Wednesday, December 29, 2010

Lembro-me...

Lembro-me de um tempo em que o conforto do meu abraço era precioso, em que era um pilar para uma vida, em que fui porto de abrigo onde se escondia da tempestade...lembro-me com uma saudade boa, pois sei que sou eu assim...reconheço-me aí e sê-lo traz-me felicidade...

Thursday, November 18, 2010

Uma história... (cont. 16)

A vida é como construir um castelo de cartas. Vamos encostando umas ás outras, amontoando-as umas em cima das outras, equilibrando-as todas. Ás vezes, basta um pequeno abanar da mesa, um fôlego de respiração mais forte, uma mão mais desajeitada ou um gesto mal intencionado de alguém que passa, para as deitar todas abaixo...e recomeçamos. Uma a seguir à outra, uma apoiando a outra, duas suportanto uma terceira. E se me pedires um conselho? Cola-lhes os cantos...e não queiras construir o castelo com uma carta só.

"Viver não custa. O que custa é saber viver..."

Monday, November 01, 2010

Uma história... (cont. 15)

Há alturas na nossa vida em que sentimos que algo mais, além de nós, tem a capacidade de conduzir a nossa vida, para trás ou para a frente. São momentos em que nos vemos confrontados com alguma espécie de existência paralela, como se estivessemos no meio do mar, dentro de água, e sentissemos a força da corrente que nos puxa ou empurra.
Se entendermos que muitas vezes essa corrente tem bastante mais força do que nós, e que debatermo-nos contra ela só nos fará cansar e desgastar (desnecessariamente), é provável que cheguemos à conclusão de que nem sempre tudo depende de nós e que se estamos a ir contra a corrente é bem possível que estejamos a agir contra nós mesmos. Vivemos para nos tornarmos melhores enquanto seres humanos, para crescermos e aprendermos, e se a vida é para isso mesmo temos que compreender que tudo o que acontece à nossa volta nos conduz nesse sentido.
Tudo acontece por alguma razão e com um objectivo determinado, mesmo que não tenhamos consciência disso ou que não compreendamos essa razão. Nada é puramente casual, coincidente ou despropositado. Os acontecimentos são como as formigas numa colónia...cada uma tem uma função bem definida, com um objectivo bem determinado, e todas em conjunto interagem contribuindo para o bem comum.
Tudo na vida tem um propósito...

Sunday, October 31, 2010

Uma história... (cont. 14)

Por aquela altura, Nahn e Ahmad já se falavam com regularidade. Naquela noite de Setembro, como em outras anteriores, Ahmad percebia pela conversa que estava a ter com Nahn, quão triste ela se sentia. Não que desabafasse explicitamente, com detalhes e pormenores, mas era visivel a melancolia que sentia. Ahmad não sonhava sequer com o que motivava o estado de espirito de Nahn, nem sabia da sua vida...apenas sentia a tristeza em Nahn e tinha com ela uma empatia inexplicável.
A conversa foi-se desenrolando e o interesse de ambos aumentava a cada palavra. Ahmad sentia apenas uma enorme vontade de animar Nahn, de a fazer ficar feliz, e Nahn parecia estar a alimentar-se dessa força que Ahmad lhe transmitia, como se precisasse que alguém lhe mostrasse um raio de esperança. Nahn era um pequeno barco prestes a naufragar e Ahmad parecia-lhe o porto de abrigo que a poderia salvar...
Ao saber que Nahn não havia sido convidada para a celebração da vindima, e acreditando que uma festa era o que ela precisava para desanuviar a cabeça, Ahmad não esperou e convidou-a para ir consigo. Nahn não se fez rogada e logo aceitou o convite, enchendo-se de esperanças de que uma noite entre amigos e repleta de diversão fosse a resposta ás suas preces. Nahn estava entusiasmada, Ahmad estava feliz e tudo parecia convergir para um momento unico.
Mal sabia Ahmad, a importância deste momento e como iria ser marcante e decisivo na sua vida...e, quem sabe, na de Nahn também.

Monday, October 25, 2010

Uma história... (cont. 13)

Só a voz de Amoni os acordou do seu transe. Ressoando por três vezes, fez estremecer as paredes e deixou Nahn e Ahmad embaraçados. Amoni tratou logo de os apresentar, algo que pareceu completamente descabido e desnecessário...naqueles minutos em que o tempo parou enquanto se olhavam, ambos leram as suas histórias nos olhos um do outro.
Nem um nem outro sabiam explicar muito bem o que tinha acontecido...apenas sentiram que algo de diferente havia no mundo...algo de muito especial os havia ligado naquele momento, e não ficaria por ali. Como se de repente todas as rodas de uma engrenagem gigante tivessem sido postas em movimento.
Amoni conhecia Nahn há já alguns anos, mas nunca lhe passara pela cabeça proporcionar que ambos se conhecessem, não só porque na sua ideia nunca se lembrou mas também porque Nahn não estava sozinha. Mas a vida tem formas misteriosas de se desenrolar e tudo se sucedeu da forma mais espontânea e inesperada possível.
Apesar de se terem conhecido e de se cruzarem ocasionalmente, os seus encontros nunca passaram de momentos casuais e efémeros. Todavia, a ligação que os uniu a partir daquele instante determinou que a pouco e pouco se fossem conhecendo e a curiosidade de se conhecerem ainda melhor fosse aumentando.
Por ocasião da festa das colheitas, todos andavam atarefados com os preparativos e um acontecimento especial viria a ter lugar para celebrar uma vindima em particular. Amoni ficou encarregue de organizar o evento e, entre muitos outros, também Ahmad foi convidado.
Nos ultimos tempos, Nahn estava a atravessar uma fase menos boa da sua vida, sentindo-se triste e, invariavelmente, sem saber porquê. Andava desanimada e desalentada, sentia-se desmotivada com o trabalho e não tinha sequer vontade de sair de casa. Sentia-se só e a unica vontade que tinha era de isolar-se. Somente esperava que os dias se passassem, uns a seguir aos outros.
Mas a vida tem a incessante capacidade de nos supreender...e é quando menos acreditamos nisso, precisamente quando menos esperamos, que a magia surge e nos maravilha, como a uma criança diante de uma joaninha pela primeira vez.

