Friday, October 01, 2010

Uma história... (cont. 6)

Basahtr era um estudante, com uma inteligência acima da média e que desde cedo decidiu aplicar as suas capacidades na investigação catedrática. Era um rapaz sossegado que, apesar de se destacar nos estudos, em tudo o mais diluia-se anónimamente na amálgama de gente dos meios por onde se movimentava. Era bem possível, quase provável mesmo, que passasse uma noite inteira no mesmo sitio sem que ninguém, excepto os seus amigos, desse por ele. Tinha uma personalidade morna, sem chama e sem paixões, e dedicou-se aos livros, aos manuais e ás sebentas por uma convicção racional e intelectual completamente desprovida de emoção.
E talvez tenha sido esta amenidade e falta de temperamento que captou a atenção de Nahn. Depois de uma relação tão tempestuosa, com afectos levados ao extremo do ciúme obsessivo, o que precisava era de alguém que nada lhe exigisse. De facto, a sua relação com Basahtr era extremamente libertadora. Na sua inaptidão emocional, Basahtr não proporcionava carinho, amor ou dedicação, mas também não o exigia de Nahn. O total desprendimento com que ambos conviviam, permitia que levassem uma vida sem compromissos, obrigações ou responsabilidades um para com o outro, o que era extremamente conveniente para Nahn já que, assim, apenas teria que dar o que lhe apetecesse, quando lhe apetecesse. Se o desenrolar do dia induzisse a que estivessem juntos, porque de sua iniciativa pouco se esforçavam para que tal acontecesse, estariam juntos. Se assim não fosse, nenhum sentiria a falta do outro.
O tempo foi passando, e a relação lá se foi mantendo convenientemente estável. Devido à sua actividade académica, o trabalho de investigação levava a que Basahtr tivesse que se deslocar frequentemente para o estrangeiro, onde passava longas temporadas. Nesses compassos de tempo, em que Nahn ficava no país natal, ia-se dedicando a estar com os amigos, ao seu próprio trabalho e à sua familia. Na realidade, pouco mudava na sua rotina com a ausência de Basahtr, e nos primeiros tempos estas temporadas a sós reforçavam o sentimento de liberdade que Nahn tanto começara a valorizar depois da relação com Nethiel.
No entanto, inesperada e subtilmente, pouco a pouco Nahn foi começando a ter um sentimento estranho...no meio desta relação, que tão ciosamente foi sido mantida liberal, algo começou a causar-lhe desconforto. Não sabia muito bem o que era, nem conseguia sequer descrever esse sentimento...e tão pouco identificar o que o estava a causar. Tendo o que queria e como queria, sentia-se inquieta...algo lhe estava a trazer alguma tristeza e não sabia explicar o que era.

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