Tuesday, August 23, 2005

Escrever?

Cada vez se torna mais dificil transcrever para o papel as expressões da alma.
O silencio ensurdece-me com o seu grito pavoroso, e uma névoa densa ilumina-me a lucidez. Sinto uma felicidade triste, acentuada pela tua presença constantemente ausente, e o raciocinio torna-se ilógico toldado pelas emoções. Faço disparates atrás de disparates convicto de estar a fazer o melhor. Numa tentativa vã de compreender com maior nitidez, fecho os olhos e desligo-me do mundo. De diversas formas, junto os pormenores...um par de olhos amendoados inocentemente infantis, um nariz esculpido, uma boca desenhada. Recordo esse rosto numa lembrança longinqua de um momento. E, contudo, agora sou incapaz de o ver...por isso imagino-o, atribuindo-lhe detalhes que julgo verdadeiros.
Resta-me apenas uma voz grave para quem é, a pausa que faz no cumprimento demonstrando insegurança na hesitação. E lembro-me do sorriso inocente, do brilho nos olhos, das mãos perfeitas e do andar determinado.
Sinto de novo aquela cumplicidade, clara nos olhares, aquele sentimento de pertença mútua e a reciprocidade correspondida.
Em tão pouco tempo, acumulámos anos de vida, repartimos experiências.
Olhaste-me no intimo e eu deixei, eu quis. Conquistaste-me com a tua inocência, com a tua pureza...Num instante, encarnaste os meus ideais, os meus desejos, os meus sonhos. Senti o que sentiste e gostei, mesmo que esteja enganado, e desde então nada mais me importou.
Tu completas-me.

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