Monday, September 27, 2010

Uma história... (cont. 2)

Esse espinho doloroso, camuflado no seu íntimo, soterrado e escondido sob uma pilha de outras recordações bem mais felizes e suportáveis, fazia sentir a sua ponta aguçada sempre que Nahn tentava analisar-se a si ou a uma qualquer situação da sua vida. Não admitindo a dor lancinante que isto lhe provocava, constantemente se desculpava com o cansaço que fisicamente a deixava de rastos e que mentalmente a impedia de pensar sequer em coisas muito mais simples. Aceitar este espinho era reconhecer uma fraqueza e isso Nahn não podia admitir...afinal era especial, não podia ter pontos fracos. Como se cada um de nós não tivesse os seus...
E era por tudo isto que se recusava a resolver o que tivesse para resolver, enterrando sempre a cabeça na areia e esperando que as coisas passassem ou se resolvessem por si. Por muito que tenha visto que esta atitude apenas levava a que as situações assumam proporções bastante maiores, mais graves e mais sensiveis de se resolver, nunca aprendeu esta lição.
Outra justificação habitual era a vontade de proteger os outros, de não os querer magoar mas, bem vistas as coisas, o maior medo de Nahn era sair ela mesma magoada. Preferia mentir, omitir ou disfarçar a realidade do que confrontar-se com a verdade nua e crua. A menina que em tempos corria inocente pelos campos, acabou por trazer uma série de dissabores a quase todos os que se tentaram aproximar dela.
Outra faceta da sua personalidade era constantemente auto-convencer-se do seu altruísmo. Nahn caracterizava-se como uma pessoa exocêntrica, sempre preocupada (e em primeiro lugar) com o bem estar dos outros. Fazia, segundo os seus ideais, tudo por tudo não só para que os outros estivessem bem mas também para lhes evitar qualquer tipo de sofrimento. Sobretudo, o tipo de sofrimento que ela própria queria a todo o custo evitar a si mesma. Mas na realidade, esta intenção benemérita era incompatível com uma outra característica.

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