Friday, October 22, 2010

Uma história... (cont. 12)

Ahmad já se encontrava em Al-Beshtu havia alguns meses, quando um dia saiu com Amoni. Estava um dia quente e Amoni tinha que ir ao Hedon, onde trabalhava, no centro da aldeia, para tratar de um assunto.
Ahmad, que já estava familiarizado com quem ali trabalhava, ficou na entrada, conversando, enquanto Amoni subiu. Apesar de já as conhecer, Ahmad não tinha qualquer intimidade com estas pessoas, pelo que se falou de tudo o que havia de trivial e circunstancial. Mesmo sendo uma pessoa facilmente sociável, este tipo de conversas dificilmente lhe prendiam a atenção por muito tempo. No entanto, a educação de Ahmad nunca em momento algum lhe permitiria demonstrar desinteresse.
Havia algo no Hedon, no ambiente, na arquitectura, na decoração, que transmitia a Ahmad uma sensação tranquilizante de leveza e bem-estar. Deliciava-se a percorrer o olhar pelas paredes, janelas e quadros, pelos mosaicos de mármore no chão e pelos tectos brancos. Tudo naquele local transpirava equilibrio e serenidade. E, enquanto o seu espirito se deixava invadir por este ambiente, os seus olhos cruzaram-se com os de Nahn e ambos fixaram-se mutuamente imobilizados no tempo.

Sunday, October 17, 2010

Uma história... (cont. 11)

Foi no meio dos tempos frios que Ahmad chegou à aldeia onde Nahn vivia. Depois de uma longa viagem, através de caminhos duros e locais inóspitos, do desconforto do isolamento e da dureza das planícies agrestes, Ahmad pisou território amigável.
Um caminho como o que percorreu, depois de tantos outros o terem percorrido e antes de outros tantos o virem a fazer, dificilmente se faz com um sorriso na cara. Mas, Ahmad há muito percebeu que os caminhos que escolhemos têm sempre paisagens bonitas e outras nem tanto. Aprendeu a aceitar as menos bonitas como necessárias para melhor apreciar as maravilhas das mais belas...e que é muito mais fácil encarar as coisas com um sorriso na cara do que com a testa franzida.
A chegada a esta aldeia foi como uma recompensa para Ahmad, pelas dificuldades que encontrara e por ter conseguido superá-las. Nesta aldeia, as pessoas eram amistosas e hospitaleiras e depressa fizeram com que se sentisse acolhido e integrado, como se de um deles se tratasse.
Desde logo foi convidado a participar nas festas e acontecimentos mais importantes, foi apresentado a todos os habitantes, foi levado aos locais sagrados e a visitar os santuários naturais, alguns dos quais eram dos mais belos que já conhecera.
Não demorou muito a que fosse apresentado às familias de alguns dos seus novos amigos e ser tão bem recebido como qualquer um deles. Ahmad gostava de fazer amigos, gostava de conhecer novas pessoas e novas filosofias de vida e esta aldeia pareceu-lhe um oásis no meio do deserto. Sentia-se como se estivesse na sua própria aldeia...

Sunday, October 10, 2010

Uma história... (cont. 10)

Ahmad nasceu nas Terras Longínquas, delas herdou a temperatura do seu sangue. Do pai recebeu a faceta racional, da mãe esculpiu-se o lado emocional.
Nasceu poeta de coração, sem saber escrever, um sonhador destemido que nunca hesitou em levar longe o seu eterno desejo de ser feliz. Nem mesmo ante a frieza da realidade deixou que se apagasse o fogo que lhe aquece a alma.
Desde que a sua personalidade se começou a definir, sempre sentiu um conflito interior entre duas faces de uma mesma moeda. De um lado, a coroa racional, a face pensadora, analitica e cautelosa; do outro, a pintura emocional, a esfinge contemplativa, sensível e impetuosa. Do dia em que nasceu, herdou o signo e o ascendente, simbolos contraditórios de uma constante procura do equilibrio perfeito entre terra e fogo. Se por um lado não tinha receio de expôr o coração, por outro tinha o escudo que o protegia.
Ahmad era um homem de paixões e sensações. De sensações, porque gostava de sentir...tudo. Uma criança curiosa e entusiasmada por tudo o que o fizesse sentir. E sentia tudo com uma extrema intensidade, apreciando cada momento como se o soubesse unico e irrepetível. De paixões, porque em tudo o que fazia tinha de se empenhar de alma e coração, como se a tarefa mais insignificante fosse capaz de mudar o Mundo.
Ahmad era provavelmente o maior admirador da Humanidade e das pessoas. Tinha uma visão completamente romântica dos humanos, preferindo olhar para eles como uma criação divina, plena de sentimentos, emoções e histórias, esquecendo as atrocidades de que são capazes.
Das muitas coisas que realmente valorizava na vida, havia duas com um valor muito especial e, embora as vivesse de forma diferente, estavam intimamente inter-ligadas.
Uma delas era sentir as pessoas.

