría y nostalgia
Porque me gusta tenerte vida mía
Y no quiero que te vayas
Porque el amor cuando es verdad sale del alma
Nos aturde los sentidos
Y de pronto descubrimos que la piel
Se enciende en llamas

Bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Ay, tu amor me controla
Me endulza, me encanta
Pero bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Ay tu amor me controla
Me vence, me amarra

Mira que me hace bien, que me hace bien
Te quiero así tan precisa equivocada
Con tus detalles que matan
Porque tenerte a mi lado me hace fuerte
Si eres mi reina y mi espada
Te quiero así cuando ríes cuando callas
Porque al caer me levantas
Porque mi voz y mi espíritu se agitan
Cuando dices que me amas
Porque tu amor como es verdad me vuelve el alma
Me despierta los sentidos
Y de pronto descubrí que aquí en mi piel
Se encienden llamas

Bien, ay tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Tu amor me controla
Me endulza, me encanta
Pero bien, tu amor me hace bien
Tu amor me desarma
Tu amor me controla
Me vence, me amarra

Ay como te quiero
Ay com te adoro
Ay Lolita linda
Tu eres my tesoro

Marc Anthony

O Jantar

Esta noite tive amigos cá em casa. Cozinhei para eles. Senti a tua falta, a cada momento. Enquanto arrumei as compras e a casa, enquanto preparei a comida, enquanto jantámos, depois ao café. Senti a falta de um carinho teu em cada momento. Eles divertiram-se, eu diverti-me. Mas senti a tua falta.
Gostei de vê-los enquanto trocavam mimos, palavras amigas, sussurros cúmplices. Não tenho inveja deles, apenas gostava de te ter aqui comigo. E enquanto aqui estiveram foi o bocado que menos me custou. O pior de tudo foi quando se foram embora e o silêncio regressou a esta casa. Aí sim, senti mesmo a falta que me fazes.
Depois de arrumar a cozinha, podíamos ter-nos sentado no sofá ou deitado na cama e conversado um pouco. Sim, acho que é isso mesmo. Tenho saudades de conversar na cama. É talvez dos locais mais sossegados e propícios, entre outras coisas, a uma boa conversa. Porque despimos a roupa do dia-a-dia e entregamo-nos unica e exclusivamente ao conforto e ao relaxamento.
Acabo por sentir saudades de ter alguém a quem contar e de quem ouvir o seu dia. Tenho saudades de dar e receber um beijo de boa noite. Tenho saudades de revolver estes lençois contigo.
Foi por tudo isto e muito mais que senti a tua falta esta noite.

Wednesday, January 18, 2006

O passeio

Obrigado pela imagem G. És um doce, como sempre



- Sabes, nunca fui grande fã de andar a pé...
- Desculpa se te forcei a fazer algo que não querias.
- ...mas estou a adorar fazê-lo contigo!
- Há quem ande por necessidade, há quem ande para fazer exercício, há quem ande para se distrair. Eu gosto de andar porque me faz sentir que a vida abranda e que tenho tempo para apreciar as mais pequeninas coisas.
- Nunca tinha visto isso dessa maneira!
- Além de que, a pé, ninguém te chateia por andares devagar, nem te buzinam porque resolveste parar para apreciar a vista...
- De facto, eu bem precisava de andar e nem me tinha apercebido.
- Sim...porque a nossa vida é passada a correr, há muita coisa que não nos apercebemos.
- E nós vamos sempre fazer isto?
- O quê?
- Abrandarmos a nossa vida para continuarmos a apreciar as coisas simples...
- Sim, eu espero que sim.
- Sabes, gostava de ter um cão...não me importa muito de que raça...mas gostava de ter um.
- Eu também...mas sei de que raça queria o meu!
- Qual?
- Um basset hound, um beagle ou um salsicha.
- E achas que vamos ter?
- Não sei...mas pelo menos gostávamos...já é meio caminho.
- Vamos até ali a baixo. Apetece-me por os pés na areia.
- Não tens frio?
- Mesmo com frio, adoro enterrar os pés descalços na areia.
- E estas pegadas? Quem as terá deixado?
- Talvez aquelas duas raparigas que vão lá à frente...
- O que é isto?
- Não sei...hum...estranho...nunca vi nada que se parecesse com isto...
- Mostra-me.
- Não...!
- Vá lá, deixa-me ver.
- Só se me apanhares.
- Anda cá, não me apetece correr.
- Apanha-me se conseguires.
- A ti apanho-te de certeza...já te apanhei uma vez...
- Tenta outra vez.
- Que te disse? Eu sabia que te apanhava.
- Abraça-me. Tenho frio.
- Só se me deres um beijo.
- Não! Rouba-me o beijo.
- Se me roubares o abraço.
- Anda, vamos continuar a andar...
- Não quero que este dia acabe.
- Eu também não...

