Monday, August 13, 2007

O Paciente Português - Dia 0

Mesmo aqui, dentro da tenda, sopra uma brisa quente...dizem os beduínos que o chá quente ajuda a suportar o calor, e crendo nisso vou sorvendo a infusão de hortelã que me deram.
Sentado à porta, olho o deserto deitado à minha frente que ainda ferve coberto pelo sol vermelho pousado sobre a linha do horizonte. Os milhões de grãos de areia já bocejam, preparando-se para dormir e eu, dormente com os 49ºC que ainda se fazem sentir debaixo da lona cor de laranja, traço a rota que me levará até Njhouir. Os camelos já estão alimentados, os alforges arrumados e os meus companheiros de viagem estão de volta do fogo a cozinhar uma espécie de pão que irá acompanhar o carneiro guisado. Para acompanhar o jantar, nada mais...por aqui não há o costume de acompanhar a carne com arroz ou batata (até porque por aqui não se cultivam esses legumes).
O sol entretanto já se cansou de esperar, e seguiu para casa. A lua aproveitou, tomou o seu lugar e sobe agora numa coberta pontilhada de brilhantes, como focos que iluminam as bermas de uma estrada.
A refeição está pronta, e comer com os tuaregues sempre me transmitiu uma enorme sensação de segurança e sentido de partilha. Aqui não há individuos...apenas um conjunto uniforme de corpos que sustentam uma pequena sociedade. O que é de um é de todos, e todos trabalham para um fim único: viver no deserto.
Nesta floresta estéril, o guisado de borrego é uma iguaria. Nos dias que se seguem iremos comer apenas pão, água e tâmaras que antes da partida foram secas ao sol para que se conservem. De qualquer maneira, não precisamos de mais nada.
Após a refeição, mantemo-nos à volta da fogueira que agora se justifica pela baixa temperatura que a noite trás. E á volta dela, contam-se aventuras, viagens e pessoas que cada um viveu, ensinando-nos uns aos outros.
É hora de descansar...amanhã temos um bom caminho a percorrer.

1 comment:

Sofia said...

hummmm parece-me que tb tu tiveste uma grande aventura!

;)