Sopra aquele vento fresco de final de Verão. As ruas estão desertas, despidas de gente. Aqui e ali rolam jornais velhos, folhas secas e poeira. Caem as primeiras chuvas, enlameando as estradas e passeios e desbotando a tinta das casas.
Não me preocupa que me molhem. Não quero saber, não estou preocupado com isso. Continuo de porta em porta, espreitando pelas fechaduras, pelas janelas e pelas frestas das paredes. Pulo cercas, deambulando pelo meio dos quintais, incógnito, aspirando o fumo das chaminés como que procurando um odor diferente. Como cão de caça, vou farejando cantos e recantos, becos e vielas, passeios e sarjetas. Aqui e ali perco o rasto e só alguns metros à frente o consigo retomar.
Confundem-se os odores da cidade com os perfumes das pessoas e o roncar dos carros e das fábricas com os murmúrios e lamentos dos poucos transeuntes que ainda vagueiam por aqui, arrastando-se pelas avenidas cinzentas e nebulosas da insalubre metrópole. O movimento entorpecido das pernas faz arrastar o corpo num deslizar melancólico e triste, disfarçado pela bruma envolvente que abraça os ossos chocalhantes como um saco de berlindes.
E, no entanto, sigo compulsivamente, determinado e decidido no encalço dessa misteriosa essência etérea de aromas doces e tímidos, que se esconde por detrás de uma frágil valentia, que se dissipa com um sopro de vida.
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5 comments:
Belo texto! Parabéns!
A busca que dum modo ou doutro todos fazemos durante o nosso trajecto de vida... Tão belo a maneira como o descreves... :)
Beijinhos
Já leste "O perfume" ? Ias gostar... :)
É bom coleccionar estrelas...quanto aos outros dois textos, no comments. Beijos
Caiê,
Enquanto li o texto dele também me fui lembrando de "O Perfume"!! :)
Bitchoman,
Acho que ias mesmo gostar desse livro!
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