Saturday, October 01, 2005

Monólogo a dois

Ainda bem que estás aí. Estava mesmo a precisar de falar, e ninguém melhor que tu para me entender. Desabafar algumas coisas em que tenho andado a matutar e que nunca mais consigo deslindar.
Sabes, o principal problema é que as pessoas falam por enigmas (aliás até eu já estou a apanhar essa mania). Parece que temos medo de dizer claramente o que queremos, o que sentimos, o que somos. E à conta disso tenho dito e feito coisas que até a mim me custam entender. Eu sempre tentei levar a vida da maneira mais simples e prática possível. Sempre fui muito pão pão, queijo queijo. E ultimamente vejo-me envolvido em jogos de palavras e ideias, em mímicas de atitudes e comportamentos, que se tornam cada vez mais difíceis de compreender. Ao fim de algum tempo isto torna-se fisica e mentalmente desgastante. Estamos constantemente a pensar no jogo ou teatro que vamos representar amanhã.
No outro dia, uma amiga dizia-me que estes jogos fazem parte, tornam a coisa interessante...não me recordo se ela o chegou a dizer, ou se fui eu que o pensei, que chegam a assemelhar-se aos preliminares da relação sexual. Mas o que é suposto é que as partes envolvidas participem do jogo não é? Diz-me, tu consegues entender todas as minhas "manobras"? Entendes os jogos que faço com as palavras? Ou, como eu, também te baralhas às vezes? Pois, também me pareceu...
Sabes, muitas, tantas vezes quero a tua companhia e sou incapaz de to dizer...e tu também não dizes nada, encontramo-nos assim por acaso, como hoje. Não gostavas de estar comigo mais vezes? Então porque não o dizes claramente? Estás a ficar como eu. Ou eu como tu. Pomo-nos com jogos de palavras e esperamos que o outro leia nas entrelinhas. Não te critico. Eu faço o mesmo. Acho que contigo e, ultimamente, com toda a gente. Mas contigo não devia ter necessidade de o fazer. Logo contigo, que me conheces tão bem. Devia falar-te abertamente, dizer-te as coisas em português claro e não andar com rodeios. Com tanta volta ainda fico tonto. Fico eu e ficas tu. Ficamos os dois. Andamos nisto há tempos e nunca mais saímos do mesmo sitio. É um ciclo vicioso. Jogas tu, jogo eu. E falo por mim, quando digo que me sinto compelido a fazer determinadas coisas, uma vez que não conseguimos falar abertamente...Pois bem, tenho vontade de mudar as coisas...que me dizes? Vamos tomar um café, almoçar, qualquer coisa? E durante esse tempo falamos abertamente um com o outro...e só diremos a verdade...de forma clara e objectiva. Que te parece?

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