Friday, February 10, 2006

Busílis Basilar

Vivo vidas que não são minhas, em mundos a que não pertenço. Choro lágrimas aquecidas por este fogo, alimentado pelo vento que sopra sobre a terra, aguardando a chegada de um quinto elemento.
Caminhando ansiosamente no limbo entre a realidade e o sonho, agradável forma de preencher as lacunas do meu mundo com histórias imaginárias, seres de ficção e relações solidárias, tristezas reais e companhias solitárias.
Lado a lado, acompanham-me almas que padecem e se compadecem com a minha natureza inintelígivel para os inexperientes desta caminhada, que sós ou relacionadas se sentem tão incompletas como eu. Descrentes e desacreditadas, acreditamo-nos umas às outras numa fé fatal, fatídica e fadada de que o nosso fado não é este, mas caminho fundamental.
Sinto-me cansado das longitudes que já toquei e das latitudes em que andei, vinte e quatro vezes trezentos e sessenta e cinco menos hoje. Estou extenuado pelas securas, agruras e amarguras que me castigaram e fustigaram a couraça que enverguei, de todas as vezes em que caí e depois me levantei, empurrado e esmagado neste caos sem ordem nem lei, desta estátua ambulante que não era e me tornei.
Gostaria de me sentar, pegar numa escova e pentear as ideias, que ficassem alinhadas como as avenidas de uma cidade moderna, organizadas e orientadas a sul, para que apanhassem o sol de nascente a poente, deitadas à brisa dormente de um final de tarde de verão, com cheiro a mar e limonada fresca, depois de um banho perfumado a caminho de uma festa, com roupa lavada e o cabelo cortado.

7 comments:

Maria Carvalho said...

É. Um final de tarde de Verão, dormente...Beijos, bom fim de semana para ti. Não queiras alinhar, prefere o desalinhado...

Anonymous said...

Tens realmente uma veia muito poética...

Este teu texto é para ler com calma. Mais tarde.

Anonymous said...

Não sejas tão exigente contigo, com os outros e com o mundo. Tenta viver o hoje dum modo menos complicado. Nunca permitas que a estátua ambulante que NÃO ÉS, NUNCA FOSTE E NUNCA SERÁS, se venha a transformar em gelo. Queria tanto poder entrar na tua caixa de segredos, apenas por um só minuto,para saber porque tanta angústia, tanta desilusão, tanto sofrimento e sobretudo tanto receio por estares só. A companhia por que tanto anseias chegará sem dares por isso. Tenta deitar tudo para fora, partilha, fala nos assuntos e sentir-te-ás mais aliviado. Com todo o meu amor

Salseira said...

Uma estátua, mesmo se ambulante, não pensa nem é criativa... Tu pensas, és criativo e escreves o que te vai na alma!

As palavras da tua Mãe são sábias...

Lembra-te de um pormenor que, para mim, é importante: "a dor não é inevitável, o sofrimento é!" Por vezes complicamos demasiadamente a vida e amarguramo-nos sem razão. E vamos-nos enredando nesse sofrimento.

Queres outro bom conselho que eu "peguei emprestado" de uma amifa comum? Está na altura de pensares num croissant! :)

Maria Carvalho said...

Olha, Walter, enquanto eu saboreio a caipirinha com o aroma da tua limonada, que tal pensares nos que te amam? Mais uma vez, não resisto, a tua Mãe deve ser uma pessoa fora do comum. Palavra. Deixa que ela entre em ti...tudo será mais fácil. De certeza. Até lá, a caipirinha, ali na marina, espera por ti!! Beijinhos.

Nina said...

Gostei de te ler :)

Beijinhosss

Salseira said...

A frase que escrevi estava mal. A correcta é:

"A dor é inevitável. O sofrimento não."