Saturday, October 02, 2010

Uma história... (cont. 7)

Basahtr era uma pessoa tão ausente quando se encontrava no estrangeiro como quando estava em casa. Não sabia o que era sentir o calor de uma paixão, o frio gélido de uma recusa ou o ardor acutilante da raiva. Passava pela alegria imensa de atingir um objectivo na vida com a mesma indiferença com que ficava sem ver o seu melhor amigo durante os meses em que estava fora. Para ele, os sentimentos eram como uma cultura desconhecida de um povo perdido no meio de uma selva inexplorada num qualquer lugar remoto e distante. Não sabia sequer da sua existência e, mesmo que lhe falassem deles, isso não despertava qualquer interesse na sua mente intelectual. Para ele, esse tema era tão interessante como um grão de areia no meio do deserto.
Havia somente duas coisas que Basahtr prezava na vida...os infindáveis estudos, batalhando por alcançar sempre mais um grau, e os encontros ocasionais com os amigos, recheados de insipiência e futilidades inuteis, sempre envoltos na espessa neblina libertada pelos incontáveis charros que fumavam. Nahn, que não partilhava nenhum destes interesses, ficava sempre à margem, excluindo-se a si mesma destes momentos com que não tinha qualquer afinidade.
Mesmo em outras ocasiões, que não envolviam ervas mágicas ou os seus amigos, a presença de Nahn era completamente inócua para Basahtr que, além desses dois interesses (o estudo e os encontros alienantes com os amigos), não nutria quaisquer outras motivações por mais nada na vida. Esses eram os dois pilares da sua vida e Nahn era apenas uma figurante que o acaso tinha colocado na sua peça de teatro.
Nahn não era alheia à sua irrelevância na vida de Basahtr...tinha consciência de ser apenas uma letra nos livros de Basahtr. Apenas isso não a incomodava, porque lhe permitia levar a sua vida sem ter que dar satisfações a ninguém.

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