Thursday, October 07, 2010

Uma história... (cont. 9) ( أحمد إبن فضلان إبن ألعباس إبن رشيد إبن حماد)

Tão desligado estava Basahtr de Nahn, tão pouco valor tinha ela para ele, tão frágil era o que os unia, que Basahtr nem se apercebeu da distância que se criou e cresceu entre eles.
Nahn continuou a fazer a sua vida, e distraídamente foi vivendo cada vez mais como se não tivesse ninguém. Os seus próprios amigos, a pouco e pouco, foram-se habituando a vê-la e a estar com ela sem a presença de Basahtr. Lentamente, e sem o ser, foi-se tornando uma imagem enevoada, como se se tratasse do passado de Nahn.
A verdade, é que Nahn nunca se sentiu parte da vida de Basahtr. Como ela própria dizia, era como um acessório, uma qualquer peça decorativa de somenos importância que Basahtr levava consigo. Como um guarda-chuva ou um casaco que penduramos no bengaleiro ou atiramos para cima da cama quando chegamos a qualquer sitio, e do qual só nos lembramos quando voltamos a sair.
Quando estava com os seus amigos, sem Basahtr, Nahn sentia-se integrada num grupo, sentia-se parte do conjunto, uma peça tão importante e fundamental como qualquer um dos outros. Mas, mesmo assim, faltava qualquer coisa na sua vida...qualquer coisa que os seus amigos não lhe podiam dar.
O Destino, para quem acredita nele, tem uma maneira curiosa, engraçada até, de conjugar uma infinidade de acontecimentos aparentemente isolados e sem qualquer ligação entre si quando observados individualmente, que resultam numa série de outros acontecimentos absolutamente admiráveis e surpreendentes. Tanto mais admiráveis e surpreendentes, quanto parecem depender exclusivamente, ou quase pelo menos, da vontade de cada um. São os caminhos que cada um dos 6.000.000.000 de habitantes deste planeta escolhe, e a interferência que essa escolha tem directa ou indirectamente nos caminhos dos que nos rodeiam, que condicionam a nossa vida.
Era assim que Ahmad ibn Fadlān ibn al-Abbās ibn Rašīd ibn Hammād via as coisas. Acreditava que havia marcos, de maior ou menor importância, na sua vida pelos quais iria inevitavelmente passar. Mas cabia-lhe a ele escolher os caminhos por onde seguiria e que, apesar de determinarem a ordem pela qual iria passar por esses marcos, o levariam forçosamente a passar por todos eles.
E foi precisamente assim, por conjugação de Destino e livre-arbítrio, que a vida de Ahmad acabou por se cruzar com a de Nahn.

Monday, October 04, 2010

Uma história... (cont. 8)

De racional, Nahn não tinha nada. Não pensava na vida, não se preocupava com o futuro, não pesava as suas decisões antes de as tomar. Vivia ao sabor dos seus desejos, um dia de cada vez, momento a momento, pouco pensando no resto.
Mas Nahn sentia-se....sentia-se a si própria e não gostava de se sentir triste. O que mais queria era sentir-se feliz, tranquila e bem com a vida, todos os dias. E começou a aperceber-se que Basahtr não a completava. A relação desprendida que tinham deixava um vazio por preencher que lhe trazia alguma melancolia. E as ausências constantes e prolongadas de Basahtr só faziam com que Nahn se desligasse cada vez mais...Nahn costumava dizer que não sabia lidar com a saudade. E, como em tantas outras situações, quando Nahn sentia saudade, afastava do seu coração os sentimentos que a prendiam às pessoas. De uma forma fria e silenciosa, esquecia o que estas representavam na sua vida e arrumava-as como fotos num qualquer album de recordações.
E assim fez com Basahtr. Gradualmente, quase sem se dar conta, foi perdendo o pouco que sentia pelo estudante. Os telefonemas diários tornaram-se semanais e, em pouco, foram substituidos por mensagens ocasionais. Também o seu conteúdo se foi perdendo, com conversas cada vez mais circunstanciais e vazias de forma, e mesmo estas deviam a sua débil existência meramente ao conformismo de ambos e à incapacidade de assumirem frontalmente que o que havia entre eles se havia esbatido como as cores das paredes de uma casa há muito abandonada.

Saturday, October 02, 2010

Uma história... (cont. 7)

