Saturday, December 29, 2007

Paragem Forçada

Má sorte...ou falta de jeito...
Esta manhã, entrei no mar confiante. As ondas estavam com 1m, uma boa formação e tudo parecia tranquilo. Ainda consegui apanhar 3 ondas. Sentia-se que a ondulação, apesar não ser muito alta, estava muito forte. As ondas arremessavam-nos com facilidade para trás e para a frente. Mas nada que assustasse. Já vi aquele mar bastante mais revolto.
Fiz-me à água, mas as ondas não estavam fáceis. Além de fortes, eram incertas no quebrar. Tão depressa rebentavam no outside como a seguir vinham rebentar na areia. Mas vinham com um «swell» fantástico, convidando a uma boa surfada. Quase viciante. Fazia-me a elas com cuidado, pois não queria que nenhuma me quebrasse nas costas, dada a mudança constante dos «spots». Evitava apanhá-las se visse que estavam prestes a quebrar.
A ultima....traiu-me. Sentado na prancha vi-a formar-se, perfeita, com um crescimento progressivo. Teria talvez 80cm ou 90cm. Era minha. Fui remando, acompanhando o seu crescendo e posicionando-me mesmo à frente do pico que se ia formar. Senti-a levantar, remei para me manter na sua frente e fiz o «take-off». Estava de pé, em cima da prancha, montando a onda quando a senti levantar a crista repentinamente, erguendo-me o «tail». A prancha embicou subitamente, espetando o «nose» na areia e, de imediato, fez-me saltar no ar, virou as quilhas de lado e nesse instante previ o futuro...soube que me ia magoar.
Senti a prancha completamente apoiada no fundo, com as quilhas em riste apontadas a mim. A quilha esquerda ficou directamente apontada à minha coxa, furando-me o fato e cravando-se na carne até tocar no osso. Levantei-me sentindo uma dor no musculo, nada de especial. Mas quando olhei, vi o rasgão no fato e o sangue que derramava. Limpei a ferida com água do mar e vislumbrei o que me pareceu ser o musculo a estravazar pelo buraquinho de 3cm. Não me doia, mas assustou-me. Só consegui pensar no que estaria por debaixo do fato.
Subi a praia com a prancha debaixo do braço, a custo porque me doia a perna. Ao chegar ao paredão, despi o fato e passei-me por água limpa. A ferida tinha mau aspecto. O corte parecia profundo, tinha uma qualquer matéria a debruçar-se e toda a zona circundante apresentava um hematoma. Coloquei uma gaze (pouco esterilizada pareceu-me) sobre a ferida e outra a enrolar-me a perna. Vesti-me, carreguei as coisas para o carro e fiz-me ao caminho. Não me custou tanto quanto pensei, excepto o ultimo bocado da viagem, já na avenida do Hospital, com a ferida a latejar. Pior...não havia lugares perto, tive que estacionar e fazer 100m a pé.
Depois de examinada, o médico descansou-me. Um pequeno corte de 3cm, que seria suturado com 4 pontos e bem desinfectado, uma vacina contra o tétano e 2 a 3 dias em repouso para não sobrecarregar o musculo. E quando poderia voltar ao surf? Não pense nisso nas próximas 2 a 3 semanas. E a salsa? Idem aspas! Aliás, esqueça qualquer esforço nessa perna nas próximas 3 semanas.
Sai contrafeito...conformado, nada a fazer. Além disso, o musculo arrefeceu e agora tudo me custa. Andar, estar sentado, deitado...quanto mais pensar em subir a uma prancha ou dar uns passinhos de dança. Na melhor das hipoteses, com cuidado, posso ir até à praia ou à salsa mas só para ficar a ver.
Enfim, podia ter sido pior. Próximo ao corte passa a artéria femural...se acertasse nela, seria mais complicado. Podia ter sido na zona abdominal...bastante pior, melhor é nem pensar nisso.
O mar ensinou-me....

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