Fiapos de luz esbatida que se revela nua na tua alma, a maciez de um mel vertido em lágrima numa porção de vinho.
Aquece-me a chama lenta de um côto de vela dançando no meu olhar, vislumbrando numa parede um manto branco a coberto da noite.
Aqui, deitado, de olhos postos no céu, ergo-me dos lençois que me embalam, transformando-se em tecidos mágicos que me embrulham e, assim levitando, vou seguindo no meio das estrelas tocando-as uma a uma com a ponta dos dedos. Acredito poder tomar-lhes um pouco do brilho e do calor. Acredito conseguir roubar-lhes um pouco do aroma doce que transpiram e perfumar-me com ele.
E então, banho-me nesse lago prata de luz gelada que incendeia o breu e inspira os corações mais meigos, despertando-lhes instintos selvagens. Purificar a alma e o ser, libertar o espírito e a mente e descansar o corpo. Sem pedir demais, os mágicos tecidos que me embrulham tornam-se agora majestosas vestes simples, de gosto cuidado e discreto, envolvendo-me a pele num abraço de cetim, separando-me do ar que me circunda.
É uma gota que me escorre, limpando-me a face e matando-me a sede ao tocar-me nos lábios. Sinto-lhe o gosto salgado do mar de onde veio e o tom amargo do sedimento que transporta no seu seio. Vem carregada de lembranças e recordações. E uma outra escorre, descendo pela outra face, com sabor salgado a desejos e sonhos.
Desperto...não saí daqui sem sequer cá ter estado.
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7 comments:
Comentário dois-em-um: tu escreves muito bem, miúdo! :)
'Não saí daqui sem sequer cá ter estado'. É isso mesmo. Beijos.
Que texto tão lindo!
Gostei mesmo muito.
Obrigada por me visitar tantas vezes!
Um abraço,
Daniela
Assim se viajano pensamento, no tempo, nos sentimentos...
Lindo.
Beijinhos
«Desperto...não saí daqui sem sequer cá ter estado.»
Final belísismo, condizente com o restante texto.
lindo.
envolvente.
translucido.
gostei muito
parabens!!!!
beijo
Beijinho
Não tenho tido tempo para visitar os blogs, mas voltarei com força...
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