Basahtr era uma pessoa tão ausente quando se encontrava no estrangeiro como quando estava em casa. Não sabia o que era sentir o calor de uma paixão, o frio gélido de uma recusa ou o ardor acutilante da raiva. Passava pela alegria imensa de atingir um objectivo na vida com a mesma indiferença com que ficava sem ver o seu melhor amigo durante os meses em que estava fora. Para ele, os sentimentos eram como uma cultura desconhecida de um povo perdido no meio de uma selva inexplorada num qualquer lugar remoto e distante. Não sabia sequer da sua existência e, mesmo que lhe falassem deles, isso não despertava qualquer interesse na sua mente intelectual. Para ele, esse tema era tão interessante como um grão de areia no meio do deserto.
Havia somente duas coisas que Basahtr prezava na vida...os infindáveis estudos, batalhando por alcançar sempre mais um grau, e os encontros ocasionais com os amigos, recheados de insipiência e futilidades inuteis, sempre envoltos na espessa neblina libertada pelos incontáveis charros que fumavam. Nahn, que não partilhava nenhum destes interesses, ficava sempre à margem, excluindo-se a si mesma destes momentos com que não tinha qualquer afinidade.
Mesmo em outras ocasiões, que não envolviam ervas mágicas ou os seus amigos, a presença de Nahn era completamente inócua para Basahtr que, além desses dois interesses (o estudo e os encontros alienantes com os amigos), não nutria quaisquer outras motivações por mais nada na vida. Esses eram os dois pilares da sua vida e Nahn era apenas uma figurante que o acaso tinha colocado na sua peça de teatro.
Nahn não era alheia à sua irrelevância na vida de Basahtr...tinha consciência de ser apenas uma letra nos livros de Basahtr. Apenas isso não a incomodava, porque lhe permitia levar a sua vida sem ter que dar satisfações a ninguém.

Friday, October 01, 2010

Uma história... (cont. 6)

Basahtr era um estudante, com uma inteligência acima da média e que desde cedo decidiu aplicar as suas capacidades na investigação catedrática. Era um rapaz sossegado que, apesar de se destacar nos estudos, em tudo o mais diluia-se anónimamente na amálgama de gente dos meios por onde se movimentava. Era bem possível, quase provável mesmo, que passasse uma noite inteira no mesmo sitio sem que ninguém, excepto os seus amigos, desse por ele. Tinha uma personalidade morna, sem chama e sem paixões, e dedicou-se aos livros, aos manuais e ás sebentas por uma convicção racional e intelectual completamente desprovida de emoção.
E talvez tenha sido esta amenidade e falta de temperamento que captou a atenção de Nahn. Depois de uma relação tão tempestuosa, com afectos levados ao extremo do ciúme obsessivo, o que precisava era de alguém que nada lhe exigisse. De facto, a sua relação com Basahtr era extremamente libertadora. Na sua inaptidão emocional, Basahtr não proporcionava carinho, amor ou dedicação, mas também não o exigia de Nahn. O total desprendimento com que ambos conviviam, permitia que levassem uma vida sem compromissos, obrigações ou responsabilidades um para com o outro, o que era extremamente conveniente para Nahn já que, assim, apenas teria que dar o que lhe apetecesse, quando lhe apetecesse. Se o desenrolar do dia induzisse a que estivessem juntos, porque de sua iniciativa pouco se esforçavam para que tal acontecesse, estariam juntos. Se assim não fosse, nenhum sentiria a falta do outro.
O tempo foi passando, e a relação lá se foi mantendo convenientemente estável. Devido à sua actividade académica, o trabalho de investigação levava a que Basahtr tivesse que se deslocar frequentemente para o estrangeiro, onde passava longas temporadas. Nesses compassos de tempo, em que Nahn ficava no país natal, ia-se dedicando a estar com os amigos, ao seu próprio trabalho e à sua familia. Na realidade, pouco mudava na sua rotina com a ausência de Basahtr, e nos primeiros tempos estas temporadas a sós reforçavam o sentimento de liberdade que Nahn tanto começara a valorizar depois da relação com Nethiel.
No entanto, inesperada e subtilmente, pouco a pouco Nahn foi começando a ter um sentimento estranho...no meio desta relação, que tão ciosamente foi sido mantida liberal, algo começou a causar-lhe desconforto. Não sabia muito bem o que era, nem conseguia sequer descrever esse sentimento...e tão pouco identificar o que o estava a causar. Tendo o que queria e como queria, sentia-se inquieta...algo lhe estava a trazer alguma tristeza e não sabia explicar o que era.

Thursday, September 30, 2010

Uma história... (cont. 5)

Passaram-se longos tempos em que Nahn não conseguiu sequer pensar, por muito remotamente que fosse, em estar com alguém. Para quem já tinha tantas dificuldades em se relacionar, um milímetro que fosse, abaixo da superficialidade futil das relações quotidianas, dos casos sem importância e dos encontros fortuitos, a sua primeira relação de compromisso foi um golpe duro na sua auto-estima e um verdadeiro terramoto que deitou por terra toda a estrutura de inter-relacionamentos, já de si tão frágil, que havia construído e que minou completamente a perspectiva que tinha sobre o compromisso.
Nahn não era uma menina diferente das outras. Também ela sonhava encontrar o alguém mágico, o encaixe perfeito para os seus projectos de vida, a pessoa fundamental para a concretização de tudo o que imaginara para o seu futuro. Nahn também idealizava o companheiro para uma vida a dois, a casa onde iria construir a sua própria familia e criar os seus filhos. Em que iria trabalhar, como queria desenvolver a sua paixão, como iriam ser os seus dias...enfim, Nahn também queria uma vida de sonho.
Foi preciso bastante tempo para que permitisse que alguém pudesse ter a oportunidade de fazer parte deste futuro imaginado. E então conheceu...

