Sunday, August 26, 2007

Uma história

William era um bom rapaz. Tranquilo e calmo, esforçava-se sempre pelo bem-estar dos outros. Já o conheço há uns bons anos e sempre o chateei por se preocupar mais com os outros do que consigo próprio. Inúmeras vezes o vi engolir sapos só para evitar chatear-se com alguém.
Uma das coisas que mais tive dificuldade em compreender nele, era o hábito constante de procurar justificações e motivos para o que os outros faziam ou diziam, e que o incomodavam, tentando sempre relativizar e minimizar a gravidade desses actos ou palavras.
Reconheço nele uma infindável capacidade de sacríficio para que as coisas dêem certo. É capaz de tudo quando acredita numa coisa. Ia até ao fim do mundo, se fosse preciso, pelos seus ideais.
Um dia apaixonou-se...por uma editora de moda. Letícia era bem mais nova do que ele. Tinha terminado o curso e estava no seu primeiro ano de trabalho, ansiosa por iniciar a sua carreira e começar a atingir os seus objectivos de vida. O primeiro deles era comprar a sua própria casa, um espaço que pudesse ser só seu, onde se refugiaria da turbulência da metrópole e da vida. Apesar de viver numa casa grande, com espaço para todos, sentia-se encurralada pelas solicitações familiares. Letícia era muito ciosa do seu espaço e da sua privacidade e sentia o seu mundo muito limitado pelas exigências dos outros. Era uma pessoa dedicada, entregando-se de corpo e alma às causas em que acreditava. Muitas vezes, contra ventos e marés, sem o apoio de ninguém, embrenhou-se em lutas que todos davam por perdidas, vencendo-as graças à sua determinação.
Começaram a namorar numa noite de verão, depois de William ter feito um cerco incansável durante toda a festa. Letícia quis apaixonar-se por William e foi assim que tudo começou. Não foi uma história de principes e princesas, nem o conto de fadas com que todos sonhamos, envolto em magia e fantasia, mas Letícia quis apaixonar-se.
William queria que o sonho se desenrolasse passo a passo, tranquilamente. Letícia esperava o sentimento arrebatador que a convencesse que ele era o tal. William queria viver o sonho. Letícia queria sonhar a vida. William acreditava. Letícia queria acreditar. William trazia um sonho no olhar. Letícia não foi capaz de vivê-lo.
A vida não é um sonho, e como realidade que é implica que alcançarmos os nossos objectivos nos obrigue a tomar decisões e a fazer escolhas entre o que queremos e o que não podemos ter. E nem sempre estamos dispostos a abdicar de umas coisas para termos outras. Tudo é relativo...tudo é mais ou menos importante consoante o momento. O que hoje é essencial amanhã não é, e vice-versa. O que hoje é prioritário, amanhã é acessório.
William continua a acreditar no seu sonho...Letícia continua a procurar o seu ideal.

1 comment:

Paula Raposo said...

Bom texto! Como sempre, aliás. Beijos.