Tuesday, January 17, 2006

Minha Linda Sofia

Não quero que penses que desisti de ti. Apenas me consciencializei de que nem tudo está sob o nosso controlo. Não vale de nada forçar as coisas. Por vezes temos que, simplesmente, deixar-nos levar na corrente, porque quanto mais nos debatemos maior é a probabilidade de nos afogarmos. Recordo uma lição que aprendi há uns anos, numa praia. Apesar de ser um local de divertimento e descanso, o mar nessa praia é muito dado a formar colunas de corrente, perpendiculares à costa, que puxam os banhistas para longe. Os infortunados que se debateram e tentaram regressar de imediato, perderam a vida. O segredo, ensinou-me o nadador-salvador, está em deixarmo-nos levar nessa coluna até que a corrente deixe de puxar. Então, devemos afastar-nos dessa zona e regressar à praia.
E é isso que estou a fazer neste momento...deixo de debater-me para que depois possa desviar-me dessa corrente que me afasta de ti. E nessa altura poderei nadar em segurança, de regresso
à tua praia.
Espero, entretanto, que não esmoreças e não desistas. Dá-me uma oportunidade. Se depois disso, eu não fôr o que esperavas, podes ir-te embora, mas dá-me ao menos uma chance de chegar à tua praia. Até lá, não esquecerei esses teus olhos que me estremecem, mas que me fazem querer cada vez mais estar junto a ti.

La Ultima Noche

"Quiero terminar
Con toda la esperanza que quedó
Hoy voy arrancar
Lo que se ha quedado en este corazón

Siento-te olvidar
La ultima mirada que me dió
Puedo hogar por fin
El ultimo recuerdo de su voz

Porque llorado tanto, tanto, tanto
Que no siento
Mis lágrimas queimando-me
Ai queimando-me en el cuerpo

Ai de mi que esta maldita luna
Pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
Que voy a sofrir por este amor

Quiero despertar
Mirando las estrellas otra vez
Hoy van a brillar
Los cielos que me han visto padecer

Creo que soñar
Lo beso que me ha dado por amor
Pueden alcançar
Para curar mi pobre corazón

Voy a quedar-me solo, solo
Solo, solo y vivo
Dejando que se pierda
Poco a poco en el olvido

Ai de mi, que esta maldita luna
Pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
Que voy a sofrir por este amor

Voy a quedar-me solo, solo
Solo...y vivo
Dejando que se pierda
Poco a poco en el olvido

Para matar-me pronto, pronto
Para olvidar-me todo, todo
Para quedar-me solo, solo
...y vivo

Ai de mi, que esta maldita luna
pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
que voy a sofrir por este amor

Ai de mi, que esta maldita luna
pobre de mi pecho, este dolor
Ai de mi es la ultima noche
que voy a sofrir por esse amor

Ai de mi, que esta maldita luna
uuuuhhhhhhhhhuuuuu
Ai de mi es la ultima noche..."

Diego Torres

Sunday, January 15, 2006

O meu pomar

Há pouco mais de trinta anos, foi-me dado um terreno para que o cultivasse e dele tratasse. Cuidei dele com o carinho que só um pai pode ter para com um filho. Todos os dias o regava, inspeccionava e carpia as ervas daninhas. Em tempos tive um belo pomar, com todos os tipos de árvores de fruto. Dediquei-lhe toda a minha vida.
Mas com o passar do tempo, e sem que me apercebesse, as árvores foram morrendo uma a uma. A falta de chuva dos últimos anos encarregou-se de o secar. O solo tornou-se árido e estéril, e os pequenos rebentos que tentaram ainda vingar, morreram queimados pela geada do último Inverno.
Olho agora, com profunda dor, este manto de terra amarelecida e inóspita e deixo de acreditar que algum dia volte a conseguir fazer crescer seja que planta fôr, neste pedaço de mundo esquecido. Olho agora exausto este deserto e dou-me por vencido. Não conseguirei jamais recuperar a fertilidade destes campos. Aqui, nada mais nascerá.