Wednesday, September 29, 2010

Uma história... (cont. 4)

Nahn levantou os olhos para o céu azul da noite e respirou fundo...houve duas pessoas que foram marcantes na sua vida.
Nethiel era um jovem adolescente, ambos eram quando se conheceram, bom rapaz, de uma familia tradicional. Dedicado a causas nobres, inteligente e dócil, era querido por todos na aldeia onde vivia. Era uma pessoa devota, empenhado na sua fé e por ela regia muitos aspectos da sua vida. Não era uma fé cega, mas tinha uma influência muito forte na forma como Nethiel vivia a sua vida. Fora educado pelos pais sob a mesma herança que estes haviam recebido dos seus. Uma formação severa e austera, com regras bastante rígidas, baseada em principios conservadores que não permitiam cedências ás tentações mais mundanas.
Na verdade, Nahn e Nethiel tinham muito pouco, ou nada mesmo, em comum. Onde Nahn pautava por uma enorme liberdade de espirito, postura descontraída e despreocupada, nunca pensando no momento seguinte, Nethiel contrapunha com uma forma de viver espartilhada em regras inflexíveis, uma conduta social irrepreensível e uma mentalidade extremamente precavida com o futuro. Nahn nunca soube explicar muito bem, a si própria, o que os unia...se é que algo a que se pudesse chamar um laço existia.
Durante os primeiros anos, tudo decorria com normalidade. Uma normalidade sem sobressaltos, monótona até, para um espirito inquieto como o de Nahn que constantemente procurava a alegria da agitação e da novidade...mas nessa tranquilidade a menina conseguiu encontrar alguma paz. Nethiel não era um exemplo de afectividade e carinho, mas tratava Nahn com respeito e consideração.
Com o correr dos meses, no entanto, a personalidade de Nethiel alterou-se. Na verdade, Nahn não sabia se se tinha alterado ou se finalmente se havia revelado. Nethiel começou a tornar-se controlador e possessivo, querendo sempre saber por onde Nahn tinha andado e o que tinha feito, com quem tinha estado e a que horas e o que tinham conversado. O que a principio se revelou uma leve mudança na sua forma de estar na relação, depressa se transformou numa imposição desagradável e omnipresente. Nethiel foi-se tornando cada vez mais duro e bruto com Nahn, cada vez mais desconfiado e agressivo...até que um dia excedeu os seus limites...e os de Nahn. Foi preciso que a situação se repetisse, mais do que uma vez, para Nahn se consciencializar de que não era aquele o caminho para o seu futuro.

Tuesday, September 28, 2010

Uma história... (cont. 3)

Nahn sempre se quis convencer de que era um espirito livre, jovem e descontraído, de tal modo que afrontadamente se recusava a fazer o que quer que fosse como mandam as regras. Mas, o seu raciocinio e os motivos que encontrou para moldar a sua forma de estar na vida, tornaram-na uma pessoa irresponsável, inconsequente e inconsciente. Nunca se preocupou em pensar nas consequências que as suas atitudes e opções pudessem vir a ter, nunca se preocupou com o resultado dessas consequências (para si e para os outros) e, acima de tudo, nunca assumiu a responsabilidade desses actos e decisões, optando por descartar, para os outros e para a vida, a culpa dos acontecimentos. Era-lhe mais fácil encontrar nos outros, nas atitudes dos outros e nas decisões dos outros a razão de as coisas terem acontecido do que assumir os eventuais erros que pudesse ter cometido.
Nahn não nasceu em berço de ouro. Nahn não foi estragada pela abundância e, apesar de não ter passado dificuldades, as coisas não lhe foram facilitadas. Os bens materiais que conseguiu foram conquistados à custa de muito esforço, algum sacrificio e muito trabalho. Seria de esperar que, tendo obtido tudo isso literalmente à custa do seu próprio suor, valorizasse o que de bom a vida lhe proporcionou. Mas era cega...a constante preocupação em proteger-se do Mundo e dos outros cobriu-lhe os olhos e anestesiou-lhe o coração. Nahn vivia uma vida adormecida...

Monday, September 27, 2010

Uma história... (cont. 2)

Esse espinho doloroso, camuflado no seu íntimo, soterrado e escondido sob uma pilha de outras recordações bem mais felizes e suportáveis, fazia sentir a sua ponta aguçada sempre que Nahn tentava analisar-se a si ou a uma qualquer situação da sua vida. Não admitindo a dor lancinante que isto lhe provocava, constantemente se desculpava com o cansaço que fisicamente a deixava de rastos e que mentalmente a impedia de pensar sequer em coisas muito mais simples. Aceitar este espinho era reconhecer uma fraqueza e isso Nahn não podia admitir...afinal era especial, não podia ter pontos fracos. Como se cada um de nós não tivesse os seus...
E era por tudo isto que se recusava a resolver o que tivesse para resolver, enterrando sempre a cabeça na areia e esperando que as coisas passassem ou se resolvessem por si. Por muito que tenha visto que esta atitude apenas levava a que as situações assumam proporções bastante maiores, mais graves e mais sensiveis de se resolver, nunca aprendeu esta lição.
Outra justificação habitual era a vontade de proteger os outros, de não os querer magoar mas, bem vistas as coisas, o maior medo de Nahn era sair ela mesma magoada. Preferia mentir, omitir ou disfarçar a realidade do que confrontar-se com a verdade nua e crua. A menina que em tempos corria inocente pelos campos, acabou por trazer uma série de dissabores a quase todos os que se tentaram aproximar dela.
Outra faceta da sua personalidade era constantemente auto-convencer-se do seu altruísmo. Nahn caracterizava-se como uma pessoa exocêntrica, sempre preocupada (e em primeiro lugar) com o bem estar dos outros. Fazia, segundo os seus ideais, tudo por tudo não só para que os outros estivessem bem mas também para lhes evitar qualquer tipo de sofrimento. Sobretudo, o tipo de sofrimento que ela própria queria a todo o custo evitar a si mesma. Mas na realidade, esta intenção benemérita era incompatível com uma outra característica.

