Thursday, September 02, 2010

Imagina

Imagina uma casa...grande, com sala, cozinha e quartos...vários quartos. Imagina um terreno à volta dessa casa...grande, relvado, com uma árvore e flores...imagina uma cerca...branca, de madeira, a toda a volta...imagina um passeio....de cimento, depois dessa cerca...imagina uma estrada...de alcatrão, a seguir a esse passeio...tudo isto é a minha vida.
Há carros que passam na estrada,sem parar...uns mais devagar, outros tão depressa que nem os distingo. Alguns desses carros param defronte à casa e os seus condutores pedem-me para estacionar no passeio, pois não vão demorar. E eu deixo.
Pessoas passam a pé, junto à cerca. Eu saio de casa, atravesso o quintal e converso com elas. Das dúzias e dúzias de pessoas que aqui passam todos os dias, convido poucas a passar o portão e a ficar pelo quintal. Podem gozar do meu relvado, apreciar e cheirar as flores do meu jardim, descansar na sombra da minha árvore.
Muito poucas, muito poucas mesmo, são as que convido a entrar em minha casa...e pelos dedos de uma mão se contam as que convido a lá ficar.
Um dia, estava a janela, e vi uma menina no passeio. Tinha um ar triste e cansado, os pés descalços sujos de virem de rojo pelo chão.
Saí de casa, atravessei o quintal e cheguei-me à cerca...perguntei-lhe o que tinha..."Estou triste, só e cansada" - respondeu-me.
Abri-lhe o pequeno portão da cerca, estendi-lhe a mão e convidei-a a entrar. Limpei-a, escovei-lhe os cabelos e massajei-lhe os pés feridos. Vesti-a, dei-lhe de comer e de beber. Conversei com ela, ouvi-a, escutei-a. Levei-a para o andar de cima, a um dos quartos, com a cama grande e as almofadas fofas. Ofereci-lhe um pijama e providenciei para que nada lhe faltasse.
Quando se deitou, disse-lhe: "És bem-vinda, podes ficar o tempo que quiseres. Se precisares de alguma coisa, estás à vontade para te servir...se não encontrares, apenas tens que pedir...aqui, nada te faltará". Não esboçou qualquer expressão, apenas um olhar incrédulo. Encostei a porta e deixei-a no quarto mais confortável da casa...o meu. Desci as escadas e fui para a sala, sentei-me no sofá e deixei-me divagar com os meus pensamentos...e ali adormeci.
De manhã, acordei com o sol a incidir em cheio na minha cara...esfreguei os olhos, espreguicei-me e estiquei-me todo. Quando levantei o tronco e olhei à minha volta, não quis acreditar no que estava a ver...

(continua)

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