Tuesday, May 02, 2006

Equador

Seria uma sorte a chuva que agora caísse, surgida num repente, caída em bátega, corrida numa enxurrada. Dois felinos pretos vagueando, o pêlo pingando, escorrendo, seus focinhos esconjurando pragas e ofensas. No rugido espressam o sentimento e a vontade da alma sob as garras arranhada e agraciada.
Simples, não é? A simplicidade animal na irracionalidade instintiva de responder momentâneamente aos apelos mais obscuros da humana natureza, esquecendo milhares de anos de evolução intelectual e social, dando total liberdade a que o corpo reaja como bem lhe apetecer e soltando as palavras do marasmo cercado a que se obrigam por força da chamada educação.
E neste calor húmido, suado, abafado, a dificuldade em respirar um ar tão pobre em oxigénio, vítima da temperatura e da ínfima réstia de amena brisa acariciada por um mar distante.
Simples, não é? Nem tanto assim. Fosse nossa a vontade, de um vento soprado com a veleidade de inibir grilhetas morais e permitir leviandades e levezas de consciência que nos deixassem ter comportamentos, que se entendem reprováveis, sem o peso esmagador do remorso, da culpa, do respeito.
Simples, não é?

1 comment:

Maria Carvalho said...

Muito simples...Um belo texto, Walter!! Beijinhos.