Sunday, September 26, 2010

Uma história... (cont.)

Com o tempo Nahn foi crescendo. O seu corpo foi-se transformando no de uma mulher adulta, mas o seu espírito manteve-se jovem e ansiosamente livre. As responsabilidades começaram a surgir, primeiro com os estudos, depois com o trabalho.
Ao longo da sua vida, Nahn nunca teve dificuldade em fazer amigos. Era uma pessoa social, de trato fácil e sempre pronta para a diversão. Não deixando de esquecer as suas obrigações, estava sempre pronta para uma boa festa ou para sair com os amigos. A maior dificuldade de Nahn não estava em estabelecer o contacto...mas sim em criar a ligação...
À excepção dos amigos de infância, nascidos na mesma aldeia, muito raras foram as pessoas a quem permitiu entrar no seu pequeno mundo. Nahn tinha uma extrema dificuldade em se envolver com as pessoas, em se entregar sem medos ou reservas a uma relação...fosse de que tipo fosse. Todos nós já, em uma vez ou outra, fomos magoados por pessoas de quem gostavamos. Mas Nahn sentia-se especial...Nahn cria-se frágil de mais para se deixar magoar. Muito embora as suas histórias passadas fossem semelhantes a tantas outras, iguais às nossas, Nahn achava que as suas próprias continham um sofrimento maior, e de longe muito mais intenso e insuportável. Sentia-se muito mais injustiçada do que qualquer outra pessoa e acreditava que isso lhe dava o direito de manter entre si e os outros uma distância fria que não permitisse qualquer aproximação ou envolvimento...dos outros ou seu. Frequentemente, justificava esta atitude com a falta de genuinidade e pureza que "detectava" nas pessoas que a rodeavam, que elas somente se aproximavam com algum interesse dissimulado, com malícia ou intenção de intriga.
Na verdade, algo no seu passado impedia-a de confrontar-se consigo própria, de se conhecer a si mesma, de identificar os seus medos e receios e de os enfrentar. Em algum ponto da sua vida, algo aconteceu que lhe deixou uma marca indelével que provavelmente a iria acompanhar até ao ultimo dos seus dias.

Wednesday, September 22, 2010

Uma história...

Nahn Asle era uma menina...que nunca tinha saído da aldeia onde nasceu. Era um sitio pequeno onde todos se conheciam, quase familiar. Todos sabiam de tudo, ajudavam-se mutuamente, conheciam as suas casas e as dos outros.
Nahn era feliz aqui. Além de conhecer os cantos e recantos, estradas e caminhos, montes e vales em redor da sua casa, tinha uma quase total liberdade para sair de casa de manhã e voltar só à noite, passando o dia a correr, a saltar e a brincar. A liberdade era quase total porque, num meio pequeno as pessoas tendem a ser bastante conservadoras, tradicionalistas e gostam que os outros habitantes tenham a melhor opinião sobre a sua familia. Desta forma, eram-lhe impostas algumas regras, nomeadamente sobre os horários das refeições, os locais onde não podia ir (mas onde ia na mesma) e acima de tudo sobre o recolher a casa antes do sol se pôr.
Era feliz...muito feliz até. Tinha um grupo grande de amigos, todos gozando da mesma liberdade e tendo que obedecer ás mesmas regras, mas acima de tudo gostavam todos de fazer as mesmas coisas.
Nahn gostava de pensar em si mesma como um espírito livre e para quem as regras não passavam de imposições sem sentido, próprias de um meio pequeno como aquele em que vivia mas completamente inadequadas a uma personalidade incompatível com limitações que não as que quisesse impôr a si mesma. Os pais tentaram educá-la sob os mesmos principios que haviam recebido, eventualmente amenizados pelas diferenças entre as duas épocas, de obediência e respeito pelos outros e pelos mais velhos. Mas o que Nahn gostava mesmo era de correr pelos campos sem a companhia do relógio nem das regras sociais.
Não se podia dizer, ou pelo menos não era fácil pensá-lo convictamente, que Nahn era uma menina egoísta ou mimada. Na verdade, os seus progenitores, apesar de extremosos e carinhosos, aplicavam a sua lei com rigor e, nalgumas ocasiões, com alguma dureza. Mas mais do que explicarem à filha a razão da existência de tais regras e porque motivo as consideravam necessárias, impunham-lhas pela simples razão de ter sido assim que aprenderam com os seus pais.
Mais do que incutir esses ideais, conseguiram que Nahn crescesse a implicar com regras e a ter uma atitude de desprezo sempre que se via confrontada com elas. Em alguns momentos, terá mesmo agido com uma revolta imatura que culminava numa desobediência consciente, voluntária e propositada.

(continua)

Tuesday, September 21, 2010

Era uma vez...

"Primeiro pensei que era por graça, depois percebi que não era defeito...era feitio. Como uma pedra inanimada completamente indiferente ao sol que lhe toca na face, ao frio que lhe corta os lábios, ao vento que lhe despenteia os cabelos, à alegria que lhe arrepia a pele, à tristeza que lhe inunda os olhos...simplesmente incapaz de sentir o que quer que seja."