Friday, January 13, 2006

O Nosso Carro

Vinha agora no carro para casa, quando me dei conta que há muito tempo não tenho companhia nele. Senti de repente uma enorme tristeza, porque num momento que se repete todas as noites, numa pequena viagem de onze kilómetros, me senti tão sozinho.
Tenho saudades de vir ao volante e dar a mão a alguém. Tenho saudades daquelas conversas de final de dia em que se conta um ao outro como correu. Tenho saudades de à noite, no regresso a casa, falar baixinho dentro do carro porque estamos ali mesmo ao lado da outra pessoa. O rádio está ligado mas, sinceramente, nenhum de nós vem a ouvi-lo. Vimos apenas a fazer festas um ao outro, como que massajando mutuamente a nossa necessidade de afectos.
Dei-me conta, entretanto, que há muito tempo que não faço uma viagem com alguém especial. Daquelas viagens em que saímos de lá já ao fim da tarde e temos ainda duzentos ou trezentos kilómetros pela frente. Significa que ainda apanhamos o entardecer, o pôr-do-sol e o anoitecer. Mas acima de tudo significa que temos duas ou três horas para estarmos apenas um com o outro. Talvez nem seja preciso falar. Apenas gozamos a nossa companhia e de tempos a tempos murmuramos algo que nos lembrámos repentinamente.
Tenho saudades que mexam no rádio do carro, mudando o volume ou a estação, que abram o porta-luvas para trocar de CD. Ou que simplesmente regulem a temperatura. Que me dêem uma bolacha ou um gole de água. Básicamente, tenho saudades de alguém que faça do meu carro, o nosso carro.
E somente a uma pessoa permitimos que o faça...

Thursday, January 12, 2006

Esta noite

Sabes, hoje não me apetecia nada escrever. Preferia sentir. Está frio, e por isso mesmo e muito mais, queria que estivesses aqui comigo.
Apetece-me abraçar-te e deixar-te adormecer no meu peito. E enquanto fechavas os olhos e começavas a respirar mais devagar, eu aconchegava-te mais a mim e encostaria a minha cara na tua testa. Parece que estou a ver-te aqui sossegadinha, com os olhos cerrados...completamente tranquila por saberes que estou aqui. Sim, podes ficar descansada, não vou a lado nenhum.
Passava-te a mão pelo rosto e afastava-te o cabelo. Ao tocar-te no nariz, fazia-te comichão e esfregava-lo com a mão, franzindo a testa e os lábios...como fazem os miúdos pequenos. Mas não acordavas. E achando piada, eu pegava numa madeixa dos teus cabelos e fazia-te cócegas e tu voltavas a esfregar o nariz. Sem maldade, voltava a fazê-lo, mas aí resmungavas e eu, apertando-te, beijava-te na fonte, murmurava-te ao ouvido e, dormindo, sorrias-me...apenas porque sabias que eu estava ali.
E antes de voltares ao teu sono, abraçavas-me como se tivesses medo que eu fugisse. E eu abraçava-te para teres a certeza que não o faria. Seria capaz de ficar acordado toda a noite, só para te ver dormir aqui comigo.

Wednesday, January 11, 2006

Onde foste?

Ainda agora estavas aqui, mas afastaste-te silenciosamente. Foste embora...deitaste-te mais cedo que eu e agora sinto-me cansado. Enquanto estás comigo sinto-me cheio de força e energia. Esgotas-me, consomes-me e depois simplesmente desapareces.
Sei que voltarás. Voltas sempre. Sem aviso...apareces quando menos espero; mas presumo que seja por isso que tens o nome que tens. Soa-me a efémero, a intenso. Talvez por isso me esgotes desta maneira. Uma estrela com o dobro do brilho, brilha metade do tempo. Acho que é precisamente esse o efeito que tens em mim. O pouco tempo que estás comigo fazes-me experimentar uma tal intensidade de vida e de sentimentos e de emoções que me sugas toda a energia. E depois, quando te vais, simplesmente sinto-me apagar.
Fazemos um belo par, tu e eu. Se ao menos conseguíssemos passar mais tempo juntos...mas por definição isso parece-me impossível. Além de, ao aumentar o tempo de exposição, diminuires de intensidade o teu efeito sobre mim, terias que mudar de nome. Bem, e na realidade deixarias de ser tu. E não queremos isso. Até porque, a mim, apareces-me com grande regularidade e apesar de te desejar sempre, a verdade é que nunca me dás tempo para sentir saudades tuas.
Por outro lado, não sei quanto tempo de vida me restaria se passasses mais tempo comigo. Se assim já é o que é, se aparecesses mais vezes provavelmente matar-me-ias em três tempos. E para quem disse que está cansado, já estou a falar demais. Até breve!