Sunday, September 19, 2010

Ambiguidades

As palavras são vagas...tal como a água, desprovidas de cheiro e de sabor. São como o vento...não as vemos, mas empurram-nos.
Enchem-nos a cabeça, confundem-nos o pensamento e ofuscam-nos com o seu brilho esplendoroso. Sentimo-las? Talvez...mas como nós queremos e não como elas são. As palavras não têm personalidade, não têm vida própria...são moles e maleáveis como o barro e cada um molda-as a seu gosto.
Não se pode...não se deve confiar nas palavras...talvez por isso se diz que as leva o vento. Porque não têm raízes, porque não se mantém firmes, porque não têm carácter. Porque se combinam umas com as outras e, alterando a sua ordem, muda-se o seu significado.
Como se, ao mudarmos de roupa, mudássemos de personalidade...Não. Ao mudarmos de roupa, não mudamos de personalidade e ao mudarmos de palavras não mudamos de personalidade...mas podemos camuflá-la ou disfarçá-la.
Acreditemos antes nas atitudes...porque essas, na maior parte das vezes, provêem do nosso intimo, sem controlo, sem consciência, sem disfarces. Elas sim, as atitudes, são o reflexo do nosso carácter, dos nossos principios e da força que temos para lhes sermos fiéis.

Thursday, September 02, 2010

Imagina

Imagina uma casa...grande, com sala, cozinha e quartos...vários quartos. Imagina um terreno à volta dessa casa...grande, relvado, com uma árvore e flores...imagina uma cerca...branca, de madeira, a toda a volta...imagina um passeio....de cimento, depois dessa cerca...imagina uma estrada...de alcatrão, a seguir a esse passeio...tudo isto é a minha vida.
Há carros que passam na estrada,sem parar...uns mais devagar, outros tão depressa que nem os distingo. Alguns desses carros param defronte à casa e os seus condutores pedem-me para estacionar no passeio, pois não vão demorar. E eu deixo.
Pessoas passam a pé, junto à cerca. Eu saio de casa, atravesso o quintal e converso com elas. Das dúzias e dúzias de pessoas que aqui passam todos os dias, convido poucas a passar o portão e a ficar pelo quintal. Podem gozar do meu relvado, apreciar e cheirar as flores do meu jardim, descansar na sombra da minha árvore.
Muito poucas, muito poucas mesmo, são as que convido a entrar em minha casa...e pelos dedos de uma mão se contam as que convido a lá ficar.
Um dia, estava a janela, e vi uma menina no passeio. Tinha um ar triste e cansado, os pés descalços sujos de virem de rojo pelo chão.
Saí de casa, atravessei o quintal e cheguei-me à cerca...perguntei-lhe o que tinha..."Estou triste, só e cansada" - respondeu-me.
Abri-lhe o pequeno portão da cerca, estendi-lhe a mão e convidei-a a entrar. Limpei-a, escovei-lhe os cabelos e massajei-lhe os pés feridos. Vesti-a, dei-lhe de comer e de beber. Conversei com ela, ouvi-a, escutei-a. Levei-a para o andar de cima, a um dos quartos, com a cama grande e as almofadas fofas. Ofereci-lhe um pijama e providenciei para que nada lhe faltasse.
Quando se deitou, disse-lhe: "És bem-vinda, podes ficar o tempo que quiseres. Se precisares de alguma coisa, estás à vontade para te servir...se não encontrares, apenas tens que pedir...aqui, nada te faltará". Não esboçou qualquer expressão, apenas um olhar incrédulo. Encostei a porta e deixei-a no quarto mais confortável da casa...o meu. Desci as escadas e fui para a sala, sentei-me no sofá e deixei-me divagar com os meus pensamentos...e ali adormeci.
De manhã, acordei com o sol a incidir em cheio na minha cara...esfreguei os olhos, espreguicei-me e estiquei-me todo. Quando levantei o tronco e olhei à minha volta, não quis acreditar no que estava a ver...

(continua)

Tuesday, April 13, 2010

For a Walkabout

Há dias um amigo falou-me em ir para a Austrália. Mais do que falar-me, convidou-me. A ideia era largar tudo o que temos cá e partir, com uma mão à frente e outra atrás, sem projectos, propostas ou garantias. Simplesmente, deixar para trás tudo o que nos ligava à vida actual e começar uma nova. A lavar pratos, acartar baldes de cimento ou a engraxar sapatos, lá havíamos de nos safar.
Mais do que uma ideia louca, inconsciente ou adolescente, pareceu-me uma opção real e plausível. Não tanto pela ideia em si, mas por vir de quem veio, uma pessoa que, apesar de tudo, tenho como responsável e ponderada. O que me levou a crer que, mais do que um desabafo desalentado, era uma ideia que já fora profundamente analisada.
E eu, que gostando tanto de imprevistos e do incerto como gosto da segurança e do conhecido, dei por mim a ouvir aquelas palavras como as mais acertadas que já ouvira. Desde aí, fiquei a desejar ser suficientemente corajoso (ou irremediavelmente irresponsável) para, sem pensar duas vezes, me desfazer de tudo o que tenho, juntar esse dinheiro, meter-me num avião e ir para a Austrália.
Porque há momentos em que sinto que somente uma atitude tão radical me traria a mudança, que tanto quero, para a minha vida...

Friday, January 15, 2010

Mr. Rock & Roll :

So-called Mr Rock & Roll,
Is dancing on his own again,
Talking on his phone again,
To someone who tells him that his balance is low.
He’s got nowhere to go, he’s on his own again.

Rock Chick of the century,
Is acting like she used to be,
Dancing like there’s no-one there.
Before she never seemed to care,
Now she wouldn’t dare.
It’s so Rock & Roll to be alone.

And they’ll meet one day far away,
And say, ‘I wish I was something more.’
And they’ll meet one day far away,
And say, ‘I wish I knew you, I wish I knew you before.’

Mrs Black & White she’s never seen a shade of grey,
Always something on her mind,
Every single day.
But now she’s lost her way,
And where does she go from here?

Mr. Multicultural sees all that one can see,
He’s living proof of someone very different to me.
But now he wants to be free,
Free so he can see.

And they’ll meet one day far away,
And say, ‘I wish I was something more.’
And they’ll meet one day far away,
And say, ‘I wish I knew you, I wish I knew you before.’

He’ll say, ‘I wish I knew you
I wish I met you when time was still on my side.’
She’ll say, ‘I wish I knew you
I wish I loved you before I was his bride.’

And so they must depart,
Two many more broken hearts.
But I’ve seen that all before,
In T.V, books, and film and more.
And there’s a happy ending,
Every single day.

And they’ll meet one day far away,
And say, ‘I wish I was something more.’
And they’ll meet one day far away
And say, ‘I wish I knew you, I wish I knew you before


Amy Macdonald

Thursday, January 07, 2010

Stronger

I'll make it through the rainy days
I'll be the one who stands here longer than the rest
When my landscape changes, re-arranges
I'll be stronger than I've ever been
No more stillness, more sunlight
Everything's gonna be all right

I know that there's gonna be a change
Better find your way out of your fear
If you wanna come with me
Then that's the way it's gotta be

I'm all alone
And finally I'm getting stronger
You'll come to see
Just what I can be
I'm getting stronger

Sometimes I feel so down and out
Like emotion that's been captured in a maze
I had my ups and downs
Trials and tribulations
I overcome it day by day
Feeling good and almost powerful
A new me, that's what I'm looking for

I know that there's gonna be a change
Better find your way out of your fear
If you wanna come with me
Then that's the way it's gotta be

I'm all alone
And finally I'm getting stronger
You'll come to see
Just what I can be
I'm getting stronger

I didn't know what I had to do
I just knew I was alone
People around me but they didn't care
So I searched into my soul
I'm not the type of girl that will let them see her cry
It's not my style
I get by
See I'm gonna do this for me

I'm all alone
And finally I'm getting stronger
You'll come to see
Just what I can be
I'm getting stronger

I'm all alone
And finally I'm getting stronger
You'll come to see
Just what I can be
I'm getting stronger


Sugababes

Tuesday, January 05, 2010

Lisboa, 04 de Janeiro de 2010

Olá Shane

Conforme te prometi, aqui estou para te manter a par. Estive lá hoje. Fui procurar respostas ás questões que me voam na cabeça, e na verdade não sei bem o que encontrei. Nunca vi uma confusão como aquela. Estava tudo desarrumado, fora do sítio...moveis tombados, papeis espalhados por todo o lado, livros pelo chão.
Se não soubesse melhor, diria que alguém lá tinha estado antes de mim. Mas este é um filme que já vi. Vasculhei um pouco no meio daquele caos, tentando encontrar não sei bem o quê. Mesmo sabendo que o melhor é não ter ideias pré-concebidas, para não me induzir em erro e não procurar nos sítios errados, acabo sempre por criar alguma espécie de expectativa sobre o que irei encontrar.
Como te disse, a confusão que ali reina é enorme e diria que é quase impossível encontrar qualquer sinal, qualquer coisa que me dê uma pista, uma explicação para os acontecimentos que têm ocorrido. Não preciso de te voltar a falar nisso, pois já te contei o que aconteceu.
Não é suposto entendermos tudo o que acontece à nossa volta, mas a mim, que faço sempre questão de perceber como as coisas funcionam, é-me muito dificil simplesmente aceitá-las tal e qual como me são "dadas" sem tentar compreender o seu funcionamento, a sua razão de ser. E foi na esperança de encontrar essa luz que lá fui.
Na verdade se, na ausência de todos os factos, eu me sinto confundido, talvez até um bocadinho perdido, a completa desordem e desorganização sem sentido com que me deparei só poder ser mais desnorteante.
É como se entrasse numa floresta coberta por uma bruma densa, onde a luz do sol não chega, e tentasse manter-me num caminho praticamente invísivel. Se juntares a este cenário, uma enorme miopia mental, poderás ficar com um vislumbre do que senti. Como uma toupeira fora da familiaridade da sua toca.
Não sei porque pensei que lá iria encontrar alguma resposta ou mesmo uma minúscula ponta de novelo que pudesse desenrolar, mas senti esse apelo, de lá ir.
Não estou nem um pouco mais esclarecido, o que só me leva a pensar que talvez a melhor opção seja mesmo aceitar pura e simplesmente as coisas como elas são, sem tentar compreendê-las (pelo menos desta vez) para não desgastar inutilmente a pouca massa cinzenta com que fui brindado. Talvez o nosso cérebro não mereça o desgaste de tentar descodificar um mistério sem solução.
Repetidamente me têm ocorrido as seguintes palavras: "...and 'though the warrior shall be brave at all times in defending is honour and standing up for his dearest ones and the weakest, he must also be wise on understanding that maybe, just maybe, not all battles are meant to be fought...".
Continuarei a manter-te ao corrente dos acontecimentos.

Do teu amigo,

W